Judô canalizou agressividade da campeã olímpica Rafaela Silva
Técnico percebeu o talento da campeã olímpica, a quem descrevia como um "diamante bruto" e investiu no treinamento e na formação dela como atleta
A judoca Rafaela Silva sempre foi considerada uma atleta agressiva, às vezes até passando dos limites dentro da luta, mas ninguém diria isso se a visse pela primeira vez entre o momento em que deixou o tatame e se encaminhou para o vestiário, onde iria se preparar para a cerimônia de entrega de medalhas após ter sido campeã olímpica no Rio de Janeiro . No caminho, encontrou Geraldo Bernardes, seu primeiro técnico, e lhe deu um afetuoso abraço. Foi ele quem começou a transformar a menina.
Bernardes já participou de cinco Olimpíadas e, nos Jogos do Rio de Janeiro, treina os judocas da equipe de refugiados. Ele lembrou como iniciou a trajetória da campeã Rafaela no esporte que a consagrou. "Desde que ela começou comigo, aos oito anos de idade, ela tinha muita agressividade. Ela vinha de uma comunidade onde 'a bola é minha e ninguém chuta', e acabou com 'a pipa é minha, eu pulo o muro, eu dou na cabeça dos outros'", lembra o treinador.
E ele vai além. "Vi desde o início que era muito importante se eu conseguisse canalizar essa agressividade dela para o judô. Um dia eu vi Rafael sentada com a Raquel (sua irmã) e falei que iria colocá-las na seleção brasileira do esporte. Eu tinha ido a algumas Olimpíadas, e com o conhecimento que tinha, eu estava vendo um diamante bruto aí. Foi o que aconteceu".
Confira
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Do começo à glória
Transformar Rafaela Silva em uma judoca internacional e, mais do que isso, campeã, não se resumiu aos ensinamentos no tatame. "O professor Geraldo foi a pessoa que acreditou em mim. Quando comecei no judô, ele pegava o cartão de crédito escondido da esposa para pagar minhas viagens e alimentação. Tudo o que ele fez por mim agora eu posso pagar com a medalha", conta a medalha de ouro no Rio de Janeiro.
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O reconhecimento da atleta ao professor Geraldo Bernardes é imenso. Aos poucos, aquele diamante bruto foi sendo lapidado e toda a energia de Rafaela foi canalizada para o tatame. A própria atleta confessou que sentia que suas adversárias estavam com metade da energia que tinham, pois parecia que a torcida estava diminuindo suas rivais. Na verdade, era a brasileira que se estava se agigantando diante das dificuldades.
Com o ouro olímpico e a meta de tornar Rafaela uma campeã olímpica, o treinador agora tem a sensação de dever cumprido e está satisfeito. "Tem gente que tem as homenagens quando morre. As minhas estão acontecendo comigo ainda vivo", finalizou Bernardes.