É natural do desenvolvimento de uma criança correr, brincar e levar alguns tombos durante sua infância, correto? Mas o que acontece quando uma delas não pode fazer nada disso por ter uma condição rara no sangue?
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Assim foi a infância de William Aleixo Oliveira. Natural de Caraguatatuba, o pequeno Wil descobriu aos três meses de idade que tinha hemofilia A grave, um tipo de patologia que dificulta a coagulação no sangue e causa muitos hematomas e sangramentos.
Por sua condição, William não podia brincar e isso gerava uma frustração imensa nele. “A escola foi muito complicada. Eu sempre tive uma energia a mais e queria correr. Chegava nas aulas de Educação Física e eu era restringido a jogar xadrez, bolinha de pingue-pongue e tabuleiro de resta um”, lembra.
Apesar dos cuidados, os médicos recomendaram para a família de William a natação. O esporte é muito indicado aos hemofílicos por não ter impacto e ajudar a fortalecer os músculos. Ele praticou a natação entre os 04 e 07 anos, mas parou por causa de uma rinite alérgica.
Aos 29 anos, William retornou às piscinas e como ele mesmo diz foi ‘amor ao primeiro mergulho’. “Eu tinha fortes dores nas pernas, nas articulações (joelho e tornozelo). A médica pediu para eu retornar. Eu comecei o tratamento profilático e depois o esporte para ganhar força muscular. Foi amor à primeira vista”, diz ele.
Juntando o tratamento profilático (uso regular de coagulantes), academia e natação, William teve uma melhora no condicionamento físico, no equilíbrio e na força e foi convidado a participar de um intermunicipal na cidade.
A partir dali sua vida mudou. Há quatro anos ele é paratleta de natação e bicampeão na categoria funcional S9. Acompanhado do treinador Thiago Augusto Intrieri, de 34 anos, William tem uma agenda regrada de treinos.
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“Fazemos um trabalho de acompanhamento na musculação, na piscina usamos o feedback dele para as atividades, não forçamos demais. Tenho os tempos dele aqui e sei o que ele é capaz de fazer, quando está com dor fazemos um treino mais curto”, comenta Thiago.
William também mantém acompanhamento com fisioterapeuta e alimentação com quantidades certas do que precisa comer antes e após os treinos.
A vida fora d'água
Desde a chegada da medicação de uso domiciliar para tratamento profilático, os hemofílicos começaram a praticar mais atividade física e isso deu uma participação mais ativa em suas vidas. Que o diga William que além da natação já praticou paratriatlon, handbike, corrida de rua, stand up sup race e canoagem.
Sua mais nova aventura é o rollerski . Também conhecido como esqui de rua, o rollerski é uma modalidade adaptada para a prática do esqui no asfalto. Treinando desde fevereiro, William participa de provas na categoria sitting (cadeira de rodas) e mesmo com pouco tempo já recebe elogios.
“Pelo pouco tempo de treino e por iniciar uma modalidade completamente diferente, posso considerar bom, satisfatório [o desempenho de William]. Está em crescimento”, diz Rodrigo Santos Brandt, técnico de rollerski do paratleta.
E para competir em duas modalidades diferentes é importante um investimento. William recebe Bolsa Atleta no valor de R$ 400 para a prática da natação, mas o valor não é suficiente para todos os seus gastos.
“Ela [Bolsa Atleta] me ajuda na alimentação pré-treino e pós-treino. Porém, tem meses que ou eu compro a suplementação ou eu melhoro a alimentação, tenho que escolher”, revela.
Além do benefício do Governo, ele recebe um auxílio da prefeitura de Caraguatatuba quanto ao transporte para campeonatos. Mediante a apresentação de um requerimento entregue no início do ano, a prefeitura se programa para a liberação da verba.
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“Eu tive que escolher esse ano um circuito de maratona aquática porque existem vários circuitos e pedíamos o apoio da prefeitura, mas eles não conseguem arcar com tudo. Por isso escolhi um de cinco etapas no mar e na piscina que podem dar vagas para outras competições. Se eles se classificam além do programa inicial, nós temos que arcar com o próprio dinheiro”, conta Thiago.
No rollerski, William Aleixo usa os aparelhos que a Confederação Brasileira de Desporto na Neve (CBDN) disponibiliza para os treinos na cidade, mas a ideia é realizar uma vaquinha virtual para a compra de um aparelho próprio. Cada sitting tem o valor médio de R$ 7 mil. “Quero montar um sitting para o meu tamanho certo, ser mais justo e mais firme para virar”, revela.
Para quem já conquistou tanto, William ainda quer mais. Seu maior sonho é participar de uma Paralimpíada. “Os que não sonham assim não amam o esporte, é o maior patamar. O maior nível é ser atleta olímpico, representar sua cidade e seu país”.
Apesar da categoria funcional S9 ser muito competitiva e William estar com 33 anos, o sonho de integrar o Time Brasil não está descartado.
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Com treinos de segunda a quinta, academia, alimentação saudável e muita força de vontade, quem pode duvidar de que o garoto com hemofilia A grave, que percorria 1h40min de Caraguatatuba para Taubaté todas as vezes que se machucava em casa, não pode subir no degrau mais alto de um pódio olímpico?