Todo ano é a mesma coisa: a gente começa cheio de esperanças, imagina que o ano vai ser diferente, que nossos sonhos vão se tornar realidade e que tudo vai melhorar. No futebol não é diferente, ou pelo menos deveria ser.
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O torcedor do futebol
quer canecos, quer vitórias a todo custo, quer tirar um barato do amigo ou inimigo do bar, quer que o time ganhe para que no dia seguinte, ele grite e sorria mais alto. Quer ver o rival triste, irritado, “p” da vida. Há casos em que isso acontece com mais frequência, ou pelo mesmo vem acontecendo nos últimos anos. São as freguesias... às vezes isso já basta para o torcedor fanático. Quem é que nunca???
Legal, tudo muito bonito e tudo muito bacana, mas e a bola? E o futebol bem jogado, e os times bem treinados, com alguma coisa diferente, variações de jogo e sistemas, táticas “à la” Europa, futebol total, rápido, com intensidade? Cadê? Alguém viu por aí? Tá escondido?
“Dinheiro na mão é vendaval, é vendaval...”, grande Paulinho da Viola. Mas o futebol coloca a viola no saco e fala em mau tom ao torcedor: “- É assim que é e se não gostar, problema seu...”
Hoje se gasta muito e os resultados são escassos. Falo de brilho, de futebol bem jogado, de assistir a um jogo e esse jogo ficar na memória, não pelo resultado, mas por proporcionar um lindo espetáculo. Tá certo que quem gosta de espetáculo vai ao Teatro, já disse Muricy Ramalho , mas um jogo bem jogado enche aos olhos. Aqui é trabalho!
O futebol padece, sofre de identidade. O tal do DNA, parece estória para boi dormir. Quando se ganha, está tudo bem, o clube é organizado, o planejamento foi perfeito e lembrar que às vezes uma temporada acaba numa bola que bateu caprichosamente na trave e saiu, ou entrou. É sorte ou azar?
Você já parou para pensar quantos clubes mudaram sua história por conta de um detalhe, quantos jogadores se tornaram ídolos ou vilões numa fração de segundo? É tudo muito efêmero, como e a própria vida. Por isso para quê esperar, me diga?
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Aqui, há técnicos que reclamam do tempo de trabalho no futebol brasileiro e têm toda a razão. Nosso calendário teima em não se adequar ao europeu, só a gente é assim na América do Sul. Mas, alguns que reclamam não sabem o que fazer quando têm tempo para trabalhar. Início de temporada é assim mesmo, foco no trabalho físico, cuidados para não lesionar nenhum atleta e trabalho de campo com tempo curto. Tudo normal. Decisão atrás de decisão, jogo após jogo, uma pressão danada pela vitória e... e a performance? Ah, essa deixa para depois!
Claro, há sempre as exceções, no caso uma única e solitária exceção, pelomenos até agora e o ano mal começou: o Santos de Jorge Sampaoli . O agitado técnico argentino, chegou chegando no Peixe e em pouco tempo, já trabalhou o time, que talvez pelo DNA ofensivo, fosse o mais indicado a ele no futebol brasileiro.
O gringo montou um sistema rápido, com jogadores jovens e leves que priorizam o ataque a todo custo e a marcação alta, deixando o adversário sem a saída de bola. A fórmula está funcionando e aos poucos percebe-se uma evolução no jeito de jogar.
É bem verdade que em Itu o time foi goleado por 5x1, uma pane talvez, um grande tropeço ou até, motivo para uma correção na rota. O que ele fez de diferente? Já já o Carnaval vem aí e a gente sabe que “é dos carecas que elas gostam mais...”
Ele coloca em prática suas ideias. Os times dele são assim: não há meio termo; ou se ganha bem ou se perde mal. Marcelo Bielsa certa vez disse que acha Sampaoli, que muitos jornalistas afirmam ser seu discípulo, melhor que ele, pelo simples fato de que o “carequinha” tem um poder maior de adaptar as suas convicções ao resultado de campo, em outras palavras: o “baixinho” é menos teimoso que Bielsa e de certa maneira, revê seus conceitos. Então o técnico do Santos de loco não tem nada!
Fato é que não sabemos no que isso vai dar, se o Santos vai ganhar um ou mais troféus no ano. Para mim o que já fica é a maneira diferente de se trabalhar e pensar o futebol. Gostem ou não, o argentino baixinho que aproveita as praias da Baixada como ninguém, se sente em casa na Vila e respeita a máxima do bom futebol jogado. O que você prefere: ganhar jogando bem, ganhar jogando mal, ganhar simplesmente ou perder dando espetáculo?
Só não venham me dizer depois, caso nenhum título for conquistado, que a experiência não valeu, que foi tudo “pra inglês ver”. No mínimo já vale observar a ousadia e a busca pelo futebol moderno e ofensivo.
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2019, Santos e Sampaoli mostram que é possível fazer diferente, é possível gostar do que se vê em campo e quem sabe, essa lição seja aprendida aqui no nosso futebol que já deixou de ser o melhor do mundo faz tempo. Ano de Copa América aqui no Brasil e de Copa América o baixinho entende, será que o Professor Tite não podia se inspirar um pouquinho, mas só um pouquinho no argentino? “Céloko”...
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