A cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos, marcada para as 18h15 desta quarta-feira no Maracanã, no Rio de Janeiro, promete "cegar" temporariamente a plateia no estádio para estimular outros sentidos, sobretudo a audição. A intenção é transformar o evento numa experiência multisensorial e aproximar o público da realidade dos atletas paralímpicos.
Num dado momento, refletores emitirão um forte flash de luz, e em outro segmento todas as luzes do estádio serão apagadas por alguns minutos, deixando o Maracanã completamente às escuras. Além disso, um serviço de audiodescrição estará disponível para que tanto atletas quanto espectadores cegos e surdos possam acompanhar a festa.
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Para os organizadores, a intenção é "romper com a ditadura da visão", levando a plateia a experimentar as atrações por meio de outros sentidos, como audição e tato.
Fred Gelli, um dos diretores criativos da cerimônia, diz que o "universo paralímpico é multisensorial por natureza", já que muitos dos atletas desenvolvem habilidades em função das deficiências.
"Este é um ponto central da cerimônia desde o início do processo criativo. Queremos derrubar essa coisa da necessidade da visão, do 'ver para crer'. O público vai ser instigado a usar todos os sentidos", diz.
O designer, que criou a logomarca multisensorial dos Jogos, diz que desligar todas as luzes do estádio causou estranheza às equipes de transmissão das imagens para as emissoras de TV ao redor do mundo, mas a ideia foi mantida.
"A necessidade de usar outros sentidos é a sensação cotidiana do atleta paralímpico. Para eles é emocionante ver isso contemplado para todos", explica Gelli, acrescentando que outros recursos, como as projeções já usadas na abertura olímpica, devem ser usados para ampliar essa experiência.
Universalidade e convivência em vez de superação e inclusão
Para Leo Caetano, diretor de cerimônias do Comitê Rio 2016, a intenção da abertura é que o público tenha contato com "coisas incríveis" que devem "desmontar o preconceito".
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"Vamos ter um casal de bailarinos e o espectador só se dará conta de que são cegos no final. Num dado momento haverá o salto de uma megarrampa, e será feito por um cadeirante. O objetivo é que o público veja que se tratam de coisas espetaculares, mas não porque são feitas por pessoas com deficiências. São coisas incríveis porque são coisas incríveis, ponto", diz.
A americana Amy Purdy, atleta paralímpica do snowboard e bailarina, que teve as duas pernas amputadas, deve ser a "Gisele Bündchen da abertura dos Jogos Paralímpicos", segundo os organizadores.
Caetano diz que os diretores criativos sempre pautaram o trabalho com essa perspectiva de surpreender os espectadores sem focar nas deficiências. "A festa transcende esse discurso, essa narrativa de superação. Não se fala disso em momento algum. Fala-se em adaptação e universalidade, o mesmo acesso, o mesmo projeto, a mesma entrada em que todos possam conviver, em que todos possam passar, todos tenham direito à mesma experiência", explica.
Fred Gelli relembra que os conceitos de inclusão e superação não foram trabalhados.
"Quando você pensa esse universo, não faz sentido destacar a pessoa com uma deficiência com a necessidade de uma solução só para ela. É mais lógico imaginar soluções em que ela conviva com todos os outros, soluções universais. Falar em inclusão remete à ideia de alguém excluído que precisa ser absorvido. Não é isso, todos querem conviver", explica.
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A frase "Everybody has a heart" ("Todo mundo tem um coração") também norteou o trabalho da equipe criativa com o lema de que apesar das diferenças, todos têm algo em comum.
"É com essa base que falamos da diversidade e da diferença. Não só as pessoas com deficiência, mas todos somos diferentes. Todos nós somos imperfeitos e deficientes em um certo grau. E podemos desenvolver grandes eficiências e alta performance assim como esses atletas", explica Flavio Machado, produtor-executivo da cerimônia de abertura e vice-presidente da Cerimônias Cariocas, uma união entre a agência brasileira SRCOM e a italiana Filmmaster Group, responsáveis pelas cerimônias olímpica e paralímpica.
Seu Jorge, Maria Rita, João Carlos Martins e Vik Muniz
Além do conceito de universalidade e do estímulo à multisensorialidade, a cerimônia de abertura deve contar com artistas como Seu Jorge e Maria Rita, além de sambistas como Diogo Nogueira e Pretinho da Serrinha (que se apresentará junto com o filho de nove anos).
"Seu Jorge deve levantar o estádio no final da festa, convidando todos a participarem. Também teremos um momento da roda de samba, uma homenagem à ideia da roda, simbolizada desta forma", diz Fred Gelli.
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Mais de 4,5 mil pessoas estão envolvidas no espetáculo, que deve durar pouco mais de três horas e contará com 11 segmentos e um elenco de 25 artistas. Já o hino nacional ficará a cargo do pianista e maestro João Carlos Martins, tido como um dos maiores pianistas do mundo e que passou por diversas cirurgias após ter uma das mãos paralisadas.
"Quanto à parte técnica, é muito semelhante à abertura da Olimpíada. Fogos, sistemas de luz, som, projeções, isso tudo é muito parecido. O palco vai mudar, no entanto, e os atletas entram logo no começo, para poderem acompanhar toda a festa", explica Leo Caetano.
Cada atleta que entra no estádio recebe uma peça que aos poucos vai formando uma obra idealizada pelo artista Vik Muniz, um dos diretores criativos da cerimônia.
Ao final da entrada, uma grande obra será visível no gramado do Maracanã, composta pelos rostos de todos os 4.022 atletas paralímpicos de 161 países.