As ofensas proferidas pelo sueco Ibrahimovic contra o belga Lukaku , no clássico Milan x Inter de Milão pela Copa da Itália, na terça-feira, somam mais um caso de racismo sofrido pelo atacante da Internazionale. Desta vez, misturado com intolerância religiosa, ao tratar de forma desrespeitosa religião de matriz africana.
Durante a partida, vencida pela Inter por 2 a 1, os dois atacantes discutiram e quase trocaram socos. No meio da discussão, Ibra provocou o ex-companheiro de Manchester United com a seguinte frase:
– Vá para o seu vodu de m... vá para o seu vodu de m... seu burro!
Por que o uso da palavra "vodu" por Ibra é visto como ofensa racista? O diretor do Observatório do Racismo no Futebol, Marcelo Carvalho, explica que o racismo também está presente quando se busca algo para atacar a cultura dos negros. Neste caso, há uma demonização da religião de matriz africana. Algo que acontece no Brasil com relação ao candomblé e ubanda, por exemplo.
– É preciso que as pessoas entendam que racismo não é só ofender a cor da pele, não é só insulto ou xingamento. É a associação de que tudo ligado ao negro é negativo, como o funk, a malandragem, como foi com o samba, que hoje se expandiu e virou algo brasileiro. É dizer que a cultura negra é inferior – diz Carvalho, destacando que a abordagem da religião dentro do futebol é algo pouco discutido.
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A citação ao vodu remete a um caso ocorrido em 2018, quando o acionista do Everton, Farhad Moshiri, disse que Lukaku não renovou com o clube inglês porque seguiu as orientações da mãe, que teria recebido uma mensagem vodu. À época, Lukaku disse que iria processar o empresário.
Na Itália, Lukaku já havia passado por episódios racistas vindos das arquibancadas. Num jogo contra o Cagliari, a torcida do adversário imitou sons de macaco quando o jogador tocava na bola. Na ocasião, uma das organizadas da Inter saiu em defesa dos torcedores do oponente, pois seria um "artifício para desestabilizá-lo" e que o camisa 9 entendesse a discriminação racial "como uma forma de respeito ao fato de que eles têm medo de que você faça gols".