Desde segunda-feira, a CBF inseriu no protocolo do Brasileirão a mesma linha utilizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do serviço de saúde dos Estados Unidos, e reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em julho. Ou seja, um novo exame de PCR positivo após dez dias da última testagem não significa que a pessoa tenha o vírus no corpo capaz de transmiti-lo a outro. A partir disso, a entidade liberou os quatro jogadores do Atlético-GO para a partida com o Flamengo, nesta quarta-feira. As diretrizes, no entanto, não dão 100% de segurança aos jogadores, garantem especialistas. O futebol , lembram, tem suas características próprias. Não se joga de máscara, por exemplo.
O infectologista Alberto Chebabo, do Hospital Universitário Clementino Fraga, da UFRJ, confirma que é possível escalar os atletas neste caso específico. Ele explica que, segundo a literatura médica, já se considera que esta pessoa não tem potencial de transmissão. Mas faz uma ressalva.
– Qual o risco que se quer correr? É zero? Então não faz campeonato nesses moldes. É quase zero? Então não escala jogador nessas condições. Porque, se não fosse jogador, esta pessoa teria de usar máscara para evitar qualquer risco mínimo de transmissão – diz Chebabo, que complementa: – Os protocolos servem apenas para minimizar os riscos de transmissão.
Chebabo explica que a nova diretriz americana e reconhecida pela OMS é baseada em estudos em que o vírus, após o oitavo dia de infecção em pessoas que não apresentaram sintomas, não conseguiu se reproduzir em cultura de células em laboratório:
– Hoje, já se considera sem risco de transmissão a pessoa assintomática após o oitavo dia.
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Guilherme Werneck, do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concorda com Chebabo. Mas, a diretriz não pode ser considerada uma "verdade universal", ou seja, não se deve assumir que todos os casos serão assim. Ele diz que entende que a quarentena inicialmente considerada é mais longa do que as evidências mostraram ser necessárias.
– Mas é muito complicado assumir que é isso. Vírus não vive fora das células, ele precisa estar na célula para sobreviver e se multiplicar. De uma forma geral, é muito improvável que o PCR seja de resquícios. Pode ser? Pode. Mas pode não ser. Vai assumir este risco? Para mim, se o PCR dá positivo, não deve liberar para entrar em campo. Mas, se foi positivo, assintomático, e depois de sete dias seu PCR deu negativo, tudo bem. Não se deve partir do princípio que todos os casos assintomáticos por este período são casos de pessoas que não transmitem a doença. É sutil a diferença – comenta Werneck, referindo-se de forma genérica à questão. – Não faz sentido, é loucura liberar nessa situação. Na população existe muita variação e é muito difícil traduzi-lo para uma prática universal. Há pessoas que eliminam o vírus cinco dias mas tem os que eliminam após 20 dias. Muito ruim apelar para isso ou aquilo para tomar decisões coletivas.
Werneck lembrou, inclusive, que de cada cinco casos positivos, um não é detectado no PCR e por vários motivos:
– Isso quer dizer que mesmo dando negativo, não quer dizer que uma pessoa não tenha o vírus. Estamos lidando com um vírus e uma doença ainda desconhecida – afirma o epidemiologista, ressaltando que também não é conhecimento das sequelas que jogadores de alto nível poderiam ter. – Sabemos que os doentes que tiveram sintomas podem ter sequelas pulmonares, cardíacas, neurológicas entre outras, pelo menos a curto prazo. Não se sabe ao certo o que acontece com os assintomáticos. Por isso, acho que não seria recomendável para os esportistas voltarem assim tão rápido à prática esportiva e nesse nível de exigência. É muito obscuro ainda.