Há dez anos o São Paulo sagrava-se pentacampeão brasileiro com uma campanha irretocável. E no meio de um elenco recheado com jogadores consagrados, como Rogério Ceni, Aloísio, Dagoberto, Júnior e Alex Silva, estava o lateral direito Jackson Pereira , que pouco jogou naquela temporada, mas entrou para a história ao conquistar a competição aos 19 anos.
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"Eu sou muito feliz de ter sido campeão brasileiro porque não era fácil, como não é hoje. Só de ter feito parte daquele elenco e ter ajudado em alguns jogos para no final soltar o grito... isso não tem preço", conta Jackson, em conversa com a reportagem do iG Esporte . "Fora que me ajudou muito. Nos Estados Unidos, principalmente, a situação é outra quando você chega como campeão", acrescenta.
O lateral começou a carreira profissional no São Paulo, mas quando criança havia jogado no Internacional de Franca e também no Rio Branco de Americana. Estreou no time de cima em 2007, entretanto no ano seguinte foi emprestado ao Uberaba. Desde então, passou por Mogi Mirim, São Caetano, Botafogo-SP e, em 2010, foi jogar no FC Dallas, dos Estados Unidos, e por conta do bom futebol, o clube norte-americano adquiriu seu passe em 2012.
Na América do Norte, o lateral defendeu também o Toronto FC e o São Francisco Deltas. O escrete californiano, no entanto, foi descontinuado após o fim da NASL, equivalente à segunda divisão, e Jackson, sem clube, retornou ao Brasil em busca de novas oportunidades.
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"Desde que cheguei, há três semanas, eu comecei a trabalhar. Meu intuito é não ficar parado para estar pronto caso alguma oportunidade apareça e aí eu já estarei preparado. De uma hora pra outra pode aparecer uma chance, então eu já vou estar pronto", continua o jogador.
Entre vários assuntos abordados, Jackson Pereira falou sobre a experiência de jogar em solo norte-americano, as amizades dos tempos de São Paulo, o que tem feito para manter a forma enquanto está sem clube e o que ele espera do futuro.
Confira o bate-papo com Jackson abaixo
iG Esporte: O que você tem feito atualmente, já que está sem clube?
Jackson: Eu cheguei há três semanas aqui no Brasil e desde então eu comecei a trabalhar. Hoje faço academia, trabalho na areia e também pratico muay thai. Tudo pra ajudar no condicionamento físico, pra não ficar parado, ou seja, para estar preparado caso apareça qualquer situação. Então eu sempre estou trabalhando, nunca me acomodo e é desse jeito, né. Começando o Campeonato Paulista pode aparecer uma oportunidade de uma hora pra outra, então eu já vou estar preparado. Eu estou sempre em atividade e aos 29 anos eu não quero parar.
E desde eu você voltou, já pintou alguma proposta?
No Brasil ainda não me apareceu nenhuma proposta. Mas eu penso em voltar a jogar aqui se for uma situação certa e para não correr risco. Em 2016 eu vim para o Brasil, fui para um clube e não recebi, então não quero correr esse risco. Por isso tem que ser algo certo. Sei que aqui tem muitos clubes que trabalham sério, caso chegue algo, eu vou analisar com carinho.
Diante da dificuldade em encontrar um novo clube, você acha que foi menosprezado de alguma forma aqui no Brasil?
Não penso dessa forma. Na minha época não era fácil jogar com aqueles jogadores consagrados (no São Paulo). Eu queria sim ter jogado mais, porém não consegui na época e hoje sei que me faltava experiência. Depois de alguns anos ainda busco uma oportunidade, mais sei das dificuldades.
Falando em São Paulo, como você enxerga sua passagem por lá?
Eu subi para o profissional em 2007 e disputei jogos do Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro e também Sul-Americana. Aquele elenco estava recheado de bons jogadores e na minha posição na época tinha Souza, Leandro, Ilsinho, jogadores que já eram consagrados. Mas só de fazer parte daquele grupo e ganhar experiência foi maravilhoso. Mas infelizmente na época eu tive poucas oportunidades.
Você gostaria de voltar ao São Paulo?
Eu sempre deixei bem claro o meu sonho de ser conhecido aqui no Brasil, de voltar a jogar no São Paulo, time que me revelou, que me abriu as portas. Na época não deu certo, porque tinham muitas opções e um elenco recheado de bons jogadores, como falei, e eu não tive mais oportunidades. Só que eu sempre tive esse pensamento de um dia poder voltar e jogar pelo meu time de coração e ainda tenho essa vontade, esse sonho. Eu e o Dagoberto sofremos juntos dos Estados Unidos este ano, porque tenho amigos lá dentro, como o Gilberto. E graças a Deus no final o São Paulo conseguiu sair (da zona de rebaixamento) e ficamos muito felizes por isso. Então se pintasse uma oportunidade eu voltaria sem pensar, nem pelo dinheiro, mas pelo amor. Enquanto isso eu trabalho, porque pode pintar, mas também não pode.
Você tem ligação com o Dagoberto até hoje então?
O Dagoberto é incrível, ele é uma pessoa do bem, tem coração enorme. Desde 2007 quando trabalhamos (no São Paulo) ele me recebeu muito bem, me ajudou demais na época com a experiência que tinha e este ano tive oportunidade de trabalhar com ele no SF Deltas e foi só alegria, só tenho coisas boas pra falar dele. Ele cheira títulos... Posso dizer que hoje ele é um cara realizado no futebol, mas sempre está querendo mais. Tenho uma amizade enorme com ele, mantenho contato, conheci a família dele, os filhos. Até hoje ele me passa experiências e por aí vai... Esse tempo que eu passei com ele lá nos Estados Unidos serviu para eu aprender muito e ainda ganhar mais um título.
Você citou que foi campeão nos Estados Unidos. Fale um pouco sobre sua passagem por lá e quais foram os títulos.
No primeiro ano que eu cheguei nos Estados Unidos, no Dallas, em 2010, eu pude ajudar na classificação para os playoffs (da MLS, a liga norte-americana de futebol), a ganhar a conferência e a chegar na final contra o Colorado. Então foi algo histórico para a cidade, para o time e para mim, pois eles nunca haviam sequer se classificado para os playoffs. Infelizmente não ganhamos aquela final, mas só de ser vice-campeão no meu primeiro ano ali já foi ótimo. Logo em seguida, em 2011, o Dallas já se interessou em comprar o meu passe junto ao São Paulo, já que eu tinha contrato até 2012. Fiquei lá por três temporadas e depois joguei no Toronto FC, do Canadá, por duas temporadas e o último clube foi na Califórnia, o São Francisco Deltas, onde fui campeão este ano. Resumindo: eu joguei três anos no Dallas e dois anos no Toronto, são cinco de MLS. Esse ano eu fui para a NASL, que é a segunda divisão, para jogar no Deltas. Mas meu primeiro título quando cheguei ao Dallas foi o da conferência, aí fomos vice da MLS. No Toronto eu também ganhei a conferência e no Deltas fui campeão. Nos clubes que passei nos Estados Unidos eu acabei ganhando títulos. Por isso posso dizer que já sou bem reconhecido, graças a Deus, e não tenho do que reclamar.
E por que você voltou para o Brasil?
Infelizmente em junho ficamos sabendo que, por falta de investidores, o São Francisco Deltas iria encerrar as atividades ao fim desta temporada. Após esta notícia o grupo ficou unido pra trabalhar neste ano e tentar chegar nos playoffs, e deu certo, porque conquistamos os playoffs e a NASL, mas não vai ter mais o SF Deltas em 2018 e todos os jogadores tiveram que procurar outros clubes.
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E você sempre jogou como lateral direito?
Minha posição aqui no Brasil é lateral direito, lá nos Estados Unidos eu cheguei jogando como lateral direito e depois de um ano, como eu já tinha jogado aqui de ala, me colocaram no meio-campo, como meia-atacante, e comecei a me destacar na posição, fazendo gols, dando assistências e acabei jogando nesta posição no meio. Lá eu sou como um polivalente, não jogo apenas em uma posição. Mas neste último clube eu joguei a maioria dos jogos como ala/lateral.
Sua vida fora do futebol, como é?
Hoje graças a Deus sou casado e tenho uma filha que vai fazer três anos em fevereiro. Graças a Deus minha família é estruturada, consegui minhas coisas trabalhando nos Estados Unidos e com a cabeça no lugar, com tranquilidade, o objetivo é um só: vencer no futebol, por mais que não seja fácil.
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Bom, depois de ter sido campeão em São Francisco, eu fiquei mais motivado para trabalhar em 2018, quero voltar forte independente do time e voltar mais forte do que em 2017. Mas queria ressaltar que como eu cresci no São Paulo, cheguei lá sem condição nenhuma e todo mundo me ajudou, eu tenho o sonho de voltar pra lá. Por conhecer e amar sei que se me dessem uma oportunidade hoje não iriam se arrepender. Tenho certeza que poderia ajudar muito o São Paulo.