Apesar de a questão dos transgêneros ter aparecido de maneira muito forte no esporte nos últimos meses, o assunto ainda é muito timidamente tratado no meio. Uma das grandes interrogações, inclusive, não é a sua inclusão - absolutamente obrigatória, assim como qualquer outra pessoa que deseje seguir a carreira de atleta tem direito - mas de que forma essa inclusão de gêneros deve acontecer.

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Junto às modalidades do esporte disputadas por homens, aparentemente, não se discute a sua participação. Mas, nas categorias definidas como femininas, a questão surge de maneira bastante séria e importante. Principalmente por conta da desigualdade de força.

Esporte e gêneros: Tiffany Abreu, jogadora de vôlei transsexual
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Esporte e gêneros: Tiffany Abreu, jogadora de vôlei transsexual

Quando pensamos no esporte que, na sua essência, é eminentemente competitivo, é possível entender e imaginar uma série de fatores que estariam ligados à geração de condições de igualdade competitiva, visando à justiça de um determinado jogo. E é justamente neste ponto que se concentra a discussão.

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Cristiano Parente, professor e coach de educação física, eleito em 2014 o melhor personal trainer do mundo em concurso internacional promovido pela Life Fitness, elencou alguns fatores que são importantes serem observados sobre esse delicado assunto.

Confira abaixo :

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Michael Phelps, lenda da natação

1) O que determina qual o limite de vantagem genética que determinado ser humano pode ter em relação a outro para que todos estejam na mesma categoria ou competição? Essa questão é extremamente ampla. O ex-nadador norte-americano Michael Phelps, por exemplo, poderia ser considerado teoricamente em vantagem genética por ser mais alto, ter mãos maiores e tornozelos mais flexíveis;

2) Nas competições paralímpicas, pessoas com acometimentos absolutamente diferentes são colocadas em condições de disputa através de tabelas classificatórias de limitações, com um alto grau de subjetividade;

3) A utilização de próteses, repositores ou inibidores hormonais, acessórios, etc, também não significam vantagens individuais? Alimentações diferentes, condições de treino, dedicação exclusiva ao esporte, entre outras peculiaridades, viram, neste momento, diferenciadores e fazem do esporte um balaio onde as melhores condições financeiras claramente levam vantagens – embora isso não se discuta.

Sem igualdade

Com esses fatores listados por Cristiano Parente, aparentemente, fica claro que não há igualdade de competitividade em nenhum momento dentro do esporte, independentemente de gênero.

Dessa forma, caímos na categorização da competição esportiva em dois gêneros: masculino e feminino. Num primeiro momento, esse modelo parece ser justo e ideal, mas, ao pensarmos na enorme variabilidade genética do ser humano, passa a perder todo o sentido. E mesmo dentro de uma dessas categorias, a variação genética já age como excludente, já que ela pode tanto favorecer quanto impedir muitas pessoas a terem condições de competir ou de serem atletas. 

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O tema é relativamente recente, ainda pouco debatido e logo deverá ser aprofundado. Segundo Cristiano, se categorizarmos as competições simplesmente em masculino e feminino começa a perder o sentido quando entendemos todas as variações existentes, a solução que se apresentaria seria a não diferenciação por gênero, mas por desempenho.

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Handebol feminino no Rio 2016

Assim, quem desempenhasse melhor na modalidade se transformaria em atleta e estaria devidamente credenciado para competir e atuar como profissional do esporte.

Surge, então, outra questão: a ciência e as pesquisas demonstram que os melhores desempenhos esportivos em atividades que demandam do físico são de pessoas que possuem genética óssea, muscular e hormonal de corpos que nasceram com características sexuais e órgãos genitais masculinos. Ou seja, pensar no ser humano competindo para ver quem tem possíveis desempenhos físicos mais intensos, significa colocar pessoas que nasceram com órgão sexuais femininos em clara desvantagem.

Doping?

Em todo esse debate, ainda entra a questão dos medicamentos proibidos. A utilização de hormônios para o aumento de desempenho é absolutamente proibida. Mas, e para se competir em outra categoria, o uso de hormônios ou inibidores hormonais será permitida? A exposição durante toda a infância a níveis de hormônios masculinos até que se comece um tratamento de inibição não geraria diferenciais de performance?

O tamanho, os detalhes e a importância do tema precisam ser discutidos. Essa é uma lacuna no esporte que deve ser urgentemente preenchida.

Qual a forma de se ampliar a abrangência do esporte para que permita outras categorias e competições realmente equilibradas, além de efetividade no princípio das disputas independentemente de gêneros, raças, deficiências e outras diferenças? Com imensuráveis características genéticas do ser humano, há como se chegar a uma plena justiça e equilíbrio competitivo?

Enquanto as respostas para essas questões estão longe de serem alcançadas, alguns princípios não podem sequer serem questionados:

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Basquete masculino nos Jogos do Rio

- A inclusão total das pessoas ao esporte e o respeito têm que ser obrigatórios, e vão muito além das questões de gênero;

- A simples categorização em masculino e feminino é absolutamente falha;

- Existe uma necessidade urgente de se abrir os olhos e ampliar a visão sobre vantagens e desvantagens genéticas no âmbito esportivo;

- Possivelmente, a categorização por desempenho recorrente medido, independentemente de todo o resto, seja uma das alternativas mais justas e que precisa ter a viabilidade logística estudada e planejada para acontecer, principalmente, nas modalidades individuais, onde o papel das capacidades físicas tenha interferência na possibilidade de resultados. Já nas modalidades coletivas, outras medidas, ainda não claras, também precisam ser consideradas para que haja a inclusão obrigatória de todos no esporte de maneira justa.

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