Raquel Cristina Kochhann é uma das líderes da equipe brasileira de rugby
Crédito: FotoJump/Brasil Rugby
Raquel Cristina Kochhann é uma das líderes da equipe brasileira de rugby

Quando o primeiro chute brasileiro na bola oval acontecer no dia 28 de julho, contra a França, anfitriã das Olimpíadas, um filme passará aos olhos de Raquel Cristina Kochhann, 32 anos, natural de Saudades (SC), jogadora da seleção feminina de rugby.

Ela se tornará a primeira atleta brasileira na história olímpica a disputar os Jogos após se recuperar de um câncer. As Yaras, como são conhecidas as jogadoras da seleção brasileira de rugby, estão no Grupo C. Depois de enfrentar a França, o Brasil volta a campo para encarar os Estados Unidos no mesmo dia. Já na segunda-feira, dia 29, às 10h, a equipe define seu futuro no torneio contra o Japão.

Primeiro passo
Para entender todo o processo envolvendo a superação de Raquel, precisamos voltar no tempo. Tudo começou antes dos Jogos de Tóquio, em 2021. A atleta sentiu um caroço próximo da mama direita e procurou a equipe médica.

“Eu conversei com a nossa equipe médica daqui (cidade onde mora) e eles conversaram com o COB. A ginecologista falou: ‘fica tranquila, vem para cá, vem para competição normal, quando a gente for para Tóquio, chegando aqui eu dou uma avaliada. Quando voltarmos, faremos os exames só para ter certeza que está tudo bem’. Aí fui até lá, ela mexeu, apalpou e falou: ‘não precisa se preocupar nesse momento, pode jogar tranquilamente, quando voltar para o Brasil a gente vai fazer todos os exames’. Aí voltei para o Brasil e já fui fazer os exames, fiz o ultrassom e já me encaminharam direto para fazer a biópsia. Após a biópsia, já fui enviada ao mastologista”, disse a atleta, em entrevista exclusiva ao iG Esporte.

Após a biópsia, foi constatada uma fibroadenoma - condição benigna nas mamas. A equipe médica então decidiu realizar uma cirurgia para retirada do caroço, que já crescia de tamanho. Foi então que, durante uma lesão de ligamento cruzado sofrida por Raquel, tudo mudou.

Os médicos localizaram células cancerígenas no caroço removido. Foi então que a oncologia apareceu e descobriu que o câncer havia atingido o osso do esterno, localizado no central peitoral. A reação de Raquel para a equipe médica, porém, surpreendeu.

“Qual é o próximo passo? Ela (médica) ficou surpresa na hora. ‘Você não vai ficar triste? Desesperada?’. Na verdade, durante todo o tratamento eu sempre segui assim. Um passo de cada vez, qual o próximo passo? Eu não poderia pensar: ‘nossa já quero voltar a jogar’. Então, a primeira coisa seria tratar esse câncer. Foi esse processo, fazendo da melhor maneira possível, que eu estivesse melhor possível para poder passar para o próximo passo, porque até quem acompanha ou já fez quimioterapia sabe que para poder fazer as sessões na sequência correta, teu corpo precisa responder bem a isso, precisa estar bem fisicamente e bem mentalmente”, comentou.

Segundo passo
O câncer é uma doença conhecida por abalar não só a pessoa que encara essa luta, mas também todos ao seu redor. Entretanto, essa história não se repetiu com Raquel, que fez questão de pedir para o grupo brasileiro não se abater.

“Quando eu contei para as meninas (do time de rugby) que eu estava com câncer, a primeira reação de todo mundo foi tipo, baixar a cabeça, olhar para baixo, fazer uma cara de triste e eu falei, ‘cara, não quero ver ninguém com cara de enterro ou com cara de dó, de pena. É um processo, é um tratamento, trata como qualquer outra lesão, se divirtam, façam piada desse momento, não levem isso como o fim do mundo’. E com isso o grupo todo levou o tratamento de uma maneira leve. Então, elas me ajudavam a me sentir bem com o ambiente, fazendo brincadeira, fazendo piada”, relembrou.

E foi com esse bom humor que Raquel seguiu trabalhando com as meninas do clube. Juntas, mesmo em meio ao tratamento, não abandou os trabalhos.

“Eu fazia os meus treinos individualizados, que eram numa intensidade muito menor do que o resto do grupo, mas sempre estando junto do grupo na medida do possível. Tinha treino no campo, era treino de contato, alta intensidade, eu não podia participar, mas eu podia ajudar filmando ou eu podia ajudar dando feedback para as meninas, ajudando a posicionar alguém, ajudando levando água. Da maneira que era possível, eu sempre estava junto e participando. Tinha alguns dias que era um pouco mais difícil por conta do tratamento, né?”, afirmou.

Terceiro passo
Uma das etapas importantes para um atleta que passa por uma lesão ou por outros motivos de saúde, como foi o de Raquel, é o retorno. Os exames físicos novamente surpreenderam a todos.

“Durante o tratamento, eu tive acompanhamento nutricional da preparação física. Quando eu recebi a alta da parte oncológica, que eu podia voltar aos treinos de alta intensidade, a minha composição corporal estava na minha melhor performance da vida, eu estava com a maior quantidade de massa muscular e com o menor percentual de gordura que eu já tive desde que eu sou atleta da seleção. Dos males, o menor, eu ainda consegui me manter muito bem para que eu tivesse o mínimo de perda quando eu voltei”, comemorou.

Quarto passo
Recuperada, Raquel Kochhann evita em falar a palavra “cura”. Com apoio da equipe médica, ela segue fazendo tratamento com “bloqueadores”, o que não causa nenhum efeito colateral. Assim, a atleta brasileira poderá disputar os Jogos Olímpicos.

“A gente fala que o câncer ainda não tem cura, mas a parte pior do tratamento já passou, que são as quimioterapias, agora eu sigo fazendo um tratamento com bloqueadores. A cada 21 dias eu faço aplicação de medicação bloqueadora e segue o resto da vida normal. Eu tenho uma aplicação que está para o dia 04. E aí, a próxima aplicação eu faço quando a gente voltar dos Jogos Olímpicos”.

Quinto passo
Paris 2024
terá um gosto especial. Com trabalho e otimismo, Raquel vai em busca de guardar mais uma vez o seu nome na história do esporte brasileiro.

“Com certeza, o nosso primeiro e principal objetivo de tudo é mostrar para o mundo o rugby brasileiro. É se divertir dentro de campo e aproveitar o momento umas com as outras. O trabalho duro a gente já fez, lá é só um palco onde a gente vai fazer a apresentação final. E é muito isso... cada lance, um por vez, é um jogo por vez. Podemos conseguir grandes resultados contra grandes times se fizermos o nosso (trabalho) bem feito. Sem pensar em colocação, resultado... assim, conseguir alcançar o melhor resultado que o Brasil feminino no rugby já teve”, disse Raquel.

“Para mim, os Jogos Olímpicos são sempre o maior evento, onde estão todos os holofotes focados no esporte, e eu vejo como uma grande oportunidade de mostrar o rugby e também mostrar uma história talvez de superação para as pessoas. Foi o que tentei fazer em meu Instagram: existe vida depois que tu descobres que tem um câncer. Antigamente, talvez essa doença fosse muito mais agressiva, mas hoje em dia o câncer pode ser tratado e a pessoa pode viver uma vida normal e conquistar tudo o que sonha. Então, os Jogos Olímpicos são a representação disso, de eu poder mostrar para o mundo inteiro que mesmo com uma doença muito grave, dá para a gente dar a volta por cima e continuar fazendo o que a gente ama”, concluiu.

Veja abaixo galeria de fotos da atleta Raquel Cristina Kochhann:

Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby
Raquel Cristina Kochhann rédito: Divulgação/World Rugby


Raquel Cristina Kochhann Crédito: FotoJump/Brasil Rugby
Raquel Cristina Kochhann Crédito: FotoJump/Brasil Rugby
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Raquel Cristina Kochhann Crédito: FotoJump/Brasil Rugby
Raquel Cristina Kochhann Crédito: FotoJump/Brasil Rugby
Raquel Cristina Kochhann Crédito: FotoJump/Brasil Rugby
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