Mariana Becker cobre a Fórmula 1 há 13 anos
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Mariana Becker cobre a Fórmula 1 há 13 anos

Após 25 anos de Rede Globo, 13 deles como repórter da Fórmula 1, Mariana Becker deixou a emissora carioca e tem como nova casa a Band, que adquiriu os direitos de transmissão da categoria .

Em conversa com o iG Esporte neste Dia Internacional das Mulheres , a jornalista falou sobre a mudança e sobre as dificuldades de trabalhar no automobilismo, um meio ainda predominantemente masculino. 

iG: Após 25 anos, 13 deles cobrindo a Fórmula 1, você está deixando a Rede Globo e partindo para a Band. Como se sente tendo a oportunidade de respirar novos ares após tanto tempo?

Mariana : Eu acho tri, acho que é a chance que eu tenho de me renovar. Novos ares são sempre interessantes, você tem chances de fazer coisas diferentes e de colocar em prática novas ideias. Eu acho que toda mudança sempre vem para o bem.

iG: Como foi trabalhar por 25 anos com jornalismo esportivo, principalmente na F1, que ainda é um ambiente predominantemente masculino?

Mariana : Ainda é um meio predominantemente masculino, com cargos de comando masculinos, mas as mulheres estão ocupando cada vez mais espaços e são espaços de opinião: mulheres jornalistas, mulheres engenheiras e mulheres em algumas posições de comando. As coisas começam a mudar quando tem alguém que ouve ou sente parecido, assim espero.

Mas ainda é um meio predominantemente masculino e por causa disso, claro, tem a parte negativa que é o que todo mundo mais quer saber: o machismo. Sim, o machismo ainda é existente e muitas vezes escondido por baixo do tapete do politicamente correto. Mas também tenho grandes amigos homens, apesar de ser de uma família de mulheres, me criei tendo grandes amigos e parceiros. Gosto muito dos ambientes misturados.

iG: Durante este período sentiu alguma dificuldade ou passou por situações desagradáveis somente por ser mulher?

Mariana : Situações escancaradas dentro da fórmula 1, nunca tive. Acho que o fato de todo mundo estar muito mais alerta para esse tipo de assunto, não deixa mais os homens à vontade para dizerem ou fazerem barbaridades para uma mulher. Isso porque tem leis, mídias sociais e o público, antes essas coisas ficavam muito isoladas.

Por outro lado, o fato de você não escancarar, dificulta a defesa. A gente sente esse machismo quando a sua posição é desmerecida e você não consegue avançar, quando as suas informações são descredibilizadas, quando se tem uma posição antagônica e essa posição é difícil de ser respeitada, e quando a parte estética passa a contar mais que o conteúdo, então é aí que a gente vê esse tipo de coisa acontecendo. Além das poucas mulheres em cargos de comando.

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iG: Nestes seus 13 anos de Fórmula 1, nenhuma mulher foi efetivada como piloto de qualquer equipe. Na sua opinião, o que falta para uma maior participação feminina na categoria?

Mariana : Agora, pela primeira vez, a gente tem uma mulher como diretora de corridas da Fórmula 2 e Fórmula 3, isso já é uma grande demonstração de uma transformação. De uma boa transformação.

Primeiro que faltam mais mulheres nas categorias de base. Se você compara o número de homens e o número de mulheres que estão fazendo esse esporte, o de homens ainda é infinitamente maior que o de mulheres. Embora esteja aumentando cada vez mais, ainda é uma coisa recente, então precisa ter um contingente maior de mulheres, para que delas, possam sair outras com capacidade para dirigir uma Fórmula 1.

E claro que, infelizmente, ainda existe um pensamento muito machista no sentido de não acreditarem no potencial de uma mulher ao menos que ela pareça a mulher-maravilha, ao menos que ela chegue arrebatando todos os primeiros lugares de todas as categorias, que seja um fenômeno absoluto.
Ainda há um descrédito e uma certa desconfiança da capacidade de uma mulher em pilotar Fórmula 1. Se você sai do mainstream, da conversa pública, e vai para as pequenas rodas, dificilmente vai ouvir um cara dizendo “daqui a pouco vai ter uma mulher” ou "tô esperando a fulana, ela é muito boa”, dificilmente.

iG: Ao contrário da F1, emissoras como Globo e Band começam a ter maior presença feminina como narradoras e comentaristas de futebol. Espera que esse número aumente também no automobilismo?

Mariana : Não tem sentido algum essa disparidade, eu acho que precisa e acho ótimo que hoje em dia, a gente já esteja vendo comentaristas, narradoras e mais mulheres ocupando posições que não eram ocupados.

A sociedade também tem que se acostumar com uma mulher narrando, com uma voz feminina e mais aguda. Tudo isso vai mudando, o quanto que a voz mais aguda passa a incomodar ou passa a ser um ponto interessante e positivo pra quem está narrando. Eu acho que é uma fase de transformação, uma fase em que as pessoas têm que estar abertas.

Às vezes, a impressão que eu tenho é que homens, e mulheres também, se esquecem que nasceram de mulheres, que pra humanidade continuar é preciso haver essa conjunção entre homens e mulheres. Portanto, não há mais justificativa para que esses e outros ambientes não sejam ocupados. Uma mulher é muito diferente de um homem e o que se busca é igualdade, ter oportunidades iguais, respeito e salários iguais. Nunca houve justificativa para um salário diferente e hoje, em que as coisas são mais claras, muito menos.

iG: Neste Dia Internacional da Mulher, o que gostaria de dizer para as mulheres que sonham em seguir carreira em locais predominantemente masculinos, como o jornalismo esportivo e o automobilismo?

Mariana : Eu dou força, acho que tem que meter as caras no que você gosta de fazer. Se você não quiser, tem que ser porque você não gosta, não por achar não ser capaz pelo fato de ser mulher. Isso não tem que existir em argumentação alguma nas escolhas profissionais. O fato de ser mulher não pode ser nenhum obstáculo para fazer o que você tem vontade, talento ou o que pode fazer muito bem.

E assim como tem homens e mulheres que não vão gostar da competição, existem homens e mulheres que vão gostar da presença de outras, inclusive eu. Então pode mandar brasa, pode vir que eu dou força!

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