Atletas ainda esperam ter mais apoio financeiro e visbilidade. "Em Londres, tiraram essa barreira de olímpico e paralímpico. Quem sabe não conseguimos aqui?”, afirma velocista Verônica Hipólito
Além de ter de superar as dificuldades diárias em um país que não facilita a acessibilidade dos deficientes, os atletas paralímpicos brasileiros têm que enfrentar e transpor mais barreiras no esporte, como a falta de apoio e a pouca visibilidade. Com uma Paralimpíada em casa, na Rio 2016, eles esperam aproveitar o evento para mostrar aos brasileiros que merecem atenção maior.
“As pessoas veem muito o atleta paralímpico como alguém que tem deficiência e quer fazer esporte. Não é isso. Eu penso que é um atleta com lesão, por isso é separado em categoria. Teremos uma grande chance, será um evento acessível. Com uma campanha mais forte, dá para colocar mais gente lá dentro. Em Londres 2012, conseguiram tirar essa barreira de olímpico e paralímpico. Quem sabe não conseguimos aqui?”, afirmou a velocista Verônica Hipólito.
Uma das grandes dificuldades para os atletas é obter patrocínio ou até mesmo apoio federal. Enquanto o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) conseguiu R$ 200 milhões de repasses da Lei Agnelo/Piva (arrecadação das loterias federais), o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) ficou com R$ 40 milhões em 2015. Menos mal que, para 2016, essa divisão de 85% contra 15% será menor (62,96% a 37,04%) e, com a sanção da Lei de Inclusão, permitirá arrecadação de R$ 120 milhões ao CPB.
Leia também
+ A virada do ex-BBB Fernando Fernandes
“Somos alto rendimento, ficamos em sétimo lugar na Paralimpíada, isso é uma potência no esporte! Muitos ainda nos veem como pessoas com deficiência e batalhamos todo dia para mudar isso. Tem que olhar a medalha, o suor, a dor, o resultado. Depois, se quiser complementar, fala o que a gente teve”, desabafou Verônica.
Que completou: “Tive que acompanhar pela Internet o Mundial de Paratletismo. Isso magoa e atrapalha. Quando tem visibilidade, as empresas percebem que você pode ir adiante com mais apoio.”
Nem mesmo o desempenho muito superior nos Jogos Paralímpicos em relação aos Olímpicos foi capaz de mudar o panorama ou facilitar a busca por patrocinadores.
“A luta foi muito grande até conquistar o primeiro patrocinador e continua dia a dia para que as pessoas se interessem em nos apoiar. O segredo é não desistir nunca”, revelou o fundista Odair Santos, dono de sete medalhas paralímpicas (três de prata e quatro de bronze) em Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012.
Com muito a aprender e a desenvolver, o Brasil terá uma chance de ouro em 2016. O processo não será dos mais fáceis, mas superar as dificuldades é algo que os paratletas conhecem bem.
“O esporte paralímpico tem que mostrar que, além de superatletas, somos super-humanos que superamos a adversidade física e do dia a dia para conquistar um objetivo. Temos que criar nosso espaço e é possível porque são histórias muito fortes, duras, pesadas. Há coisas fantásticas de pessoas que deram a volta por cima. Esse é o caminho. A deficiência é algo novo nos olhos da sociedade e temos o papel de quebrar essa barreira do que é incapacidade e deficiência física”, ressaltou Fernando Fernandes, da paracanoagem.
Além de enfrentar a barreira do preconceito, a próxima Paralimpíada é encarada como a chance de servir de exemplo e desenvolver ainda mais os esportes. “Podemos incentivar crianças e pessoas que estão em casa desacreditadas. A partir do momento em que observarem as competições e o nosso desempenho, elas podem mudar o pensamento e, quem sabe, começar a praticar um esporte paralímpico”, acrescentou Odair.