Veja detalhes do processo que converteu tribunal em arquibancada
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Veja detalhes do processo que converteu tribunal em arquibancada

A absolvição da suspensão do atacante Bruno Henrique, do Flamengo, do processo que ele respondia por manipulação de resultado, envolvendo apostas esportivas, foi o ponto final de uma batalha que extrapolou os limites judiciais. No julgamento, transmitido ao vivo do plenário do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio de Janeiro, auditores e advogados de defesa já chamavam a atenção sobre o clamor midiático envolvendo o caso, que inflamou torcedores e envolveu diretamente clubes em uma guerra de bastidores. 

O placar 6 a 3 em favor Bruno Henrique foi comemorado pelo Flamengo. A maioria dos auditores não considerou que o atacante infringiu os artigos 243 e 243-A (atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente), do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, e manteve a condenação no artigo 191, aplicando multa de R$ 100 mil ao jogador. 

Em contrapartida, a sentença foi vista como exemplo de impunidade por parte da mídia esportiva e torcedores rivais. Além disso, o caso Bruno Henrique tem gerado manifestações públicas de dirigentes do Palmeiras, principal rival do Flamengo na reta final da temporada. 

A deliberação do pleno do STJD anula a suspensão de 12 jogos imposta ao atacante pela 1ª Comissão Disciplinar. A determinação havia sido proferida no dia 4 de setembro, entretanto, no dia 13 do mesmo mês, o STJD concedeu efeito suspensivo e liberou o jogador a continuar atuando pelo rubro-negro. 

Detalhes da investigação 

O Portal iG teve acesso ao inquérito da Polícia Federal que investigou o caso em que Bruno Henrique teria forçado um cartão amarelo para beneficiar apostadores e familiares na partida contra o Santos pelo Campeonato Brasileiro de 2023. 

Descrição dos cartões sofridos por Bruno Henrique no inquérito
Reprodução / Inquérito da Polícia Federal
Descrição dos cartões sofridos por Bruno Henrique no inquérito










Súmula

O inquérito analisa a conduta de Bruno Henrique, que foi capitão do Flamengo na ocasião. O documento cita possíveis lances em que o jogador poderia ter sido advertido pelo árbitro Rodrigo Klein ao longo da partida. Contudo, o jogador só recebeu o cartão amarelo nos acréscimos do segundo tempo por uma entrada "temerária"em Soteldo do Santos. Após reclamação, o camisa 27 rubro-negro foi expulso. Na súmula da partida, anexada ao inquérito, o árbitro relata o episódio. 

"Informo que expulsei por decorrência do cartão vermelho direto, o atleta nº 27 da equipe C. R. Flamengo, o sr. Bruno Henrique Pinto, por me ofender com as seguintes palavras: "você é um merda", com o dedo em riste em direção ao meu rosto, após a marcação de uma falta e também após ter sido advertido com cartão amarelo. após ser expulso, o atleta veio em minha direção, sendo contido pelos seus companheiros. informo que me senti ofendido"

Súmula do jogo entre Flamengo e Santos pelo Brasileirão de 2023
Reprodução/ Inquérito Polícia Federal
Súmula do jogo entre Flamengo e Santos pelo Brasileirão de 2023










Durante o julgamento, a defesa do jogador alegou que a finalidade de forçar o cartão amarelo era um planejamento do Flamengo no intuito de antecipar uma suspensão do jogador, que estava pendurado e corria o risco de desfalcar o clube numa partida estratégica da competição daquele ano.

Envolvimento de familiares

A investigação se iniciou após um relatório produzido pela Associação Internacional de Integridade nas Apostas Esportivas (IBIA), que suspeitou de movimentações atípicas de apostadores no episódio (cartão amarelo em Bruno Henrique) em site especializados. 

Diante disso, a Polícia Federal indentificou que os envolvidos seriam familiares de Bruno Henrique. O irmão do atleta, Wander Nunes Pinto Junior, a cunhada, Ludymilla Araújo Lima, e a prima do jogador, Poliana Ester Nunes Cardoso, passaram a ser investigadas. Mensagens em aplicativos de celular foram obtidas pelos investigadores e deram indícios sobre a premeditação da conduta dos suspeitos. 


Familiares de Bruno Henrique criaram contas em sites de apostas na véspera do jogo
Reprodução/ Inquérito Polícia Federal
Familiares de Bruno Henrique criaram contas em sites de apostas na véspera do jogo




"O relatório da IBIA apontou anormal confiança dos apostadores na ocorrência em questão. O volume de apostas direcionadas nesse evento específico em cada operadora foi considerada uma atividade suspeita. De acordo com o relatório, cada operadora não recebeu apostas em seleções distintas no mercado de cartões. Dessa forma, não haveria explicação razoável para observação desse mesmo padrão em 3 empresas de apostas diferentes", relata o documento.  

Ainda segundo a IBIA, "os apostadores envolvidos formaram uma combinação de contas recém registradas nas operadoras e de clientes já estabelecidos que aumentaram valores significativamente para apostar no cartão de Bruno Henrique"

Veja abaixo o valor movimentado pelos familiares: 

-Operadora 1 (Kaizen Gaming): aproximadamente R$ 3.050,00 para lucrar
aproximadamente R$ 6.100,00.
-Operadora 2 (Galerabet): R$ 2.300,00 para lucrar aproximadamente R$
4.700,00.
-Operadora 3 (KTO): R$ 1.500,00 para lucrar aproximadamente R$ 3.050,00.

Contudo, após o episódio, o lucro obtido não foi debitado na conta dos envolvidos, em função da suspeição das apostas. Em outras mensagens de texto, o irmão de Bruno Henrique se queixa do ocorrido e pede dinheiro ao jogador. 


Em função da movimentação suspeita, o dinheiro das apostas foi bloqueado e gerou insatisfação de familiares
Reprodução/ Inquérito Polícia Federal
Em função da movimentação suspeita, o dinheiro das apostas foi bloqueado e gerou insatisfação de familiares











Além de familiares, a Polícia Federal identificou o envolvimento de outras 6 pessoas que apostaram no cartão amarelo do atleta. Contudo, o relatório da PF não apontou uma ligação direta entre os suspeitos e o atleta do Flamengo. 

Veja o volume total arrecadado 

Volume total de apostas para que Bruno Henrique tomasse o cartão contra o Santos
Reprodução/ Inquérito Polícia Federal
Volume total de apostas para que Bruno Henrique tomasse o cartão contra o Santos



Guerra fria na reta final da temporada

Na reta final da temporada, o Bruno Henrique passou a ser peça fundamental na equipe de Filipe Luís. Com Pedro fora após fraturar o braço, BH tem sido o "camisa 9" do Flamengo, que disputa cabeça a cabeça o título do Brasileirão com o Palmeiras. Faltam 6 rodadas para o fim do campeonato nacional. Além do Brasileirão, os rivais ainda se encontram na final da Copa Libertadores, em Lima, no Peru. 

A disputa entre os clubes tem se acirrado, inclusive, fora das quatro linhas. No começo da semana, a presidente do Palmeiras,  Leila Pereira, se manifestou sobre o julgamento de Bruno Henrique e comparou o caso com a recém punição ao jovem Allan, do alviverde, que na mesma sessão do STJD, foi punido por 2 jogos de suspensão por ter recebido cartão vermelho numa partida contra o Fluminense. 

“O Palmeiras sempre respeitou, e seguirá respeitando, as instituições, mas espera o mesmo respeito de volta. O que está acontecendo não é justo. Um atleta é condenado por uma infração grave e joga normalmente por 2 meses, inclusive fazendo gols e decidindo jogos. Aí, quando finalmente é marcado o novo julgamento, vota-se pela absolvição deste atleta e a sessão é adiada. Enquanto isso, o Allan, que era réu primário, pega 2 jogos de suspensão por um lance de jogo e depois tem a punição ratificada pelo Tribunal em pouco mais de 15 dias. E tudo isso acontece em uma semana decisiva, quando já teríamos vários desfalques por conta da Data FIFA. Não queremos ser beneficiados, mas não aceitamos ser prejudicados. O Palmeiras espera que o STJD adote uma postura equilibrada, para que suas decisões não influenciem o curso de um dos campeonatos mais disputados dos últimos anos. Que o campeão seja decidido dentro de campo”. 




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