Corpo mignon torneado em academia, loira levemente tingida, modelo fotográfica, estudante de design de interiores, 1,70 metro, 26 anos, separada, mãe de um menino de sete anos. Najila Trindade Mendes de Souza é a declarada vítima do que pode vir a ser um escândalo sexual ou mesmo uma grande armação, num jogo sujo de tramas inconfessáveis envolvendo Neymar, principal jogador da seleção brasileira.
Ela denunciou Neymar por estupro, em 31 de maio. Desde então, desencadeou-se uma guerra de versões e contradições cujo desenlace impõe grave risco a imagem e reputações dos personagens enredados — sobretudo a de Neymar, ídolo da criançada brasileira e do Paris Saint-Germain, que nos últimos tempos tem gerado mais fatos rumorosos fora das quatro linhas do que dentro delas.
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Najila Trindade alega que o ataque teria ocorrido no quarto 203 do hotel Sofitel Paris Arc Du Triomphe, na noite de 15 de maio, na capital francesa. Na noite seguinte, ambos discutiram no mesmo quarto. “Você me agrediu ontem. Você me deixou aqui sozinha”, disse ela, enquanto o estapeava, de acordo com um vídeo de meio minuto revelado pela Rede Record, na quarta-feira 5.
Neymar Jr. e seu pai, Neymar da Silva Santos, tentam desacreditar a denunciante e seus representantes, argumentando que o jogador é vítima de uma tramoia de gente que só deseja lhes tomar dinheiro. Ela própria se complica a cada dia. Seu ex-advogado José Edgard Bueno abandonou o caso porque, segundo ele, Najila mudou a versão inicial. De acordo com Bueno, a modelo havia lhe relatado uma agressão e não um estupro.
As próprias imagens do vídeo gravado por ela no hotel em Paris sugerem a montagem de uma armadilha para o jogador. Para piorar, foram descobertos dois boletins de ocorrência, de 2014 e 2016, segundo os quais estivens alves, ex-marido e pai de seu filho, teria sido agredido. Em 2014, ele foi esfaqueado em uma discussão e precisou ser socorrido por bombeiros. Dois anos depois, ele a denunciou por agressão.
Pressionada, Najila trocou de advogado e concedeu uma entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, do SBT, na quarta-feira 5, fornecendo detalhes da tórrida e consensual aventura casual entre dois jovens adultos. Ela insistiu que o encontro acabou em sexo forçado e agressões que resultaram em hematomas e trauma psicológico. “Ele não tinha o direito de fazer o que fez comigo”, afirmou. Sem posar de ingênua, disse também que sim, desejava fazer sexo com o atleta milionário.
O caso explodiu no sábado 1º de junho. O boletim de ocorrência não revelou o nome da denunciante, conforme determina a lei brasileira. Porém, sua identidade vazou e Najila teve a vida devassada. Tanto que optou por não voltar ao seu apartamento, na zona sul de São Paulo. Sua família foi procurada pela imprensa. A mãe e os irmãos alegaram não saber de nada até então, mas notaram que ela aparentava nervosismo depois de ter voltado de Paris.
Nascida no interior da Bahia, Najila sempre acalentou o sonho de ser modelo. Acreditava ter vocação para algum estrelato. Ainda criança, mudou-se com a família para São Paulo. Em 2014, ela fez o seu primeiro ensaio fotográfico. “Até onde eu conheci, ela me pareceu tranquila, profissional e atenta. Muita gente mais experiente não é tão desenvolta”, relata o fotógrafo Eddy Marchi, responsável pelas fotos. Em 2017, Najila estrelou um clipe musical, produzido pelo produtor de vídeo Fill Rocha.
De acordo com pessoas ouvidas por ISTOÉ, a jovem jamais exibiu o perfil clássico das chamadas maria chuteiras, mulheres que exercem marcação cerrada sobre jogadores de futebol, buscando promoção e segurança financeira em troca de favores sexuais. Mesmo assim, seria ingênuo supor que uma modelo fotográfica desconhecida se aproximaria de um jogador do calibre de Neymar, sem premeditar uma projeção pessoal e alguns valiosos contratos.
Antes do escândalo, a vida de Najila andava financeiramente tensa. Suas dívidas hoje somam mais de R$ 30 mil. Sem pagar aluguel e condomínio há meses, havia abandonado a faculdade. Na segunda-feira 3, foi emitida uma ordem de despejo para que ela saísse do apartamento de três quartos onde vive com o filho. De acordo com o advogado da imobiliária, Ricardo Bornacina, a inquilina não apresentou um plano de parcelamento da dívida e pode ter seus pertences retirados do imóvel coercitivamente caso não se mude.
Para o ex-advogado, José Edgard Bueno, Najila se caracteriza por ser uma pessoa confusa e contraditória. “A ex-contratante tomou decisões à revelia de seus patronos. Esse fato fez com que renunciássemos ao nosso mandato”, afirmou em comunicado após deixar o caso. “Ele não estava acreditando em mim. Senti preconceito da parte dele”, contrapôs ela ao SBT. Najila havia entregue ao ex-advogado uma foto dela enviada por Neymar Jr. na qual a estudante encontra-se nua, de costas e com os glúteos avermelhados. Antes de o caso ir parar na delegacia, Bueno tentou, sem sucesso, uma reunião com Neymar pai e assessores. Segundo os representantes do jogador, o advogado teria tentado lhes extorquir dinheiro. Bueno afirmou ter sido vítima de uma “armadilha com o objetivo de criar um álibi para o seu protegido”.
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Pela versão apresentada por Najila ao SBT, o estupro no hotel teria ocorrido depois de ela anunciar que não manteria a relação sexual sem preservativo. Durante as carícias preliminares, ela teria notado que ojogador estava ficando agressivo, mas decidiu ir em frente.
Com ela despida na cama, ele lhe desferiu palmadas. “Falei para ele parar: ‘Está doendo’”, relatou. Como Najila teria se recusado a manter uma relação sem proteção, o jogador a teria violentado e agredido: “Foi tudo muito rápido”. Há fragilidades nessa versão. A principal delas é que na troca de mensagens com Neymar, no dia seguinte, a modelo não só agiu como se nada tivesse acontecido, como tentou marcar um novo encontro, regado a vinho, que ela pediu para o craque levar. À noite, a modelo o confrontou no quarto.
Como mostra o vídeo, de início ele riu: “Não, não, não, não, não. Aí vira paixão”. Mas teria ficado furioso ao perceber que estava sendo filmado por um celular estrategicamente acomodado na pia do banheiro da suíte. Esse trecho do vídeo, com vários minutos a mais, ainda não foi divulgado. Após a briga, Najila voltou ao Brasil. Disse não ter prestado queixa na França por temor e por estar emocionalmente abalada.
Crimes de internet
No afã de se defender, o jogador acabou por cometer crimes facilmente comprováveis. No sábado 1º, divulgou as conversas íntimas que ambos tiveram por WhatsApp ao longo de meses. O conteúdo foi deletado, mas acabou copiado e passou a circular livremente pela internet. Além do vazamento das imagens íntimas, o jogador revelou inadvertidamente o nome do filho de 7 anos de Najila. A atitude virou uma investigação da Delegacia de Crimes de Informática do Rio de Janeiro. “Eu prefiro um crime de internet ao de estupro”, justificou Neymar pai, enquanto o filho seguia concentrado com a seleção brasileira. Para ele, o jogador de 27 anos é apenas um jovem inexperiente. “Quem me conhece, sabe do meu caráter, da minha índole”, declarou o craque em vídeo no Instagram.
O escândalo já custa caro a Neymar. O comportamento errático do jogador faz sua carreira patinar. Patrocinadora oficial da seleção brasileira, a Mastercard suspendeu uma campanha que seria veiculada durante a Copa América, que será iniciada na sexta-feira 16. O jogador nem vai participar do torneio. Não bastasse o escândalo, foi cortado por ter rompido os ligamentos do tornozelo direito no amistoso contra o Catar, na noite de quarta-feira. Ao deixar o gramado com dores, ainda sem saber do diagnóstico, Neymar chorou. Dizendo confiar no atleta, o presidente Jair Bolsonaro o visitou no hospital em Brasília. “É um garoto que está num momento difícil, mas eu acredito nele”.
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O papel e o destino dos envolvidos ainda estão longe de uma definição. Neymar pode ser um jogador inocente alvo de uma armação ou um craque milionário e mimado que agrediu e estuprou uma jovem de 26 anos. Najila, por sua vez, seria uma vítima de violência machista buscando o que é certo ou alguém querendo aplicar um golpe que parece ter saído do controle. Resta torcer para que a imensa diferença de poder e prestígio entre os dois não impeça a Justiça de cumprir sua missão com a necessária imparcialidade.