Os jogadores da seleção chilena decidiram não entrar em campo no amistoso contra o Peru, marcado para a próxima terça-feira. Na tarde desta quarta, a Federação Chilena de Futebol anunciou que a partida não ocorreria por escolha dos atletas e que o técnico Reinaldo Rueda já liberou os convocados para seu respectivos clubes.
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"Os jogadores convocados para a seleção principal do Chile decidiram não disputar o amistoso internacional contra o Peru, programado para a próxima terça (19) em Lima. A decisão foi tomada pelo grupo após uma reunião realizada nesta manhã no Complexo Juan Pinto Durán. O técnico Reinaldo Rueda liberou imediatamente todos os jogadores, que já estão à disposição de seus clubes. A Federação Chilena já comunicou a situação à Federação Peruana", diz a nota.
Um dos principais nomes da equipe, o volante Arturo Vidal manifestou-se sobre a decisão do grupo em sua conta no Instagram.
"Como equipe, nós tomamos a decisão de não jogar o amistoso marcado com o Peru, em atenção ao momento social que vive nosso país. Somos jogadores de futebol, mas, antes de tudo, pessoas e cidadãos. Sabemos que representamos um país inteiro e, hoje, o Chile tem outras prioridades, muito mais importantes do que o jogo da próxima terça", explicou o jogador, atualmente no Barcelona.
O volante ressaltou que os jogadores apoiam os protestos , sem ações violentas tanto de manifestantes quanto do Estado. Acrescentou também que o grupo considera, ainda, que a batalha mais importante que os chilenos enfrentam neste momento é a de viver em um país mais justo para todos.
"Temos uma partida mais importante que é a da igualdade, a de mudar muitas coisas para que todos os chilenos vivam em um país mais justo", ressaltou.
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Apoio dos jogadores aos protestos
Em outubro, outros ídolos do futebol chileno já haviam manifestado apoio aos protestos que ocorrem no país, iniciados a partir do anúncio de um aumento na tarifa do metrô. Entre eles, estão o goleiro Claudio Bravo, o capitão da seleção, Gary Medel, os atacantes Alexis Sánchez e Pinilla e a goleira Christiane Endler, finalista do prêmio de Melhor do Mundo da Fifa na posição em 2019.
Uma das principais pautas dos protestos é a crítica ao aumento da desigualdade social. Nos últimos anos, o Chile era visto como um modelo da aplicação de políticas neoliberais na América do Sul, tendo adotado como uma das principais medidas as privatizações.
"Eles venderam à iniciativa privada nossa água, eletricidade, gás, educação, saúde, aposentadoria, remédios, estradas, florestas, o Salar de Atacama, as geleiras, o transporte. Algo mais? Não é muito? Não queremos um Chile de alguns poucos, queremos um Chile de todos. Chega", escreveu Bravo no Twitter.
Nesta terça-feira, o volante Charles Aranguiz já havia pedido o cancelamento do amistoso em entrevista à imprensa local.
"O ambiente está difícil. Minha opinião é que não deveria ter jogo, para respeitar o que está acontecendo no país", disse.
Confira a carta publicada por Vidal na íntegra
"Para toda a opinião pública, especialmente os torcedores:
Como equipe, nós tomamos a decisão de não jogar o amistoso marcado com o Peru, em atenção ao momento social que vive nosso país. Somos jogadores de futebol, mas, antes de tudo, pessoas e cidadãos. Sabemos que representamos um país inteiro e, hoje, o Chile tem outras prioridades, muito mais importantes do que o jogo da próxima terça. Temos uma partida mais importante que é a da igualdade, a de mudar muitas coisas para que todos os chilenos vivam em um país mais justo.
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Apoiamos as manifestações, mas sem violência e sem feridos, tanto do lado dos manifestantes como das forças policiais. O Chile precisa de paz, mas também que não sejam esquecidas as demandas que originaram esse movimento."