Um dos líderes do elenco do Cruzeiro na temporada de 2019, o meia Robinho, atualmente no Coritiba, abriu o jogo em entrevista exclusiva ao iG Esporte sobre o ano do rebaixamento no clube celeste.
O jogador de 33 anos relembrou a fatídica temporada da queda do time mineiro para à Série B. Robinho conta que o elenco não deu o total valor para o campeonato, e a coisa desandou.
— É uma pergunta que me faço todos os dias. Eu olhava para tabela e falava que não, nós não vamos cair. Fizemos várias conversas no vestiário, e falávamos 'não gente, temos dois jogos em casa, nós vamos ganhar e escapar’. E foi rodando, foi acontecendo, foi troca de técnico, atrasos salariais, algumas reuniões que não foram verdadeiras, falavam uma coisa para gente e faziam outra (diretoria). Acho que nós, jogadores, não demos o valor que deveria ao campeonato, naquele momento em que estávamos passando nós acreditávamos que iríamos sair pela qualidade do time, que a qualquer momento venceria os jogos, isso atrapalhou muito.
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Ao longo da temporada, rumores apontavam uma certa ‘panela’ no elenco do time mineiro, que contava com jogadores experiente e rodados no futebol, como Thiago Neves, Dedé, Léo, Fábio, Edilson, Egídio, dentre outros. Robinho tratou de desmentir o boato, e citou outro fator que prejudicou o time ao longo do ano.
— Isso não teve (panela no elenco). Nós éramos muito unidos, era até uma coisa inacreditável na situação que nós estávamos, não teve uma briga, uma discussão. Que talvez faltou isso também, ter alguma discussão que desse uma ligada, uma mudança. Tínhamos muita cobrança interna entre nós atletas, fizemos várias reuniões, algumas até tiveram discussões, mas não chegou a ter briga.
— Olha como era o começo do ano, o Fred, por exemplo, as brincadeiras viralizaram. Então nosso time era muito unido, só que se você for perceber, a equipe que começou e a que acabou 2019 era um time que talvez brigasse contra o rebaixamento na Série A. Digo dos jogadores que jogaram, estava todo mundo, mas Rodriguinho acabou machucando, Rafinha, Lucas Romero e Lucas Silva saíram. São jogadores que não eram titulares, mas que quando os titulares saíam eram eles que entravam e faziam a diferença. E subiram muitos jogadores da base que talvez não estivessem preparados para assumir o posto de titular do Cruzeiro num Brasileiro Série A, uma competição tão difícil e ainda mais na zona de rebaixamento, acho que isso pesou também.
— Então muita gente ficou falando que o elenco estava rachado, que os jogadores brigaram com o Rogério, só que ninguém estava olhando o elenco certinho como foi. Porque o elenco que começou 2019 foi o segundo melhor na fase de grupos da Libertadores e fomos campeões mineiros invictos, estávamos na semifinal da Copa do Brasil até o Mano sair, só que depois aconteceram muitas mudanças, muitos jogadores foram saindo. Só que ninguém estava vendo isso aí.
— A nossa zaga titular era Dedé e Léo, o reserva era o Manoel e ele saiu. Acabaram jogando o Cacá e o Fabrício Bruno, que hoje está no Bragantino fazendo um grande campeonato, mas talvez naquela época não estivesse preparado para assumir a titularidade do Cruzeiro. O Cacá tinha recém subido da base, foram os dois que terminaram jogando.
— Volante, tínhamos o Ederson que hoje faz um campeonato espetacular no Fortaleza, mas naquele momento ele assumiu a titularidade como um de nossos melhores jogadores, mas talvez não estivesse preparado também. Chegaram alguns jogadores no meio do campeonato e não renderam o esperado, outros que eram apostas de outros lugares e também não renderam. Então não foi bem o elenco que começou que acabou a temporada, foram acontecendo algumas trocas que na minha visão pesou muito. Jogadores que talvez não estivessem preparados para aquela responsabilidade.
Um dos grandes problemas em 2019 no Cruzeiro, o atraso salarial foi constante durante a temporada. Robinho conta que esse problema afetou a todos no elenco, inclusive os jovens que haviam acabado de subir para o time profissional.
— A falta de pagamento salarial é uma coisa que atrapalha muito, muitas vezes meninos da base acabavam pedindo dinheiro emprestado para poder colocar gasolina para ir ao treino. Essas coisas não saem, também não gosto de ficar falando disso. Mas tivemos várias reuniões, ‘ah, vai pagar o salário agora’. Não pagou, até hoje não recebi. Setembro, outubro e novembro de 2019 eu não recebi do Cruzeiro, até agora. Décimo terceiro, férias e essas coisas, não preciso nem falar, sabe? E pesa, não tem como falar que não vai pesar, faz a diferença!
— Talvez para mim naquela época não fazia diferença e não me atrapalhou, mas para outros, atrapalha. Tem gente que não tem um plano de carreira, guardar a parte financeira para o que pode vir a acontecer. Tinha menino que vinha subindo da base, talvez não tinha condição de ter guardado um dinheiro para sustentar três, quatro meses sem pagar aluguel, comida, filho na escola e esse monte de coisa. E isso vai atrapalhando.
— Tinha dias que chegávamos para treinar e no vestiário os meninos perguntavam: 'E o salário?' Falaram que ia sair hoje'. Aí vinha o Fábio e dizia que era na sexta-feira. Chegava sexta-feira: ‘e aí Fábio? E aí Edílson?’, porque o Edílson era um cara que cobrava muito a diretoria. E a resposta era que iria sair segunda, chegava na segunda e falavam que ia sair na quinta, então isso vai mexendo, sabe?
— Tinha jogos que os caras nem pensavam no jogo, pensavam se já tinha dinheiro na conta. A gente indo dentro do ônibus para o estádio e os caras olhando o extrato bancário para ver se tinha caído. Isso aí atrapalha muito. É o Cruzeiro, a camisa pesa, mas não tem mais isso, acabou isso no futebol brasileiro de que só a camisa vai manter. Hoje em dia está muito difícil, e foi o que aconteceu, muitas coisas erradas e acabou que tecnicamente alguns jogadores que nos anos anteriores renderam demais não renderam o esperado e fez com que o time fizesse assim.