Mendoza - Ruas vazias, bares sem movimento, ninguém circula com a camiseta da Argentina. As poucas casas enfeitadas com as cores do país até causam certa expectativa, mas não passam de homenagens para o “Dia da Bandeira” - comemorado quinta-feira (20).
Um turista desavisado passaria por aqui facilmente sem notar que neste domingo (23) Messi , Aguero, Dybala e seus companheiros entraram em campo pela Copa América e venceram o Catar por 2 a 0 , garantindo o segundo lugar do grupo B e passando para as quartas de final.
Quando questionados sobre o desânimo com a seleção, a resposta dos torcedores é sempre a mesma. O mal desempenho da equipe nos últimos anos fez com que eles se afastassem do time. No entanto, o que chama mais atenção é a justificativa.
Se torcer para a seleção argentina não empolga, culpar o fracasso em campo e o descontentamento geral parece animar e unir pessoas que sabem o nome e o sobrenome do que, para elas, é o grande problema: Lionel Messi.
“Ninguém quer saber da seleção. Os jogos não empolgam, estamos mal há muito tempo e parece que vamos continuar assim enquanto continuarmos dependendo do Messi”, opina o motorista Facundes Gutierrez, de 33 anos.
Para ele, o jogador do Barcelona foi o maior envolvido na participação “vergonhosa”, como ele mesmo classificou, da Argentina na Copa do Mundo da Rússia, no ano passado, quando o time caiu nas oitavas. “Não é decisivo, não entrosa com o time, não brilha… apostamos sempre nele e ele nunca retribui. Acho que cansamos de acreditar. Ninguém mais quer ver a seleção não dar em nada”.
“Quem quer Messi na seleção?”, indaga Renzo Martínez, 28 anos, que é estudante. “Não tem carisma, não tem identificação com o time, nem com o país, vai conseguir ter com a torcida?”, continua ele, citando o fato de Messi não cantar o hino antes das partidas pela Argentina.
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O professor de química Javier Nunez, 54 anos, vai mais além e compara o argentino, que já foi cinco vezes eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa, ao maior ídolo da história da albiceleste. “Nunca fez nada pela gente, não sei porque ainda achamos que ele pode ser a salvação. Está na hora de ter um novo Maradona, um herói de verdade, coisa que o Messi não é!”.
A situação está realmente difícil para o jogador. Ultimamente, até mesmo seus defensores não têm argumentos para salvar sua pele. “O fato de ele só conseguir se destacar no Barcelona e não ter nenhum título expressivo pela seleção mexe com o torcedor mesmo”, admite a estudante Ana Munhoz Cavallero, 24, que se diz fã de Lionel.
Ao lado de seu namorado, Pedro Salazar Nunez, 29, a jovem reconhece que sua atuação deixa a desejar, mas isso não seria motivo para que os torcedores desistissem do jogador. A afirmação é rebatida por Pedro. “Como não? A única coisa que ele ganhou foi o título olímpico, que nem conta”, menciona a vitória nas Olimpíadas em 2008. “E nem era pela seleção principal!”, complementa o advogado.
“A situação do Messi está complicada e se ele não der resultado nessa Copa América, o que eu acho que vai acontecer, o abismo entre os torcedores e o time vai ficar ainda mais sólido”, fala. Pedro lamenta o momento atual e se lembra com saudades de quando ficava empolgado com os jogos da seleção.
Na última partida pela albiceleste, Messi não marcou mas participou de lances importantes. A impressão que dá é que mesmo vencendo, a imagem do jogador não consegue voltar a ser positiva entre a torcida desde muito tempo, e ele vai precisar de mais do que algumas boas partidas e gols para conseguir voltar a ser querido e reconquistar a simpatia e confiança do público.
Torcedores mais otimistas acreditam que um título na Copa América poderia ser o caminho. Porém, a conquista da taça está passando longe das mãos argentinas, que sofreu no empate contra o Paraguai (2x2) e decepcionou na derrota para a Colômbia (2x0), aumentando ainda mais a desconfiança de uma possível eliminação precoce.
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“Só um milagre”, avalia Javier sobre a possibilidade do time ganhar o campeonato. Se vai ser preciso atuação divina para fazer com que os argentinos voltem a acreditar no Messi ou não, é difícil saber. Porém, se nada mudar, as chances do jogador afastar a torcida da seleção são grandes - o que pode tornar tudo ainda mais complicado para ele.