No primeiro dia de competições dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, mais de 4 mil atletas de 159 países começam a disputar 528 medalhas distribuídas em 23 modalidades. Em sua 15ª edição, a Paralimpíada já vendeu mais de 1,6 milhão de ingressos e pode tornar-se a segunda com maior público da história.
Mas afinal, por que o megaevento passou a ser chamado de Paralimpíada e não mais Paraolimpíada? Há certo e errado?
A BBC Brasil consultou o Comitê Paralímpico Internacional (CPI) e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) em busca da resposta e confirmou que até 2011 no Brasil as competições eram chamadas oficialmente de "Paraolimpíada" ou "Jogos Paraolímpicos", e que os participantes eram conhecidos como "atletas paraolímpicos".
Em 2011, no entanto, após os Jogos Panamericanos de Guadalajara, no México, o CPI determinou que todos os comitês nacionais padronizassem o termo "Paralimpíada" e por consequência "Jogos Paralímpicos" e "atletas paralímpicos". O comitê brasileiro acatou a determinação e mudou a terminologia.
Contactado pela BBC Brasil, o Comitê Paralímpico Internacional esclareceu que, desde sua fundação em 1989, usa o termo "Paralímpiada", do inglês "Paralympics", e que nunca se referiu às competições de outra maneira, mas que alguns países optavam por "Paraolimpíada" por questões linguísticas.
Segundo o CPI, atualmente todos os países que participam dos Jogos já seguiram a determinação e adotam o termo "Paralimpíada". Ou seja, para quem ainda tinha dúvidas, a autoridade máxima do esporte paralímpico deixa claro que é mesmo incorreto se referir à competição como "Paraolimpíada".
Já a história do termo não é tão clara assim. O CPI explica que as origens exatas do termo "Paralimpíada" não são conhecidas e não se sabe quando nem quem usou o termo pela primeira vez, nem o sentido original da palavra quando foi cunhada.
A interpretação atual do CPI é a de que o prefixo grego "para", que significa "paralelo", ou "ao lado", somado à palavra "Olimpíada" formam o termo "Paralimpíada" indicando que o megaevento acontece "em paralelo à Olimpíada" e que os dois movimentos do esporte internacional convivem lado a lado.
Mas a inspiração possa ter sido outra. O próprio CPI indica que no início do movimento paralímpico, em 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial, a ideia possa ter sido juntar as palavras "paraplégico" e "Olimpíada", dando origem ao neologismo "Paralimpíada".
De 1948 a 2016
Da primeira edição dos Jogos Paralímpicos, em 1960, em Roma, até a 15ª, no Rio de Janeiro, muita coisa mudou no esporte paralímpico internacional, que ganhou força ao longo dos anos e em 2012, em Londres, chegou a atrair público recorde de 3 milhões de ingressos vendidos.
No Brasil, embora inicialmente as vendas tenham sido consideradas um fracasso, nesta quarta-feira o Comitê Rio 2016 confirmou 1,6 milhão de bilhetes vendidos e contemplou a possibilidade de ultrapassar a marca de Pequim 2008, com 1,7 milhão vendidos, o que colocaria o Rio como a segunda Paralimpíada com maior público da história.
Se em 1960 eram 400 atletas de 23 países, hoje o megaevento reúne mais de 4 mil atletas de 159 países. Os Jogos Paralímpicos de Inverno, realizados pela primeira vez em 1976, na Suécia, também ganharam força ao longo dos anos e em sua última edição, em 2014, em Sochi, na Rússia, reuniram 547 atletas de 45 países.
Apesar da primeira edição da Paralimpíada ter ocorrido em 1960, na Itália, a Alemanha já tinha clubes de esportes para surdos desde 1888 e a partir de 1948, no Reino Unido, o esporte paralímpico começou a tomar forma.
Por ordem do governo britânico, em 1944, o médico Ludwig Guttmann abriu um centro de reabilitação no hospital Stoke Mandeville e pouco depois o trabalho passou a incluir competições esportivas com atletas em cadeiras de rodas.
No dia da abertura da Olimpíada de Londres de 1948, Gutmann organizou a primeira competição de tiro em cadeira de rodas, reunindo 16 pacientes que haviam passado por reabilitação, incluindo homens e mulheres.
De 1948 a 1960 o evento continuou ocorrendo a cada quatro anos sob o nome de "Jogos de Stoke Mandeville" e de 1960 a 1988, apesar de já batizada de Paralimpíada, a competição ainda não ocorria nas mesmas cidades da Olimpíada e, portanto, não usava as mesmas arenas e centros esportivos construídos para os Jogos Olímpicos.
Isso só passou a ocorrer a partir dos Jogos de Seul, na Coreia do Sul, em 1988, e dos Jogos de Inverno de Albertiville, na França, em 1992, quando o Comitê Paralímpico Internacional, ainda em fase de criação, travou um acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI), dando início à Paralimpíada da forma como a conhecemos hoje.