Nascido Luiz Antônio Feliciano Marcondes, o cantor e compositor Neguinho da Beija-Flor, 73 anos, disse que não viu racismo na atitude de Nelson Piquet, quando o ex-piloto brasileiro se referiu a Lewis Hamilton como "neguinho" em uma entrevista recente para um canal no YouTube.
"O neguinho meteu o carro e não deixou (desviar)", disse Piquet naquela ocasião ao comentar uma corrida.
Depois do episódio, diante da repercussão, Nelson Piquet se retratou em nota e pediu desculpas a Hamilton, alegando que o que disse "foi mal pensado", mas afirmou que "o termo é um daqueles largamente e historicamente usados de forma coloquial no português brasileiro como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa'" .
— Na minha opinião, é uma forma carinhosa de tratar o piloto. Se ele dissesse "negrinho", já seria outra coisa — diz Neguinho da Beija-Flor por telefone, ao GLOBO. — 'Neguinho' é uma forma carinhosa, mas 'negrinho' é ofensivo. A Sandra de Sá ela usa muito esse termo, o 'neguinho', mas ela tá se referindo a uma pessoa. 'Negrinho' é pejorativo, como quem diz 'dinheirinho' pra falar de pouco dinheiro, ou 'tempinho' pra falar de pouco tempo. Quem fala 'negrinho' faz pouco caso.
Ícone do carnaval carioca, Neguinho da Beija-Flor diz que a origem do apelido remete a sua infância em Nova Iguaçu. Uma vizinha lhe chamava de "neguinho" e bastou para que assim ficasse. Anos depois, na sua escola de coração, o apelido foi reinventado. E ele incorporou de maneira oficial e definitiva, tanto que assim consta em seus documentos e assim ele assina sempre que solicitado.
— Eu tinha 5 ou 6 anos, morava em Nova América, um bairro afastado de Nova Iguaçu. Uma senhora chamada Dona Aria me começou a me chamar de 'neguinho da vala', porque eu vivia pescando rã e mussum numa vala. Depois, em 1977, já virei o Neguinho da Beija-Flor por sugestão do Anísio (patrono da escola de Nilópolis) — lembra o intérprete.
Apesar de não te visto problema na fala de Piquet, Neguinho da Beija-Flor reforça que falta punição mais severa aos casos de racismo que se repetem no dia a dia:
— O racismo é uma coisa tão sem solução no Brasil que você acaba deixando pra lá. Mesmo porque eu não conheço ninguém que cometeu esse ato preso ou cumprindo prisão, ou sendo processado. O máximo que a gente vê é multa, aí o cara vai lá, comparece na delegacia, paga R$ 500 e não dá em nada. Já ouvi o Pelé dizendo que foram raras as partidas em que ele não foi ofendido de 'macaco' ou coisas do tipo. Faziam para desestabilizar.