Os números são símbolos das ciências exatas e representam um panorama racional em relação a algo. Além disso, os algarismos são o princípio de um conhecimento: os números viram medidas, que são dados, que geram informações, que, por sua vez, produzem conhecimento, fundamental para tomadas de decisão que podem gerar transformação, seja lá do que for.
Não é que seja algo hypado, na moda, mas é que ser data driven, ter uma estratégia guiada por dados, é fundamental para o mercado corporativo. O esporte não é diferente. A tecnologia esportiva hoje permite trazer com exatidão, um mapeamentos dos lados de um campo de fuetbol em que o jogador ocupou durante o jogo; a distância que a bola de golfe viaja em um tacada; ou até mesmo a velocidade do saque durante uma partida de tênis. Nada disso é à toa. São parâmetros que possibilitam a estratégia de quem está na posição de escolher o que fazer diante desse oceano estatístico.
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Decentralização dos números
E agora, neste momento que você lê essa coluna (do qual sou muito grato por isso), milhões de pessoas estão olhando para os números e... apostando. Para fazer sentido, vou fazer a leitura da aposta esportiva enquanto um produto de entretenimento. Portanto, as pessoas apostam com um intuito de se divertirem e, até mesmo, otimizar o seu tempo enquanto estão assistindo a algum evento esportivo, por exemplo.
E se você tem dúvidas do universo de apostadores, o Datafolha realizou um levantamento e chegou a conclusão que pelo menos 15% dos brasileiros já realizaram ou fazem regularmente apostas esportivas. Entre os jovens de 16 até 24 anos, o número dobra e chega aos 30%, mesmo as apostas sendo proibidas para menores de 18 anos.
Razão x emoção: uma nova experiência no "torcer"
E aí chegamos a um contexto relativamente novo, que é o da aposta esportiva como parte da experiência de uma partida de futebol (o que explica o volume de publicidade sobre casas de apostas). Um estudo da Deloitte, chamado " 2023 sports fan insights: the beginning of the immersive sports era" , mostra que 44% dos fãs que estão assistindo algum evento esportivo estão consumindo estatísticas. O estudo foi feito com base em pessoas dos Estados Unidos, porém, o hábito não é muito diferente do daqui no Brasil. 15% desses fãs responderam na pesquisa que estão realizando apostas simultaneamente, enquanto assistem ao evento esportivo ao vivo.
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E quem aí já não ouviu alguém que comemorou um gol contra o próprio time por causa de uma aposta? Pois é. Será que esse panamora coloca em cheque o aspecto sentimental? Ou será uma oportunidade inédita que aproxima clubes rivais de torcedores adversários? São questões que teremos respostas ao longo do tempo.
Os "reis dos números" são tchecos
O "mercado dos números" acaba sendo um grande atrativo. E quem entendeu isso, ou melhor, vem entendendo, é a Flashscore. A empresa sediada na República Tcheca, que oferece o serviço de resultados esportivos em tempo real, tem números que falam por si só. Quer ver? Dá só uma olhada:
+ de 231 bilhões de visualizações no site e no app anualmente (só no Brasil, o principal mercado, são quase 30 bilhões de visualizações);
+ de 100 milhões de usuários mensais no mundo (5,7 milhões só no Brasil);
+ de 130 milhões de downloads nas lojas de aplicativos.
Para entender melhor esse mercado que cativa apostadores e fãs esportivos, o Esporte é Experiência conversou com o regional manager da Flashscore no Brasil, Alexandre Vasconcellos.
Leia a entrevista abaixo:
1 – Estatísticas, dados, número, notícias, análises e mais outras coisas. O que falta a Flashscore fazer para que o usuário tenha uma experiência ainda mais imersiva no universo dos números do esporte?
Nosso slogan é “Leia o jogo como ninguém”. Ele se refere ao fato de que nossos fãs e usuários encontrarão informações como em nenhum outro lugar. Além dos placares ao vivo, também oferecemos notícias esportivas, várias estatísticas, podcasts, comentários em áudio, prévias de jogos e muito mais. Nossa seção de notícias se concentra muito no jornalismo de dados - é isso que nos torna especiais. E somos inquietos e estamos sempre procurando novas maneiras de aprimorar a experiência por meio de nossos recursos.
2 – A Flashscore é uma plataforma que reúne estatísticas dos mais diversos esportes, nos mais diversos países no mundo. Porém, é aqui no Brasil o carro-chefe da empresa. Atualmente, os inúmeros sites/casas de apostas esportivas devem ser o principal fator. Porém, as informações são úteis para todo mercado esportivo, já que scouters, managers e analistas de desempenho também precisam dos números para tomadas de decisão. Como a Flashscore avalia esses clusters e qual a estratégia de comunicação com cada um deles? Há alguma separação em B2B e B2C, por exemplo?
O Flashscore é para todos os fãs de esportes, sejam eles torcedores obstinados de um clube ou apostadores que acompanham muitas ligas e esportes. Tentamos fornecer o máximo possível de dados e informações, mas não visamos grupos específicos, como scouters, analistas ou managers. É claro que sabemos que vários profissionais utilizam nossa plataforma e ficamos felizes por isso, pois só reforça nossa credibilidade e assertividade.
3 – A empresa tem sede na República Tcheca (ou Tchéquia). Como funciona a operação desse ecossistema digital que agiliza as informações em tempo real?
Em termos de processos, somos uma empresa centralizada, mas o Brasil, em particular, opera de forma bastante independente. Ele tem uma equipe bem montada, chefiada por mim, como Gerente Regional. Ela é composta por um gerente de projetos, um gerente regional de vendas, um gerente de mídia social, um gerente de áudio, comentaristas de áudio e uma equipe de editores de notícias do Flashscore.
Tecnicamente, inserimos os dados na República Tcheca, mas, graças às tecnologias de nuvem, podemos levá-los rapidamente para o outro lado do mundo. Não estamos falando de atualizações em minutos, estamos falando de frações de segundo, mas queremos ser os mais rápidos em todos os lugares. A transferência de dados entre as mesas de notícias também funciona muito bem; temos um pool global que permite que as mesas individuais recebam notícias umas das outras. Por exemplo, se Vinícius Júnior se machucar em La Liga, os editores brasileiros podem substituir os espanhóis.
4 – É nítido que todos associem a Flashscore com uma casa de apostas. Porém, não é, o que indica que a forma de monetização da empresa é ofertar os espaços publicitários de suas plataformas, afinal são 231 bilhões de app e web views, essa audiência toda é valiosa, obviamente. Se acessarmos o site ou app vamos perceber os banners animados de pelo menos três casas de apostas diferentes. Há alguma intenção da Flashscore buscar outros setores do mercado para estreitar relações comerciais? Se sim, por que não está conseguindo outros parceiros comerciais? Ou então, quais são os parceiros comerciais que a empresa busca a nível Brasil e global?
Sim, faz parte do nosso plano explorar outros setores. Uma das principais razões pelas quais estabelecemos uma operação comercial mais robusta no Brasil é para nos conectarmos adequadamente com esses segmentos e explorar novas oportunidades. Mas novas parcerias levam tempo para serem construídas, e os resultados serão visíveis em breve. Trabalharemos com as principais agências de mídia, parceiros de tecnologia e clientes diretos. Globalmente, nos concentramos em segmentos que são relevantes para o nosso público, como finanças (VISA, Crypto), FMCG (Pilsner Urquell), tecnologia (Hisense), varejo (LIDL), moda (Adidas). As colaborações com afiliados que não são de apostas também são um tema importante em áreas como viagens, emissão de bilhetes, canais de TV de esportes ou plataformas de investimento.
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5 – Em breve teremos os Jogos Olímpicos em Paris. Porém, observando os números da Flashscore, o futebol é a principal fonte de atenção do usuário, com 24,8 bilhões de visualizações anualmente no Brasil. Então, o que me leva a concluir que, mais do que Paris 2024, para a Flashscore, o campeonato Brasileiro Série B é mais importante para a estratégia da empresa. Procede o raciocínio?
Você está muito próximo da verdade. Os Jogos Olímpicos são realmente um evento de grande visibilidade. Mas em termos de comportamento do usuário regular, eles ativam principalmente os fãs casuais, enquanto nós preferimos trabalhar com aqueles que acompanham esportes o tempo todo. Não é que as Olimpíadas não sejam interessantes para nós. O Flashscore News certamente dará a eles a cobertura que merecem. Mas quando se trata de nosso público, futebol é futebol.
6 – Acredito que o volume de usuários e de usabilidade na plataforma é fruto de uma atenção constante da empresa. Como se dá o trabalho de UX/CX da Flashscore mediante a esse universo de consumidores?
A base do nosso trabalho de UX/CX é o contato muito próximo com os usuários, testando regularmente novas melhorias e incorporando o feedback deles ao nosso aplicativo. Temos pesquisadores em todo o mundo que realizam regularmente entrevistas e testes com usuários em vários países. Como somos um serviço usado por usuários de todo o mundo, também é necessário que observemos possíveis diferenças de comportamento.
É um processo completo que envolve entrevistas com usuários, transcrições de entrevistas, testes moderados e não-moderados, versões iterativas do design, dados analíticos e, é claro, métricas de satisfação se um novo recurso estiver em produção. O feedback do usuário sempre foi crucial para nós e é uma prioridade garantir que o Flashscore seja sempre amigável e fácil de usar para todos.
7 – Quase 30 bilhões de visualizações totais na Flashscore vindos do Brasil. 5,7 milhões de usuários mensais. Esse número é o teto, ou dá para ir além disso? E se dá para ir, como a Flashscore vai chegar? Qual é o plano
?
Definitivamente, não é um teto. O Brasil é um dos principais países para nós, mas, considerando o tamanho do país e o número de pessoas que vivem para o futebol, ainda temos uma grande oportunidade de crescer aqui. Não queremos fazer previsões, mas, com um pouco de exagero, poderíamos dizer que queremos estar no celular de todos que não conseguem dormir antes do início da Série A ou da Copa América.
Atualmente, estamos lançando uma campanha publicitária digital que será veiculada desde o início do Brasileirão até o final da Copa América em dois estados brasileiros - Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. No ano passado, realizamos nossa primeira campanha publicitária digital e de TV, com foco no estado do Rio Grande do Sul. Os resultados foram animadores, com um crescimento local de três vezes no número de usuários e um crescimento anual que atingiu 42% em dezembro, superando em muito a média nacional. Este ano, estamos voltando à prancheta com mais investimentos e esperamos consolidar nossa posição de liderança no país.
*Gilmar Junior é atleta de flag football 8x8 do Brasil Devilz, jornalista, especialista em gestão e marketing esportivo e está se especializando em gestão da experiência do consumidor