O técnico Tiago Nunes foi contratado, principalmente, para implantar uma filosofia mais ofensiva no Corinthians , porém, até o momento, o time repete o baixo número de gols de temporadas anteriores. Em 2020, foram 17 em 14 jogos, uma média pouco superior a um gol por partida. Mas, qual é a explicação para tamanha dificuldade?
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Para desvendar o motivo dessa escassez, o iG entrevistou com exclusividade o ex-atacante Luizão , que sabia como poucos encontrar o caminho das redes. Maior artilheiro brasileiro da história da Libertadores; pentacampeão do Mundo; e ídolo nos três grandes da capital paulista, o jogador não aponta a qualidade dos centroavantes do Corinthians como o motivo principal para falta de gols do time alvinegro. “Em qualquer equipe, a bola tem que chegar com qualidade ao centroavante. O Boselli já rodou o mundo e fez gol por onde passou. Da mesma forma o Vagner Love, que também tem qualidade para marcar. Só que eles precisam ter a chance de empurrar a bola para rede. Vai fazer gol como se a bola não chega como deveria?”, questiona o ex-centroavante.
Mesmo lembrando da dificuldade do atual Corinthians em criar e municiar os atacantes, Luizão também não joga toda a culpa em cima do treinador. “É mais fácil criticar o treinador. O Tiago já mostrou ser um grande técnico, tanto é que foi campeão no Athletico-PR, porém, a situação financeira do Corinthians não é boa. Às vezes, ele pede alguma contratação que mudaria o patamar do time, mas, diante da situação, clube não consegue trazer. Tem que ter paciência nesse momento e apostar na base, já que não tem como investir. O momento do time não é bom, mas, ainda é cedo para falar que o técnico não deu certo”, garante.
Na visão do atacante, aliás, o problema da falta de gols não acontece somente no Corinthians. Segundo ele, além do Brasil, o mundo busca novos “matadores”. Mesmo elogiando o atacante Gabigol e a dupla que mantém com Bruno Henrique, apontando que ambos seriam, em sua visão, titulares da seleção brasileira hoje, o ex-centroavante coloca o jovem Matheus Cunha, recém-contratado pelo Hertha Berlin, como um dos mais promissores dentro da área.
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Artilheiro da seleção brasileira sub-23 no Pré-Olímpico da Colômbia, Matheus deixou, em janeiro, o RB Leipzig, por 20 milhões de euros, e tenta continuar crescendo no futebol alemão. “Está faltando ‘9’ no mercado brasileiro e mundial. Hoje, os centroavantes jogam pouco centralizados e os treinadores já os mudam de posição. O Gabigol é um exemplo. Está encantando o Brasil e ajudando o Flamengo a conquistar muitos títulos, mas, joga muito pelo lado. Vejo o Matheus como uma revelação brasileira importante nessa posição”, comenta.
Vale lembrar que Luizão conhece como ninguém a pressão de jogar equipes com grande pressão. O pentacampeão é um dos poucos jogadores brasileiros que conseguiu atuar, ser ídolo e ganhar títulos nos três grandes de São Paulo. Conhecido por ser um atleta de muita entrega dentro de campo, não sofreu, em nenhum momento, com a rivalidade e, até hoje, é respeitado pelas torcidas do Corinthians, São Paulo e Palmeiras. “Um dos fatores que contribuiu para isso foi o momento que atuei em cada uma dessas equipes. O Palmeiras foi no começo de carreira, o Corinthians no meio e o São Paulo mais para o final. Teve intervalos e outros times entre eles, o que ajudou. Mas, o principal é que nunca desrespeitei os rivais em nenhuma das passagens. Sempre joguei para ganhar e me entregava ao máximo dentro de campo. Sou muito feliz pelo respeito que todas as torcidas de São Paulo têm comigo. Posso visitar os três clubes e, graças a Deus, sempre sou tratado com grande carinho”, celebra o ex-atleta.
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Por falar nos três times, Luizão coloca o Palmeiras de 1996 como o melhor de todos em que atuou e lembra o que faltou para a sua passagem pelo Corinthians ser perfeita. “Aquele Palmeiras encantou o mundo e jogava por música. Foi o melhor que atuei. Depois vem o Corinthians de 1999 e 2000 e, em terceiro, o São Paulo de 2005. Times que também eram fantásticos. No Corinthians, tinha jogadores de muita qualidade e só faltou mesmo ganhar a Libertadores. Era para ter matado o Palmeiras naquele primeiro jogo, em 2000. Nossa chance era enorme de vencer a competição, ir para o Japão e trazer o Mundial. O time estava encaixado. Individualmente, aquele ano também foi mágico. Fiz 15 gols em uma Libertadores. Uma marca incrível”, lembra ele, que coloca Amoroso como sua melhor dupla de ataque na carreira.
Aposentado desde 2009, Luizão, que é empresário e palestrante, curte uma nova fase. Recentemente, criou o canal no Youtube “Bem Posicionados”, onde comanda entrevistas ao lado da amiga e jornalista Yara Fantoni. Apesar do pouco tempo, o pentacampeão já conseguiu a presença de grandes nomes do futebol nacional, entre eles, seu ídolo Zico, o volante Vampeta, o goleiro Marcos, além do capetinha Edilson. “O canal quer levar alegria para o povo. É um projeto que estou gostando muito de fazer. Nele, fazemos um bate-papo descontraído e deixamos o entrevistado à vontade para falar o que quiser. Por conta do coronavírus, não estamos conseguindo gravar, mas, já estamos pensando em novos quadros para voltar com tudo. É algo muito bacana e convido a todos para acompanhar”, comenta.
Feliz com o novo projeto, Luizão não esconde, porém, o desejo de estar ainda mais presente no mundo do futebol. Mesmo não descartando totalmente uma carreira de técnico, os olhos brilham quando pensa em trabalhar como diretor de futebol. “É o meu sonho. Nunca briguei com ninguém, sou bom intermediador e gosto muito dessa função. Sobre ser treinador, não vou falar que dessa água não beberei, mas não é algo que me atrai. Queria mesmo é trabalhar como diretor de futebol, fazer esse meio de campo entre os jogadores e a diretoria. Tenho bom papo e entendo que caberia nessa função”, comenta ele, respondendo, sem titubear, se assumiria a função no Corinthians , que esse ano terá eleições para presidente. “Aceitaria na hora”.