Martine Grael e Kahena Kunze venceram nesta quinta-feira a última regata da categoria 49er FX da vela e conquistam a quinta medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A prata ficou com a Nova Zelândia, enquanto a Dinamarca levou o bronze.
Confira como está o quadro de medalhas das Olimpíadas do Rio
Martine faz parte da família mais vencedora da história do esporte olímpico brasileiro. Ela é filha de Torben Grael, dono de cinco medalhas olímpicas, e sobrinha de Lars Grael, que conquistou duas. É a oitava conquista dos Grael.
Lars Grael foi bronze em Seul 1988 e Atlanta 1996 na classe Tornado; Torben Grael foi bronze em Seul 1988 (Star) e Sidney 2000 (Star); prata em Los Angeles 1984 (Soling); ouro em Atlanta 1996 (Star) e Atenas 2004 (Star).
Martine conquistou a oitava medalha da família, ao lado da parceira Kahena Kunze, que também é filha de velejador. Seu pai, Claudio Kunze, foi campeão mundial júnior da classe Pingüim em 1973.
Regata perfeita
A medalha da redenção da vela brasileira veio com Martine Grael e Kahena Kunze. Elas escreveram seu nome na história do esporte ao serem as primeiras mulheres a ganharem na 49er FX numa edição olímpica. A categoria estreou em Sydney-2000, mas era disputada somente entre os homens. E a conquista foi com muita emoção na medal race, nesta quinta-feira, quando a dupla chegou na primeira posição e garantiu o ouro.
A medal race foi emocionante e as quatro equipes (Brasil, Nova Zelândia, Dinamarca e Espanha) sabiam que podiam chegar ao ouro ou ficar sem medalha, pois a diferença de pontos era mínima. Logo na largada, a dupla italiana saiu na frente, seguida pela neozelandesas. Martine e Kahena sempre ficaram na terceira posição, o que no mínimo já garantiria a prata, porque a Itália estava fora da briga.
Só que Martine e Kahena, após a boia 4, escolheram o melhor lado da raia e chegaram à última boia na liderança, dez segundos à frente da dupla da Nova Zelândia e com 34 segundos de diferença para as dinamarquesas. As brasileiras mantiveram o ritmo, fecharam a prova na frente e comemorar o ouro inédito na carreira com muita festa e se jogaram na água da Baía de Guanabara.
Campeãs do mundo na categoria e bicampeãs nos eventos-teste, Martine e Kahena, ambas de 25 anos, chegaram à Olimpíada como uma das favoritas para a prova. Estrearam na sexta-feira com mar revolto e ondas de até dois metros. Um dia de "maremoto", como descreveram alguns atletas. A prova atrasou por quase duas horas, por causa da falta de ventos. "Eu esperava na Olimpíada coisas que nunca tinha visto na minha vida. E aconteceu", disse Martine.
Nos dias seguintes, elas se mantiveram em boas posições, sempre entre as dez primeiras, com exceção de um 11º lugar, descartado. No segundo dia de regatas, tiveram de cumprir penalidade (uma volta de 360º) depois de cruzar na frente das atletas de Cingapura, obrigando-as a desviar.
No segundo dia de competições, as dinamarquesas Jena Hansen e Katja Salksov-Iversen, número 6 no ranking da Federação Internacional de Vela, assumiram a liderança. Elas haviam queimado a largada logo na primeira regata, mas depois mantiveram regularidade de resultados, terminando seis vezes em segundo lugar e vencendo uma prova.
As espanholas Tamara Echgoyen, medalhista de ouro em Londres-2012 na categoria Elliott 6m, e Berta Moro assumiram a liderança da prova. Elas venceram quatro das doze regatas e terminaram duas atrás das dez primeiras (11º e 13º, este descartado). As neozelandesas Alex Maloney e Molly Meech, campeãs mundiais da categoria em 2013, também foram constantes - ficaram sempre entre as seis primeiras, com apenas um 12º lugar, descartado. Molly é irmã de Sam Meech, velejador da classe Laser, que ficou com o bronze disputado por Robert Scheidt.
Com o pódio de Martine e Kahena, a vela brasileira chegou a 18 medalhas na história dos Jogos, sendo uma das modalidades mais vitoriosas do País. Um parte delas, oito, foi conquistada pela família Grael. Além de Martine, seu pai Torben tem cinco medalhas em Olimpíada e o tio Lars tem duas.
O primeiro pódio veio nos Jogos de 1968, com o bronze de Reinaldo Conrad e Burkhard Cordes na classe Flying Dutchman. Em 1976, na mesma classe, Conrad e Peter Ficker ficaram em terceiro lugar. Já em 1980 Lars Björkström e Alexandre Welter, na Tornado, ganharam o ouro, assim como Marcos Soares e Eduardo Penido, na 470.
Nos Jogos de Los Angeles, em 1984, a família Grael começou a brilhar. Torben, ao lado de Daniel Adler e Ronaldo Senfft, ficou com a prata na classe Soling. Na Olimpíada de Seul, em 1988, Lars Grael e Clínio Freitas ficaram com o bronze na Tornado. Torben também levou o bronze para casa, na Star, ao lado de Nelson Falcão.
Em Atlanta-1996, Torben Grael e Marcelo Ferreira, na Star, e Robert Scheidt, na Laser, fizeram uma ótima competição e garantiram o ouro para o Brasil. Já a dupla Lars Grael e Kiko Pellicano levou o bronze na classe Tornado.
Na Olimpíada de Sydney, Torben Grael e Marcelo Ferreira ficaram com o bronze na classe Star, enquanto Scheidt foi prata na Laser. Mas eles se superaram na edição seguinte. Nos Jogos de Atenas, em 2004, o Brasil conquistou dois ouros com seus principais velejadores da história. Scheidt foi ao lugar mais alto do pódio na classe Laser e a dupla Torben Grael e Marcelo Ferreira ganhou o primeiro lugar na Star.
Nos Jogos de Pequim, em 2008, a vela brasileira ganhou duas medalhas: com Fernanda Oliveira e Isabel Swan, um bronze, na 470, e com Robert Scheidt e Bruno Prada, na classe Star, que ficaram com a prata. Quatro anos depois, em Londres, a dupla Scheidt e Prada repetiu a dose e faturou o bronze na mesma classe.