Os judocas do Congo que eram presos em jaulas e hoje sonham com medalha no Rio
Congoleses Yolande Bukasa e Popole Misenga estarão no primeiro Time Olímpico de Refugiados ao lado de outros oito atletas
No Brasil desde 2013, os judocas congoleses Yolande Bukasa e Popole Misenga estarão na equipe de atletas refugiados que vão competir sob a bandeira do Comitê Olímpico Internacional nos Jogos do Rio 2016.
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No entanto, mais do que brigar por medalhas, os judocas do Congo Yolande e Popole esperam aparecer na TV durante a competição e, assim, serem vistos por suas famílias, de quem estão distantes há quase 20 anos.
"Não sei se estão vivos", diz Yolande, que vive de favor na Cidade Alta, favela na Zona Norte do Rio.
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"Em uma competição no Brasil, todas as pessoas na África vão querer ver, vão assistir na televisão", emenda Popole, que mora com a esposa brasileira e crianças em um quarto e sala na favela Cinco Bocas, em Brás de Pina.
Os congoleses vieram ao Brasil disputar uma competição internacional três anos atrás. Mas contam que o chefe da delegação congolesa os deixou no hotel sem dinheiro nem passaportes.
"Não aguentei de fome. Fugi", lembra Yolande.
Acabaram ficando por aqui. Mas ela e Popole reviveram no Brasil algo que haviam experimentado em seu país natal: abandono, maus-tratos e fome.
"Passei fome tantas vezes que me acostumei", diz Yolande.
Quando crianças - ela aos dez anos de idade, ele, aos sete -, os dois deixaram suas casas sem olhar para trás. Moradores da região do Bukavu, área fronteiriça com Ruanda, eles sobreviveram à sanguinária guerra civil congolesa, que dexou cerca de 6 milhões de mortos e mais de 500 mil refugiados.
"Eu, criança pequena, voltei da escola e saí na rua pra brincar. E nunca mais voltei pra casa", lembra Yolande, que não teve, desde então, notícias de sua família.
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Popole fugiu para a floresta. "Comia frutas". Acabou resgatado e levado a um centro para crianças refugiadas, na capital Kinshasa. Ali, conheceu Yolande, quando ambos começaram a praticar judô.
Campeões em seu país, começaram a viajar com a seleção nacional.
"Quando vencíamos, ganhávamos algum dinheiro. Quando perdíamos, nos colocavam numa jaula", relembra Yolande.
Já no Rio, ao deixarem o hotel, foram ajudados por angolanos e congoleses que os levaram para a região de Brás de Pina.
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Popole logo foi apelidado pelos vizinhos de Cinco Bocas de Popó. Conheceu a brasileira Fabiana e teve um filho. Yolande ainda luta para conseguir um lugar para morar.
A ajuda mais concreta que receberam foi do Instituto Reação, do ex-judoca e medalhista Flávio Canto.
"Além de treinamento, nós temos uma equipe multidisciplinar, com nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e preparador físico. Eles têm uma cesta básica e um kimono", lista o treinador Geraldo Bernardes, quatro vezes à frente da equipe olímpica brasileira e responsável pelas atividades no Reação.
Geraldo reconhece que as chances de medalha dos dois atletas não são grandes, mas se diz confiante.
"Técnico que é técnico tem que acreditar nas coisas improváveis."