Campeã olímpica, Sarah Menezes luta contra 'efeito sanfona' antes do Rio 2016

“Sempre atingi o peso com facilidade. O diferencial é a paciência. Você tem que diminuir tudo. Come igual a um pintinho", disse a piauiense de 26 anos

Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ
Sarah Menezes durante treino para o Rio 2016

Enquanto muitas mulheres tentam evitar o “efeito sanfona” após uma dieta, a judoca Sarah Menezes teve que aprender a conviver com a oscilação de peso. Campeã olímpica na categoria ligeiro (até 48kg), a atleta não tira o olho da balança, à medida que se aproxima a data de sua estreia na Olimpíada do Rio, no dia 6 de agosto.

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“Sempre atingi o peso com facilidade. O diferencial é a paciência. Você tem que diminuir tudo. Come igual a um pintinho, um pouquinho todo dia, tem horário. Passando a pesagem, vai ser tudo tranquilo”, afirmou Sarah Menezes .

Sarah admitiu que o estômago reclama até acostumar com a redução de calorias. O encontro diário com a balança é às 20 horas.

Nos Jogos do Rio, a pesagem ocorrerá na véspera da luta. Apesar da reidratação, o sacrifício das judocas não acaba no mesmo dia. Quando o relógio marca 45 minutos para o início dos embates, as atletas são novamente submetidas a um teste e não podem ultrapassar 5% do limite da categoria. Na segunda pesagem, um sorteio define quem subirá novamente na balança, deixando todas as participantes em alerta.

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A técnica Rosicleia Campos acompanha a batalha da judoca brasileira para manter o peso e explica que ela possui o acompanhamento rígido de uma nutricionista. “A bichinha é peso ligeiro, mas quer comer como peso pesado”, brincou. Sarah não pode nem pensar em imitar Maria Suelen Altheman, da categoria acima de 78kg, que adora comer os lanchinhos da colega Rafaela Silva.

No entanto, Rosicleia mostrou compreensão diante da dificuldade de Sarah. “Ela tem que pesar 48kg. Era menina e hoje tem corpão de mulher. Judô é um esporte de categoria. Não existe atleta que acorde e não olhe para a balança”, comentou.

A busca pelo bicampeonato olímpico adiou a possibilidade de Sarah mudar de categoria, mas o tema será conversado depois dos Jogos do Rio. Enquanto isso, ela vive a regrada rotina da equipe brasileira em Mangaratiba, na região da Costa Verde do Rio. No resort, a judoca também tem um acompanhamento psicológico. Para Sarah, o vencedor será aquele que tiver um maior controle da ansiedade.

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Ela aponta que o auxílio da tecnologia tem deixado as condições táticas muito semelhantes entre as competidoras. No quartel-general do judô no Rio, os brasileiros contam com uma equipe de análise de vídeo que já mapeou 99% dos judocas que estarão na Olimpíada.

“Vai muito da cabeça do atleta. Quem tem mais coragem, reação rápida e procura arriscar vai conseguir passar pelos obstáculos. Quem tiver medo vai ser difícil”, projetou. E Sarah garantiu estar cada dia mais disposta a buscar a perfeição como judoca.

BOLO CRU NÃO TEME PRESSÃO NO JUDÔ MASCULINO

O judoca Rafael Buzacarini é um dos estreantes da equipe brasileira nos Jogos do Rio e se diz orgulhoso por poder representar o País na categoria meio-pesado (até 100kg). Para ficar com a vaga, desbancou o experiente Luciano Corrêa e admite que isso foi um peso pouco depois da convocação.

“Quando fui selecionado para a vaga, senti uma cobrança maior porque o pessoal falava bastante do Luciano, mas agora já estou tranquilo e não penso mais nisso. Acho que ele vai estar torcendo por mim”, afirma.

A notícia de que sua vez tinha chegado veio em um telefonema de Ney Wilson, gestor técnico de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). A euforia o fez sair gritando pela casa. “Queria falar para o mundo inteiro que ia disputar a Olimpíada”, relembra.

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As mudanças foram rápidas na vida de Buzacarini. Até o ano passado nem faixa preta ele era, mesmo já tendo participação em competição internacional. O dia que apareceu de faixa marrom em uma competição em São Paulo gerou polêmica, mas a honra máxima só veio após a prata no Grand Slam de Paris de 2015.

O que não mudou nesse tempo foi o apelido de “Bolo Cru”, mesmo após ele ter emagrecido. A pele branca e os 120 kg renderam a Buzacarini a alcunha. “Era gordinho e fofinho, diziam que eu parecia uma massa de bolo”, explica.

O atleta admite que deixou as vitórias subirem a cabeça, mas fica aliviado por ter conseguido reencontrar o rumo a tempo de ser bem sucedido no ciclo olímpico. “Teve um momento que comecei a me deslumbrar, perder o foco, mas consegui retomar e alcançar o meu primeiro objetivo.”