Campeã olímpica, Rafaela Silva brilha mais uma vez diante da torcida no Rio
Ouro sai para alguém que veio de uma infância pobre na favela da Cidade de Deus e iniciou ainda na infância a prática do judô "por brincadeira"
Nascida no Rio de Janeiro e criada na Cidade de Deus, Rafaela Silva não poderia escolher um palco mais especial para viver seus maiores momentos na carreira. Foi novamente em sua cidade natal, diante da família, amigos e de uma imensa torcida, que a judoca de 24 anos brilhou e conquistou a medalha de ouro na categoria até 57kg nesta segunda-feira, o primeiro brasileiro nesta edição dos Jogos.
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Rafaela já havia feito a festa em casa há três anos, naquele que até então era seu principal título na carreira. Em 2013, faturou o ouro no Mundial do Rio ao derrotar a norte-americana Mari Malloy na decisão, feito que, por si só, já serviria para consagrar seu nome no judô brasileiro.
Mas a ainda jovem atleta queria mais, e mesmo sem o favoritismo, passou por cima de todas as adversárias nesta segunda-feira para subir de novo ao lugar mais alto do pódio. Apenas 11.ª do mundo, ela superou logo em sua segunda luta a vice-líder do ranking, a sul-coreana Jandi Kim. Depois, bateu a nona, a húngara Hedvig Karakas, a décima, a romena Corina Caprioriu, até finalmente superar a número 1 do mundo, a mongol Sumiya Dorjsuren, por wazari na decisão.
Feito inimaginável para quem saiu de uma infância pobre na favela da Cidade de Deus e iniciou ainda na infância a prática do judô "por brincadeira", como ela própria definiu, no projeto Instituto Reação, do ex-judoca Flávio Canto.
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Em 2012, ainda aos 20 anos, viveu em Londres o sonho de disputar sua primeira Olimpíada, mas viu o momento virar pesadelo com uma contestada derrota na segunda rodada para a mesma húngara Karakas que bateria nesta segunda-feira. Na ocasião, foi eliminada depois que o árbitro considerou um golpe aplicado por ela ilegal.
Mais do que deixar a disputa da medalha, Rafaela precisou lidar com o racismo dos próprios compatriotas, que foram às redes sociais e atacaram a judoca chamando-a de "macaca". Ela, então, não se calou, respondeu as ofensas e previu: "Errei e sei que tenho capacidade de chegar e conquistar uma vaga para 2016".
Rafaela não só conquistaria a vaga profetizada, como surpreenderia e ficaria com a quarta medalha de ouro do judô brasileiro na história da Olimpíada. Ela igualou o feito de Aurélio Miguel, em Seul-1988, Rogério Sampaio, em Barcelona-1992, e Sarah Menezes, em Londres-2012. Foi também a 20.ª medalha do País na modalidade.