Dia da Mulher: Germana Garilli, a Gegê, primeira mulher no jornalismo esportivo brasileiro
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Dia da Mulher: Germana Garilli, a Gegê, primeira mulher no jornalismo esportivo brasileiro

8 de março, Dia da Mulher, data para muitas reflexões sobre o "sexo frágil". Eu tenho mulheres fantásticas na minha vida: 1ª minha mãe, que me criou e formou meu caráter através da educação que me deu, é um exemplo de perseverança e trabalho, poucas vezes a vi reclamar da vida, é a fonte de inspiração. 2ª minha esposa, que com muita tenacidade lutou contra uma doença e serve de exemplo para mim, é a mulher da minha vida. 3ª minha filha, que deu sentido para minha vida e que me faz sorrir além do que eu conseguiria sozinho, é o amor da minha vida.

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Sem transformar o texto do Dia da Mulher em clichê, o que obviamente é desnecessário, devo afirmar que sem as mulheres o mundo não seria o que é, seria muito pior. Imagine um mundo feito apenas por homens? Onde estaria o bom-senso? Caberia a ternura nesse mundo? E a força de onde viria, apenas da brutalidade ou da inteligência?

Muitas questões podem ser levantadas, são levantadas atualmente, tratam do empoderamento das mulheres, falam de tudo um pouco, quando na verdade, se a sociedade e o mundo fossem justos com as mulheres, esse dia que representa os avanços feministas, nem deveria existir, porque todos somos iguais, com suas diferenças inerentes às características de cada um, mas todos temos os mesmos direitos ou ao menos deveríamos ter. Esse é o ponto: direitos.

O que faz uma sociedade admitir que os direitos são diferentes entre as pessoas? Umas podem e outras não, por quê? Qual é o fundamento? O que faz um ser mais inteligente do que o outro? Como se mede essas capacidades? Tudo isso abre espaço para o preconceito. E ele serve de muleta para separar, dividir, desagregar. 

Nos meios de comunicação há brilhantes jornalistas. A capacidade intelectual não tem absolutamente nada a ver com gênero. Ela existe e ponto. Cabe a quem manda, avaliar quem tem essa capacidade e quem não tem. No Jornalismo Esportivo não é diferente, na verdade não deveria ser. O que a gente vê pelas redações e cabines de transmissão pelo país é um número decimal que quase nem chega a ser estatístico da presença feminina.

E escrevo sem nenhuma hipocrisia, há espaços para todos, mesmo o mercado sendo recessivo há anos. Há espaço e ele deve ser preenchido pelas mulheres. Se há dificuldades para trabalhar nas transmissões com os homens, por que não trabalhar em transmissões de rádio e tv de eventos femininos? Que eu saiba, há em todos os esportes, os torneios nas versões masculina e feminina. Por que não se formar equipes totalmente formadas por mulheres para transmitir os eventos femininos? Qual o problema nisso tudo?

Dia da Mulher e a participação delas no jornalismo esportivo
Reprodução
Dia da Mulher e a participação delas no jornalismo esportivo

Seriam as mulheres que apenas acreditam que para crescer na carreira é necessário narrar os jogos que os homens narram? Ou seriam os homens ou a audiência que as coloca em segundo plano em todos esses eventos? Ou não haveria quantidade suficiente de mulheres preparadas para trabalhar nessas áreas predominantemente masculinas? São muitas perguntas e poucas respostas. Para mim o que fica claro é que esse espaço existe e está sendo mal aproveitado.

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Eu também sou professor e dou aula para narradores e narradoras. Efetivamente, nas divulgações dos meus cursos, pouquíssimas mulheres se interessam. Há alguns anos, cometi um erro com uma garota que queria saber mais sobre meu curso e eu, na melhor das intenções, disse para ela que seria complicado ela conseguir algo nessa área, porque as empresas (naquele momento) não dariam espaço para as mulheres, cometi um equívoco pensando a médio prazo. Mas, mesmo com o avanço das mulheres nas transmissões, o pedaço destinado a elas ainda é muito pequeno.

A quebra de tabu e paradigmas acontece com perseverança, paciência e com inteligência. Grandes emissoras por assinatura deram espaço recentemente às mulheres, mas parece modismo, conveniência e até oportunismo. Há de se fazer treinamentos efetivos com as garotas que querem trabalhar ao microfone e se esquecer de vez a questão da imagem, daquela menina que só sabe ler o que está no telepronter e que desperta outros desejos na chefia. O tratamento tem que ser profissional. Todos têm que ser tratados da mesma maneira e com coerência e honestidade.

Em algumas experiências, as mulheres foram colocadas em transmissões importantes sem a menor preocupação de quem as colocou. Nada de treinamento, nada de acompanhamento de uma fonoaudióloga especializada em voz, nada de valorizar o trabalho. As garotas se prepararam estudando, muito mais do que os homens, porque sempre têm que provar alguma coisa, não podem errar. As próprias mulheres na audiência, não gostam das meninas nas transmissões, acham as vozes muito agudas e estridentes, reclamam do ritmo e tudo mais. É uma questão de hábito e tempo para que as coisas melhorem.

Mas as mulheres que querem trabalhar nas transmissões esportivas precisam ser melhor orientadas, precisam passar por um treinamento mais bem feito e pensado para as necessidades delas. Se serve de consolo, eu fiz terapia por 6 meses com uma “fono” para melhorar minha entonação e dicção. É um trabalho que leva tempo, mas tem que começar. Não adianta nada jogar a menina nas transmissões e depois desistir dela, ser uma coisa só pra inglês ver. Há a necessidade de se investir num projeto a longo prazo e com objetivo definido.

Muitos patrocinadores se interessariam por uma equipe predominantemente feminina em torneios femininos. Não se trata de segregar, mas sim de segmentar para conquistar espaço e não dividi-lo com os homens. Para mim, o conceito está equivocado e só vai atrapalhar as garotas que quem ser narradoras e comentaristas, principalmente, porque na reportagem a presença feminina é mais efetiva e pouco questionada.

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Mulher sabe falar de futebol, mas também sabe falar de vôlei, basquete, tênis, basebol, futebol-americano, handebol, judô, MMA etc. Eu tenho convicção de que as mulheres sempre estarão bem preparadas para as transmissões. Um trabalho bem feito para tornar o timbre de voz mais agradável, um trabalho para criar um estilo de transmissão feminina, tudo isso pode funcionar. Para isso, as meninas precisam se mobilizar e procurar se organizarem em busca desse espaço. Já disse acima, para cada competição masculina, existe uma versão feminina, isso na maioria dos eventos esportivos. Criem a demanda se ela não existir. Não é fácil, muito pelo contrário. Mas tem como fazer. Quebrem mais esse tabu, com inteligência e estratégia.

Dica do Narrador

Caso você tenha alguma necessidade ou dificuldade relacionada à fala, procure uma fonoaudióloga e faça uma terapia, seus problemas serão resolvidos em menos tempo do que imagina.

Parabéns pelo  Dia da Mulher !

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