Pouca gente ouviu falar em Reinaldo Lobo , mas o jogador brasileiro é destaque na Ásia, mais precisamente no futebol da Malásia. No auge dos seus 29 anos de idade, o zagueiro de 1,86 metro de altura veste a camisa do Penang, mas já defendeu as cores do Figueirense, onde se profissionalizou, e outros clubes menores do Brasil antes de se aventurar no exterior.
Leia também: Time de Manaus entra na briga por Neymar e oferece açaí como pagamento
Lobo, como é chamado por lá, conversou com o iG Esporte e contou um pouco sobre sua carreira na Malásia. Antes de chegar em território malaio, o brasileiro jogou em Portugal e na Indonésia, locais onde passou por alguns perrengues e fez até amizade íntima com presidente de clube.
Na Malásia, o atleta mineiro da cidade de Cataguases joga ao lado de Mohd Faiz Subri , autor do golaço que faturou a última edição do Prêmio Puskas, na Fifa, superando o atacante Marlone, que na época fez uma pintura pelo Corinthians. E Reinaldo quase "evitou" que o seu companheiro de clube marcasse o gol que encantou o mundo e foi o mais votado, pedindo que ele cruzasse a bola ao invés de finalizar direto .
Confira o bate-papo com Reinaldo Lobo:
iG Esporte: Pouca gente te conhece no Brasil. Conte-nos com começou a carreira e por onde já jogou.
Reinaldo Lobo: Eu tive a oportunidade de jogar em alguns clubes do Brasil, mas o sucesso que eu tive foi jogando aqui fora mesmo. Inicei no Academia, perto de Belo Horizonte, e depois fiquei quatro anos no Figueirense, onde me profissionalizei. Fui vitorioso na base do Figueira. Joguei no Itaúna, Itabuna, Novorizontino, aí tive a aventura de ir para Europa, voltei para o Brasil, retornei para Europa e atuei no Paços de Ferreira, na primeira divisão portuguesa. Joguei por um ano na Superliga da Indonésia, no Mitra Kukar, fui super bem, e agora estou completando meu terceiro ano pelo Penang, da Malásia.
Sempre foi zagueiro?
Na verdade eu jogava de volante, antes mesmo de ir para o Figueirense. Quando fui fazer teste no Academia, o cara que me levou me avisou já dentro do ônibus que eu iria jogar de zagueiro. Eu queria descer do ônibus, porque eu nunca tinha atuado daquele jeito. Eu era moleque, estava inseguro por nunca ter jogado na posição, mas ele me convenceu, já estava no meio da viagem.
Leia também: Aos 40 anos, Falcão disputará dois amistosos por time italiano de futsal
E quais suas características? Como se define dentro de campo?
Meu agente era o Cléber (ex-zagueiro do Palmeiras) e ele tem um porte físico avantajado. E também sou um cara de porte físico grande, e isso me ajuda a atuar de zagueiro. Tenho um ponto positivo que é a antecipação, velocidade, sou forte, de alta estatura. Na Ásia o futebol é rápido, muita correria, e com porte físico e velocidade me dá uma vantagem. Me sinto bem na zaga, é a posição ideal para mim, gosto de organizar o time.
Como foi estar no mesmo jogo e presenciar de perto o golaço de Faiz, que acabou ganhando o Prêmio Puskas da Fifa?
O Faiz fez aquele gol ali e tem uma história. No vídeo que viralizou no mundo não mostra antes da falta, eu fui até ele e perguntei onde ele iria colocar a bola. Pedi para ele cruzar e me posicionei entre a marca do pênalti e o primeiro pau, a genta já jogava junto faz tempo. Ele sempre foi fominha, então imaginei que ele pudesse chutar para o gol, mas pedi o cruzamento. Quando ele começou a correr para bola, vi que iria chutar direto. A trajetória da bola mostrava que ela iria para fora, aí quando eu virei para falar com ele, a bola fez uma curva fora do normal e entrou no ângulo. Fiquei sem entender nada, foi uma coisa incomum.
Relembre no vídeo abaixo o golaço de Faiz que ganhou o Puskas:
O sucesso desse golaço subiu à cabeça dele?
Ele não mudou o jeito de ser não. A cultura da Malásia é diferente da nossa, eles não são tão competitivos. Continua sendo o Faiz de sempre, mas a vida dele mudou da noite para o dia, as pessoas procuram ele sempre, já que ele entrou para história do país, nunca ninguém aqui ganhou uma premiação desse nível mundial no esporte, é uma pessoa importante. Foi recebido com festa, recebeu medalha do estado, está sendo bem remunerado pelo que fez.
Qual a maior dificuldade que você encontrou no ainda modesto futebol asiático?
A maior dificuldade é a língua mesmo, tem a língua local, cada estado tem seu dialeto. O inglês é universal, em todo lugar dá para se virar, mas nem um pouco de inglês eu sabia quando cheguei na Indonésia. Eu saía para jantar com o presidente, família do presidente, tentava responder as coisas no improviso, tentar sair de uma situação assim. Meu primeiro ano não foi fácil, eu estava sozinho, ainda sem a esposa.
Jantar com o presidente? Como era essa relação de amizade?
Na Indonésia, em 2014, antes de vir para Malásia, fiz amizade com o presidente do Mitra Kukar, ele me tratava muito bem, é um cara influente no país. Depois do campeonato ele me levou para casa dele para passar uns dias e tudo mais. Num dia, pedi para ir no shopping e ele arrancou um bolo de dinheiro da bolsa falando que era para eu comer lá, e ainda me ofereceu um carro caríssimo para eu ir. Mas o trânsito é caótico, disse que tinha medo de dirigir em Jacarta, aí ele solicitou o motorista para me levar. Não é normal no futebol ter uma amizade dessa maneira com um presidente de clube, foi algo diferente.
Mas dirigir seria tão difícil assim?
O trânsito é mão inglesa, ao contrário. O volante também é ao contrário, como eu iria dirigir? Seria uma loucura.
Você tirou de letra a alimentação na Ásia?
Na Ásia acontece muita coisa. Os caras não usam sal, usam pimenta, o negócio é pesado. Aqui eles comem com a mão, não usam talher, isso para mim foi diferente demais. Tive que passar por essa experiência, normal por aqui. Me atrapalhei todo comendo com a mão pela primeira vez, tem toda uma técnica.
E a passagem pela Europa?
Na primeira vez que fui para Europa, me aventurei, fiz testes na Áustria com outros brasileiros e tudo mais, mas o empresário pediu muito dinheiro e os clubes acabaram desistindo. Fiquei uma semana sem almoço e sem jantar. O agente que estava conosco era da Áustria mesmo, disse que teria que ir para Itália resolver uns negócios e nos deixou sem nada. O hotel só tinha café da manhã, então fomos para um restaurante pedir para o dono fornecer comida, e como ele gostava de brasileiros, sabia que a gente era jogador, deu jantar todos os dias de graça, não pagamos nada.
A performance na Indonésia foi muito boa, apesar de apenas um ano no país. Teve o Jogo das Estrelas, certo?
Na Indonésia eu tive a oportunidade de jogar o Jogo das Estrelas, com os melhores jogadores do país, contra a Juventus. Ali joguei contra Pirlo, Pogba, Buffon, Tevez, Chiellini, Giovinco, Evra e muitos jogadores de alto nível. Pude jogar contra eles e ter esse momento importante na carreira (e foi 7 a 1 para os italianos).
Com tanto sucesso na Malásia depois de três anos, já cogitaram sua naturalização para atuar na seleção do país?
A questão desse tipo de proposta nunca veio de forma oficial, mas muitas pessoas falam que deviam me naturalizar e tal, imprensa, torcedores, mas nunca alguém da Federação disse alguma coisa. Além do que precisa de cinco anos no país para isso.
Leia também: Clube espanhol oferece ingressos para torcedor que tatuar o escudo do time
Se pintasse esse convite para naturalizar, você toparia?
Eu poderia me naturalizar e jogar sim, seria algo bem viável. Até porque já estou adaptado aqui, minha família também, gostamos da Malásia, me sinto em casa. Não seria algo difícil de se fazer não.
E voltar a atuar no futebol do Brasil?
Todo jogador brasileiro tem o sonho de jogar em um clube grande do país, já cresce com esse desejo. Hoje estou feliz na Ásia, sou bem reconhecido pelo que eu faço. Não seria difícil encerrar a carreira e morar aqui na Malásia, onde sou bem feliz no Penang e posso ficar até o fim aqui, mas tendo uma proposta de um time de ponta do Brasil, seria uma realização. Se pintar alguma coisa, converso com a família e se for benéfico, posso voltar sim. Tenho desejo de voltar a jogar no Figueirense.