A eliminação da seleção brasileira feminina de futebol para a Jamaica na Copa do Mundo de 2023 foi um resultado surpreendente que levanta diversas questões e reflexões sobre o cenário do futebol mundial. Essa derrota inesperada trouxe à tona a comparação entre a realidade do Brasil, um país de dimensões continentais e mais desenvolvido, e a Jamaica, cuja população equivale a 1,4% da brasileira.
A população jamaicana é de cerca de 3 milhões de habitantes, menor até do que a da Região Metropolitana de Campinas (RMC), da qual tenho a honra de ser presidente do Conselho de Desenvolvimento e que atingiu, segundo o Censo 2022, o total de 3,2 milhões de moradores.
O país do Caribe possui um PIB de pouco mais de US$ 15 bilhões e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,734 (101º no ranking). Já a economia brasileira é bem mais pujante, com um PIB da ordem de US$ 3,6 trilhões e IDH de 0,754 (87º no ranking).
O Brasil é conhecido como o "País do Futebol", um título conquistado ao longo de décadas de tradição e sucesso no esporte. Com cinco títulos mundiais masculinos, é uma referência global no futebol e a nação que deu ao mundo da bola a majestade Pelé, o maior de todos os tempos, além de inúmeros outros craques.
Essa tradição também se estende ao futebol feminino, com grandes talentos, como Marta – que se despede agora da Seleção – e conquistas significativas. Entretanto, apesar de toda a riqueza esportiva do país, a modalidade feminina ainda enfrenta muitos desafios, desde a falta de investimento até a desigualdade de gênero no esporte.
Em contrapartida, a Jamaica viveu uma história dramática no futebol feminino, chegando ao ponto de não figurar no ranking da FIFA devido à falta de atividade e estrutura para a prática do esporte. Entre 2010 e 2014, o país chegou a ficar sem uma seleção feminina. No entanto, a surpreendente jornada da equipe jamaicana na Copa do Mundo de 2019 – a primeira participação em Copas – e, mais recentemente, na edição de 2023, demonstra uma mudança significativa nessa realidade.
Uma figura fundamental nessa transformação é Cedella Marley, filha do lendário músico Bob Marley, que teve um papel crucial no fortalecimento do futebol feminino na Jamaica . Ela mobilizou esforços para levantar recursos e apoiar os times de mulheres jamaicanas, contribuindo para a criação de uma base sólida para o desenvolvimento do esporte no país.
É importante ressaltar que a trajetória da Jamaica na Copa do Mundo Feminina não é apenas fruto do acaso, mas sim o resultado de uma combinação de fatores. Cedella Marley conseguiu unir o amor pelo futebol e o ativismo social, canalizando a energia e o legado de seu pai para uma causa que transcende as fronteiras da música e do esporte.
A presença de jogadoras amadoras na seleção jamaicana também é um ponto a ser destacado. Diferentemente das atletas brasileiras, muitas das jogadoras jamaicanas não contam com os mesmos recursos e infraestrutura que as grandes estrelas do futebol mundial. No entanto, é justamente a superação dessas adversidades que torna a jornada da equipe jamaicana ainda mais inspiradora e cativante.
A eliminação do Brasil para a Jamaica não deve ser vista apenas como um tropeço pelo país pentacampeão mundial, mas sim como uma oportunidade para refletir sobre os desafios e oportunidades no cenário do futebol feminino. É necessário repensar a estrutura de investimento e apoio para as atletas brasileiras, buscando igualdade e valorização do esporte em todas as suas dimensões.
Também é preciso fazer uma crítica ao trabalho da técnica sueca Pia Sundhage , que chegou ao Brasil em 2019 muito badalada, após a eliminação da Seleção no Mundial daquele ano, mas que não conseguiu bons resultados e tem o trabalho questionado por vários analistas do futebol.
A atuação da seleção jamaicana, com jogadoras amadoras e pouco reconhecidas, demonstra que o futebol é muito mais do que recursos financeiros e infraestrutura. A paixão, o comprometimento e o espírito coletivo podem fazer a diferença em campo, mesmo em uma competição de alto nível como a Copa do Mundo Feminina.
A eliminação da Seleção Brasileira feminina de futebol para a Seleção da Jamaica na Copa do Mundo de 2023 revelou nuances importantes sobre o cenário esportivo global. A história do Brasil como o "País do Futebol" e a tradição da Jamaica como uma nação com desafios socioeconômicos distintos se entrelaçam em uma narrativa inspiradora.
A atuação da seleção jamaicana e o trabalho de Cedella Marley são exemplos de como o esporte pode ser um instrumento poderoso de transformação e superação, ultrapassando barreiras e fronteiras, inspirando gerações e promovendo mudanças significativas no mundo.