O acidente com o time da Chape deixou o desafio de tentar explicar para as crianças o que aconteceu com seus ídolos. O avião que seguia para Medellín, na Colômbia, matou 71 pessoas, dentre elas, comissão técnica e jogadores do clube, que disputariam a final da Copa Sul-Americana.
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A edição de dezembro da revista informativa da Chape , traz de forma lúdica, um texto que conta da "convocação para uma partida no céu" dos jogadores, equipe técnica e imprensa.
" Depois daquele interminável 29 de novembro, entre a incredulidade e a dor, encontramos a esperança e a certeza de que deveríamos dar continuidade ao legado deixado por nossos colegas e, acima de tudo, honrar o trabalho que, com tanto amor, eles realizavam. O informativo de dezembro, planejado com tanto carinho - inclusive e principalmente pelos nossos colegas da comunicação, Giba e Cleberson - deveria ser realidade.
E torná-lo concreto foi um desafio. Propomo-nos a contar a história a partir de uma nova ótica. Uma “ficção”. Um “era uma vez”. E esperamos que toda a empatia que colocamos em prática para escrever este conto possa acalentar a alma de cada leitor e torcedor, além de amigo e familiar dos que já não estão aqui. É assim que lembraremos de todos. Saudosos, exaltando as inúmeras qualidades e tornando-os eternos em nossos corações
", escreveu a Chapecoense ao publicar a revista.
A revista da Chape era de responsabilidade de Cleberson e Giba, membros dos setores de Marketing e Comunicação do clube, ambos vítimas no acidente. A gerente de marketing da Chape, Juliana Sá Zonta, decidiu então, que a nova publicação deveria tirar o peso da tragédia.
"Qualquer jornal e revista ia trazer a notícia, fotos e lista de passageiros como informe de obituário e nós queríamos justamente fugir disso. A Juliana sugeriu que nós contássemos a história dessa forma mais lúdica, como se fosse um pai contando uma história para um filho. Apelamos um pouco para a ficção para transformar essa história em "Era uma vez" e tivemos esse resultado", disse Alessandra Lara Seidel à "Sputnik".
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Alessandra, que se forma em jornalismo no ano que vem, é estagiária de comunicação do clube e responsável pela história. Ela ressalta que se sentia na responsabilidade de dar continuidade ao trabalho dos amigos e ao escrever a narrativa para a revista, ainda amenizou sua própria dor pela perda.
"Foi um desafio escrever essa história dessa perspectiva, mas quando eu consegui escrever, quando eu conclui o texto foi um sentimento de alívio e de missão cumprida, porque eu percebi que realmente consegui honrar o Cleberson e o Giba enfim todas as pessoas que estavam no voo e também de alguma forma oferecer um alento as pessoas que ficaram e principalmente as crianças", disse Alessandra.
Além das crianças, a repercussão da publicação sobre o acidente tem sido positiva de forma geral na cidade de Chapecó. "Nós atingimos mesmo o que queríamos, que era oferecer esse alento, esse conforto e principalmente lembrar e eternizar quem se foi. Além de contar a história de forma mais lúdica, no texto também tomamos cuidados de destacar características e qualidades de cada um."
Sobre o futuro da Chape, Alessandra Seidel explicou às crianças que "Deus levou os melhores, mas também fazemos questão de ressaltar que os melhores também continuam, que além dos sobreviventes tem outras pessoas que irão chegar e vão dar continuidade a Chapecoense".
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Confira trechos da história
"... Comissão técnica, diretoria, atletas, torcida! Aquele clube vivia uma sinergia tão precisa que era quase utópica. Havia, neste grupo, uma figura emblemática, que afirmava, sempre que as oportunidades surgiam, que “do roupeiro ao presidente, todos tinham a mesma importância..."
"... O troféu que ergueram tinha um valor imensurável. Custou um preço alto, é verdade, mas rendeu muito mais do que se podia sonhar. O título conquistado foi capaz de mostrar ao mundo que rivalidades devem durar apenas 90 minutos. Serviu para promover a solidariedade, o amor, o carinho e a união. Sim, a união. Provavelmente o maior propósito de tudo isso..."
"... E se antes de dormir, você prestar bastante atenção, vai ouvi-los no vestiário, batendo as portas dos armários e cantando o inesquecível "vamos, vamos Chape". Estão comemorando. Felizes. Fazendo o que amam. "Do roupeiro ao presidente..."