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Os olhos sorriam porque a boca precisava gritar. Depois de 19 dias de competições, a Olimpíada do Rio terminou em clima de alto-astral, na noite deste domingo, no estádio do Maracanã, com muita dança, música e espírito de carnaval. Depois de uma irretocável festa de abertura, a cerimônia de encerramento tentou aplacar a saudade já instalada na cidade com a valorização do espírito carioca, ou seja, aquele que, mesmo diante de adversidades, sabe manter o entusiasmo.

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Figura emblemática na abertura, o aviador Santos Dumont surgiu novamente na festa deste domingo (para desespero dos norte-americanos que não o aceitam como Pai da Aviação), agora na contagem regressiva de dois momentos: o início da cerimônia e o fim da Olimpíada.

Lenine cantou
Reprodução/Twitter
Lenine cantou "Jack Soul brasileiro" na Cerimônia de encerramento do Rio 2016

Criador do relógio de pulso, Santos Dumont foi recebido pelo chorinho Odeon, de Ernesto Nazareh. As boas-vindas foram completadas por uma enorme imagem do Pão de Açúcar, desenhada no palco que, por sua vez, trazia as famosas curvas do calçadão de Copacabana. Natureza e ocupação urbana - outra referência da abertura, reafirmada no encerramento: a necessidade de se manter um adequado equilíbrio.

Para evitar um didatismo chato, o assunto foi tratado à base de música, com Martinho da Vila homenageando grandes compositores (como Noel Rosa, Pixinguinha e Braguinha) ao cantar os clássicos Carinhoso e Pastorinhas. A melodia das canções serviu de ponte para o primeiro ato cívico da festa, a execução do Hino Nacional do Brasil. Cumprida a obrigação, a festa recebeu seus principais convidados - atletas das 207 delegações tomaram as cadeiras postadas no gramado. As bandeiras foram carregadas por medalhistas, como o canoísta Isaquias Queiroz, representando o Brasil.

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Jovens pedem um ritmo animado, o que foi providenciado pela música eletrônica do DJ Dolores e a Orchestra Santa Massa, além do DJ Mika Mutti, que fundiu a sonoridade eletrônica com percussão de raiz. Sim, era preciso não se esquecer da referência brasileira, homenageada por Roberta Sá interpretando Carmen Miranda. A Pequena Notável, de fato, exibia as curvas e as cores que orgulham o Brasil, detalhes lembrados ainda pelo tecido de renda e pela elegância das obras do paisagista Burle Marx.

Com todos atletas em cena, a festa de encerramento foi usada para o lançamento do Canal Olímpico, plataforma digital gratuita que vai exibir programação própria e também eventos esportivos ao vivo. A primeira ação foi mostrar um vídeo com atletas olímpicos dançando.

Emoção é um elemento essencial em uma festa de despedida. Como a lembrança de atletas já mortos. A reverência veio acompanhada do poema Saudade, criado por Arnaldo Antunes. A palavra, aliás, foi projetada na plateia em diversos idiomas. Emocionante também foi relembrar as conquistas dos atletas ao longo da Olimpíada em imagens no telão.

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DESPEDIDA - A cerimônia chegava ao final. O prefeito do Rio de Janeiro e a governadora de Tóquio trocaram bandeira olímpica e a cidade japonesa já revelou que a tecnologia será seu forte: animações mostraram exemplos dos 33 esportes em disputa e a reprodução do beira-mar de Tóquio. E, passados os discursos oficiais, o Rio se despediu com seu principal produto de exportação: o carnaval. O domingo, na verdade, teve um indisfarçável gosto de quarta-feira de cinzas.

"Brasil animou o mundo em tempos difíceis"

O Brasil "animou o mundo em tempos difíceis para todos". Foi assim que o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, fechou os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, na noite deste domingo, no Maracanã, dando o prêmio máximo do movimento olímpico aos cariocas. Para ele, o evento foi "um milagre".

Confira galeria com fotos da cerimônia de abertura:

A festa que marca o encerramento também deixa dúvidas sobre quem pagará pelo evento, além de uma clara indicação de recursos públicos serão usados para bancar o déficit. O dinheiro representa uma quebra de um promessa de sete anos de que o Rio-2016 não usaria recursos do estado, em um momento de rombo fiscal, desemprego e recessão.

O COI, porém, optou por um tom positivo e repleto de agradecimentos. Na noite deste domingo, Bach declarou encerrado o evento no Brasil, num discurso que misturou gíria, frases em português e um reconhecimento aos esforços de todos, diante da crise enfrentada no País. "Nós te amamos, brasileiros!", disse, em português. Num outro trecho, ele ainda soltou um "valeu, voluntários!".

"Nos últimos 16 dias, um Brasil unido animou o mundo, em tempos difíceis para todos nós", disse, destacando "a irresistível alegria de viver". "Vocês têm razão de estarem orgulhosos. Os Jogos mostraram que a diversidade enriquece o mundo. Essa Olimpíada celebrou a diversidade", disse.

Num esforço de se distanciar de qualquer futura polêmica, Bach adotou uma estratégia de sedução. "Chegamos ao Brasil como convidados. Saímos como seus amigos", disse. "Vocês sempre terão um lugar em nossos corações", insistiu. "Estes foram Jogos Olímpicos maravilhosos, na cidade maravilhosa", declarou.

Bach voltou a insistir que haverá uma cidade do Rio "antes e depois dos Jogos" e que o evento será comentador gerações.

Num gesto também de agradecimento aos esforços dos cidadãos do Rio, Bach ainda anunciou que a Copa Olímpica, a maior medalha da instituição, vai para "os cariocas". Seis deles foram escolhidos para receber o prêmio em nome da cidade, todos vindos de programas sociais.

Há 110 anos, o Barão Pierre de Coubertin criou a premiação para pessoas que tenham feito gestos pelo movimento olímpicos. "Nesta noite, a Copa vai aos cariocas". Apesar do gesto, o mesmo já ocorreu em 2012 com os cidadãos de Londres, em Pequim em 2008 e, em 2004, em Atenas.

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