A Olimpíada do Rio termina neste domingo e, apesar das polêmicas envolvendo atletas, será lembrada bem mais pelos feitos conquistados durante as provas. Dos heroicos aos surpreendentes, passando ainda pelo ocaso de favoritos que, antes do tiro de partida ou apito inicial, pareciam imbatíveis. Escolher heróis e vilões não é uma tarefa fácil. A começar pelo fato de que a mera presença em uma Olimpíada como atleta já é algo que apenas 10,5 mil pessoas em todo o planeta conseguem.
O nadador americano Michael Phelps, que voltou da aposentadoria para conquistar seis medalhas na piscina carioca, incluindo cinco ouros que elevaram para 23 seu já absoluto recorde de vitórias na história olímpica, é uma escolha óbvia. O mesmo se aplica a Simone Biles, a ginasta americana que saiu do Rio com quatro medalhas de ouro e uma de bronze na bagagem, desempenho que já faz alguns analistas da ginástica artística a chamarem de maior representante de todos os tempos do esporte. Ou simplesmente Usain Bolt, o único homem tricampeão olímpico em todas as provas nobres de velocidade do atletismo (100m, 200m e revezamento 4x100m).
No futebol feminino, alguns torcedores brasileiros se consolaram com a derrota da seleção graças ao naufrágio das americanas, campeãs de quatro das últimas cinco Olimpíadas. Em especial depois da polêmica envolvendo a goleira Hope Solo e seus comentários públicos sobre a epidemia de zika no Brasil.
Outra hegemonia interrompida foi a do vôlei feminino brasileiro, cujo sonho do tricampeonato olímpico acabou diante da derrota para a seleção chinesa em pleno Maracanãzinho.
A BBC Brasil preparou uma lista de nomes que brilharam ou decepcionaram na Rio 2016. Confira:
HERÓIS
Simone Manuel
Ao vencer a prova dos 100m livre, empatada com a canadense Penny Oleksiak, a americana simplesmente se tornou a primeira nadadora negra a ganhar uma medalha de ouro individual em Olimpíadas. Um resultado que também reativou as discussões sobre exclusão social nos EUA, país em que 70% das crianças negras não sabem nadar.
Rafaela Silva
Nascida a 15 minutos do Parque Olímpico, na comunidade de Cidade de Deus, a judoca foi descoberta aos oito anos de idade em um projeto social. O treinador Geraldo Bernardes viu uma combinação de talento e agressividade e moldou uma lutadora que, 16 anos depois, ganhou o ouro na categoria até 57kg e se recuperou do trauma da desclassificação nos Jogos de Londres, em 2012.
Ciclistas britânicos
Uma em cada quatro medalhas distribuídas pelo ciclismo na Rio 2016 terminou pendurada no pescoço de um atleta do Team GB. Com seis ouros, quatro pratas e um bronze, a equipe dominou de tal formas as competições que países rivais simplesmente precisarão reavaliar seus métodos de treinamento. Destaque para o casal do ciclismo Jason Kenny e Laura Trott, que voltou para Londres com cinco ouros.
Isaquias Queiroz
Nascido em Ubaitaba, cidade baiana cujo nome em tupi-guarani é "cidade das canoas", Isaquias fez de um modo de vida sua carreira esportiva. Não apenas ganhou as primeiras medalhas da canoagem brasileira em uma Olimpíada, mas se tornou o primeiro brasileiro ao subir no pódio três vezes em uma mesma edição dos Jogos.
Basquete feminino dos EUA
O verdadeiro "Dream Team". Enquanto os homens deixaram escapar a medalha em 2004, apesar do reforço de astros da liga profissional americana (NBA), as mulheres mantiveram uma impressionante hegemonia no Rio, ganhando o título pela sexta vez consecutiva.
Diego Hypólito
Venceu a depressão e a descrença até dos dirigentes esportivos brasileiros para se recuperar de dois fracassos olímpicos e conquistar no Rio a medalha de prata no solo da ginástica artística.
Usain Bolt
O jamaicano obteve um feito inédito na história dos Jogos: com um aproveitamento de 100% nas provas que disputou, foi tricampeão nos 100 e 200 metros rasos e no revezamento de 4x100 metros rasos. Para tristeza da torcida, que lotou o Estádio Olímpico para vê-lo competir, Bolt anunciou sua aposentadoria das Olimpíadas.
Michael Phelps
O americano de 31 anos conquistou cinco ouros e uma prata na Rio 2016 e, agora, tem 28 medalhas olímpicas ─ sendo 23 de ouro. Ele anunciou que esta será sua última Olimpíada e despede-se dos Jogos como o maior atleta de todos os tempos.
Simone Biles
Nunca uma ginasta dos Estados Unidos havia ganhado tantas medalhas em uma Olimpíada. A americana de 19 anos levou para casa quatro ouros e um bronze.
VILÕES
Justin Gatlin
As vaias para ele no Estádio Olímpico não foram apenas por causa da preferência da torcida brasileira por Usain Bolt. Para muitos fãs de esporte, Gatlin sequer deveria ter participado dos Jogos, pois foi duas vezes suspenso por doping. Dirigentes do Comitê Olímpico Internacional temiam que ele vencesse Usain Bolt e manchasse ainda mais a reputação do atletismo, esporte que nos últimos anos enfrentou sucessivos escândalos por causa do uso de substâncias proibidas. Gatlin, porém, perdeu para Bolt os 100m, não se classificou para a final dos 200m e viu a equipe americana desclassificada no 4x100m.
Ryan Lochte
Por incrível que pareça, não decepcionou apenas com a história do assalto que não houve. Apesar do ouro no revezamento 4x200m, terminou em 5º lugar nos 200m medley, a prova que vencera em Londres, há quatro anos. E permanceu ainda à "sombra" de seu compatriota, Michael Phelps.
Futebol feminino da Suécia
Parou EUA e Brasil com uma retranca que frustrou desde adversários a fãs neutros de futebol. Conseguiu fazer com que o público brasileiro torcesse pela Alemanha na disputa pelo ouro.
Yulia Efimova
A nadadora russa, suspensa por doping em 2015, conseguiu competir na Rio 2016 graças a um apelo junto à Corte Arbitral do Esporte e levou duas medalhas de prata. Mas foi vaiada pelo público e ignorada publicamente pelos colegas.
Renaud Lavillenie
Esteve no centro de uma polêmica envolvendo o comportamento do público brasileiro, que o vaiou durante a disputa do ouro com o brasileiro Thiago Braz no salto com vara. Também fez uma comparação inadequada com o americano Jesse Owens, o lendário velocista negro que fez história nos Jogos de Berlim de 1936 ao confrontar a "supremacia ariana" de Adolf Hitler.
SURPRESAS
Juan Martín Del Potro
O argentino, campeão do US Open de 2009, fora praticamente desenganado pelo mundo do tênis depois de seguidas cirurgias no punho direito. Chegou aos Jogos do Rio na 141ª posição no ranking mundial, mas surpreendeu e bateu adversários mais graúdos, como Novak Djokovic e Rafael Nadal. E por pouco não derrotou o britânico Andy Murray na disputa pelo ouro.
Joseph Schooling
O nadador de Cingapura fez mais do que conquistar a primeira medalha de ouro do país em Olimpíadas. Bateu Michael Phelps, o mesmo nadador de quem é fã e com quem tinha tirado uma foto em 2008, quando tinha apenas 13 anos.
Seleção brasileira de vôlei feminino
A equipe comandada por José Roberto Guimarães chegou aos Jogos como uma das grandes favoritas já que era bicampeã olímpica e havia vencido o último Grand Prix, disputado um mês antes. A seleção até correspondeu à expectativa ao passar da fase de grupos como primeira colocada, sem perder nenhum set. Mas pegou a forte seleção da China nas quartas de final e acabou eliminada.
Thiago Braz
Um ouro no salto com vara, com direito a recorde olímpico. Surpreendeu até seu próprio treinador, o ucraniano Vitaly Petrov, acostumado a treinar campeões, como Yelena Isinbayeva e Sergey Bubka.
DECEPÇÕES
Kerri Walsh
Considerada a melhor jogadora de vôlei de praia de todos os tempos, a americana Kerri Walsh havia ganhado o ouro nas últimas três edições dos Jogos, sem perder uma partida sequer. A única derrota em sua trajetória olímpica se deu na semifinal da Rio 2016, para as brasileiras Bárbara e Ágatha, que acabariam levando a prata. Junto com April Ross, Walsh venceu as brasileiras Larissa e Talita na disputa pelo bronze.
Novak Djokovic
O tenista número 1 do mundo decepcionou a torcida, que esperava vê-lo chegar longe na competição. No torneio individual, foi eliminado logo na primeira rodada pelo argentino Juan Martín Del Potro. Já nas duplas, caiu na segunda rodada, derrotado pelos brasileiros Marcelo Melo e Bruno Soares.