Esporte: o recomeço para veteranos de guerra
Ajudar na reabilitação de veteranos de guerra por meio do esporte foi uma das bases para a criação dos Jogos Paralímpicos
Por iG São Paulo | por Fernanda de Lima |
A transformação pelo paradesporto entra ainda mais em evidência em tempos de Jogos Paralímpicos. A menos de uma semana da Paralimpíada do Rio, que será disputada entre os dias 07 e 18 de setembro, em 21 palcos esportivos da Cidade Maravilhosa, os brasileiros terão a oportunidade de ver de perto veteranos de guerra que reconstruíram suas vidas por meio do esporte.
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Um dos países com guerras mais enraizadas em sua história, os Estados Unidos terão o maior número de veteranos de guerra em sua delegação, dentre os 160 países participantes da Rio 2016. Ao todo, serão 31 atletas que carregam no corpo marcas das guerras travadas pelo país norte-americano.
Os personagens do time estadunidense veterano tiveram de superar desde doenças a lesões permanentes, e, principalmente, a depressão para voltarem à vida após choques traumatizantes. Em 2014, os Estados Unidos contavam com aproximadamente 2.7 milhões de veteranos das guerras do Iraque (2003-2011) e Afeganistão (desde 2001), 100 mil a mais do que veteranos que estiveram na última guerra do Vietnã (1955-1975).
De acordo com estudo realizado em 2015 pelo Congressional Research Service , núcleo de pesquisa do Congresso americano, pelo menos 20% dos militares que serviram nas guerras do Iraque e Afeganistão sofrem de estresse pós-traumático e/ou depressão. Curiosamente, somente 9% dos afetados pela transtorno psicológico sentem os sintomas imediatamente após o retorno das zonas de guerra. Já 31%, sentem os primeiros sintomas depois de um ano.
O estresse pós-traumático é um dos transtornos mais diagnosticados entre os veteranos, sendo que 50% jamais procuram por tratamento e, somente metade dos que procuram, recebem tratamento adequado ao caso.
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Muitos desses casos de estresse pós-traumático e/ou depressão são causados por uma dupla devastadora: a guerra + as lesões irreversíveis. Traumatismos cranianos e amputações são as 'agressões' mais comuns. De 2000 a 2015, cerca de 327 mil militares sofreram algum tipo de trauma na cabeça, sendo que mais de 8 mil foram com grau severo e outros 28 mil consideradas lesões moderadas. Nesse mesmo período, 1.645 militares americanos sofreram algum tipo de amputações. A perda da visão é também um dos danos permanentes causados pela guerra.
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Brad Snyder e o suporte das piscinas
O veterano de guerra, Brad Snyder, já tinha a natação em sua rotina na Marinha americana, quando perdeu a visão em um incidente com explosivos na guerra do Afeganistão, em 2011. Snyder, perdeu a visão no dia 07 de setembro daquele ano, data que, em 2016, coincide com a abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio, em que Brad competirá.
Quando foi atingido por explosivos, Snyder estava buscando ajuda para dois companheiros que haviam perdido as pernas em uma outra explosão segundos antes. Os explosivos o atingiram pela frente e pelo lado direito. O militar acordou 60 horas depois em um hospital já em Washington, nos Estados Unidos. Ele passou por múltiplas cirurgias na face e nos olhos, mas a explosão causou dano permanente aos olhos, que tiveram de ser removidos e substituídos por próteses.
Aos 27 anos, no auge de sua juventude, Snyder teve muito o que processar sobre a nova realidade que viveria dali para a frente. E foi o esporte que o recolocou nos eixos e deu luz a uma vida no escuro.
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Incentivado por seu antigo treinador na Marinha americana, voltou às piscinas em que ele já competia antes de perder a visão. A familiaridade com a água foi a oportunidade que ele precisava para mostrar aos amigos e familiares que ele ainda era a mesma pessoa. Quando mergulhou pela primeira vez, Bryan Snyder deixou de ser um veterano de guerra cego para voltar a ser o nadador que sempre fora. Toda a vida que ele precisaria adaptar por conta da deficiência visual, não existia dentro das piscinas.
Apenas um ano depois, um novo 07 de setembro marcaria sua vida. Nessa data, em 2012, o nadador conquistou o seu primeiro ouro paralímpico, nos Jogos de Londres, na prova de 400m livre.
O Paradesporto
O esporte para atletas com algum tipo de deficiência existe há mais de 100 anos. Fortemente introduzido após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a categoria buscava à inclusão e recuperação de veteranos afetados fisicamente pela guerra. Em 1948, por exemplo, na abertura dos Jogos Olímpícos de Londres, aconteceu a primeira competição para atletas em cadeiras de rodas. Essa competição foi a base para a realização dos primeiros Jogos Paralímpicos da história, em 1960, em Roma, na Itália. Na época, 400 paratletas, de 23 países, atenderam à disputa. 16 edições depois, a Rio 2016 receberá 4.350 participantes de 160 países.
Confira alguns atletas veteranos de guerra que estarão nos Jogos: