Nesta quinta-feira, o Flamengo completará 26 meses do dia mais triste de sua história. O incêndio no CT Ninho do Urubu, que resultou na morte de dez jovens das categorias de base do clube, ainda deixa marcas em quem viveu de perto toda tragédia da manhã de 08/02/2019. É o caso da auxiliar de serviços gerais Daniele da Silva. Primeira pessoa a presenciar o incêndio, ela foi demitida pelo Flamengo no último dia 24 após cinco anos de clube e fez revelações importantes sobre o ocorrido.
Em entrevista ao DIA, Daniele deu detalhes das cenas de terror que presenciou naquela manhã. Ela contou como fez para pedir ajuda ao segurança que estava de plantão e revelou que a maioria dos extintores de incêndios utilizados por ele para tentar apagar o fogo não funcionaram. Ao todo, segundo ela, o funcionário recorreu a cinco equipamentos, mas só um funcionou de forma adequada.
- Não usei extintores. Porém, vi que apenas um funcionou, do total de cinco. Neste dia, cheguei por volta de 05h50 ao Ninho, passei pela portaria central, bati meu ponto, dei bom dia ao segurança de plantão e desci. Chegando lá, estava tudo normal. Depois de um tempo, avistei uns atletas na porta do contêiner e uma fumaça preta com clarão saindo pelo teto. Saí correndo para a portaria, onde havia passado alguns instantes antes, e chamei o segurança. Ele veio correndo para ajudar. Quando chegamos em frente ao contêiner, o fogo já estava intenso. Foi muito rápido. Fiquei parada vendo aquilo tudo na esperança de não ter mais ninguém lá dentro. Mas logo saiu um menino e disse: 'tia, tá cheio de gente lá dentro'. Eu pirei na hora. O fogo já tinha tomado conta da única porta de entrada do contêiner - disse Daniele.
Daniele também diz que teve que voltar a trabalhar no Ninho apenas uma semana após o incêndio, ainda com os escombros da tragédia. Ela pediu ao RH para ser transferida para o CEFAN, onde são realizadas as peneiras do Flamengo, e foi atendida, mas o clube fez com que ela retornasse ao local em diversas oportunidades. Segundo a ex-funcionária, a Justiça determinou que ela não prestasse serviços no CT, o que foi ignorado.
- Uma semana após o acidente, me colocaram para trabalhar no Ninho, ainda com todos os escombros lá. Se não me engano, trabalhei lá em um período de três semanas a um mês. Depois, entrei em contato com a Roberta Tannure (chefe do RH) e pedi transferência. Ela aceitou e me levou para o CEFAN. Em janeiro deste ano, não houve expediente por lá. Me retornaram para o Ninho e tive que trabalhar o mês todo no local do incêndio. Em fevereiro, com a volta das atividades, fui novamente para o CEFAN. No entanto, o Luiz Humberto, Gerente do Ninho, me deslocou novamente para o CT alegando que havia demitido uma funcionária e que eu precisaria cobri-la. Pelo Ministério do Trabalho, eu não poderia voltar para lá, mas ele não quis saber de nada - declarou.