Leticia Bufoni
Lance!
Leticia Bufoni

Leticia Bufoni, de 29 anos, pediu dispensa da seleção brasileira de skate para tocar projetos pessoais.

E são vários e diversos. Incluem um documentário, canal de YouTube, loja de shape e roupas, franquia de hamburgueria e desafio inédito dentro de um avião, guardado a sete chaves. Mas não é só isso. Nesta entrevista exclusiva ao GLOBO, a recordista de medalhas no X Games ( seis de ouro, três de prata e três de bronze), fala sobre “estar ficando velha”, medo de altura, Paris-2024, impacto de suas postagens nas redes sociais e o sonho de ser como Anitta.

Esse ano você abriu mão da seleção para tocar projetos pessoais. Quais são eles?
Lancei a Monarch, marca de shapes, no ano passado, nos EUA. E agora quis focar nela. Vou lançar uma coleção de roupas. Além disso gravo uma série documental junto com a Red Bull e ao mesmo tempo um canal próprio no YouTube. E tem ainda o projeto do avião. Venho competindo há 18 anos e esse é o primeiro ano da minha carreira que decidi selecionar as competições, não ir em todas.

Conta mais sobre a série?
Já tive programa no Canal Off (“Leticia Let’s Go”) com quatro temporadas sobre o meu dia a dia, mas desta vez a série vai mostrar mais. Terá mais da minha história, carreira e vida pessoal, com depoimentos de pessoas que estão comigo desde o início. Muita coisa que talvez eu não tenha falado antes.

Que projeto é esse de avião?
Ainda não posso falar. Mas tem dica: envolve skate, avião e paraquedismo.
Já li que você tem medo de altura... Como pode?
Tenho, de chegar perto de uma sacada e olhar para baixo. Não gosto, me afasto. Tento me concentrar: “não tenho medo, não tenho medo” e dou um passo atrás. Consigo controlar, não é algo que me limite. Mas quando estou saltando de paraquedas, a adrenalina é diferente. Não fico olhando para baixo. Não vejo o chão tão de perto. Então, me sinto segura. Única parte que dá um pouco de medo é quando abro o equipamento. Gosto dessa adrenalina, sentir esse medinho.

O quão longe você iria em busca desta adrenalina?
Quanto mais velha a gente fica, mais medo tem. Há sete anos não pensava muito. Toda hora saltava de paraquedas, com um monte de gente junto, saltava de balão, pulava de lugares altos. Hoje em dia, estou ficando mais medrosa. Me preocupo muito mais de não me machucar. Até no skate. Já tive muitas lesões e muitas delas porque quis passar do meu limite. Tenho muitas coisas nas costas e não pode acontecer nada comigo.

Que loucura ainda não fez, mas vai fazer?
Tenho uma lista de coisas e uma delas é pegar uma onda bem grande mesmo. Gosto de surfar. Mas surfo onda pequena. E também tenho vontade de pilotar um helicóptero sozinha. Acho que o resto, quase tudo, já fiz.
Esses compromissos te dão mais prazer hoje em dia do que o skate em si?
Nada que eu faça me dá mais prazer do que o skate. É até difícil de explicar porque é uma paixão... Por mais que a gente se machuque, que tenha de ficar um tempo sem andar, que seja doloroso. Sou muito feliz fazendo as outras coisas, que são mais para me dar equilíbrio. Não conseguiria ficar só andando de skate. Gosto de sair da zona de conforto, fazer coisas nas quais não sou boa. E quando volto para o skate me dá mais prazer.

Você cansou um pouco da rotina das competições?
Com certeza. Foi uma das decisões mais difíceis. Eu amo competir. Competi a minha vida inteira, mas sabia que este ano precisava focar nestas outras coisas. Seria muito difícil fazer todas as competições e cumprir todos os projetos. Resolvi dar o meu lugar para alguém que vá conseguir se dedicar e que precise mais do que eu. Mas não é porque não estou na seleção que eu não vá competir este ano. Vou nas duas etapas da World Skate, que serão as primeiras qualificatórias para a Olimpíada (em junho, em Roma, e em outubro, no Rio). Só vou selecionar mesmo. (depois, Letícia enviou áudio com consideração: “Não cansei da rotina das competições, tá? Mas não teria espaço na agenda para conciliar tudo e quis dar minha vaga para alguém que precise mais do que eu. Acho que me expressei mal”).

O fato de não estar na seleção tem a ver também com o pacote oferecido pela confederação (que tinha uma série de exigências)?
A única questão são os quatro eventos no Brasil (que seriam obrigatórios em caso do pacote com salário de R$ 6 mil) Estando livre, sem problema nenhum. Por mais que eu não faça parte da seleção oficialmente, eu ainda faço parte, sempre farei.

E a obrigatoriedade dos posts nas redes sociais? Com 4,4 milhões de seguidores, seu alcance é importante. Quanto custa um post seu?
Isso é com a Luiza (Luiza Duarte, manager). É ela quem negocia. Eu só faço o post. Seria post nos stories (saem do ar após um dia). E, normalmente, quando estou com eles eu já faço, já marco. Não mudaria muito. Não foi um pedido absurdo. E não foi para o feed (que fica fixo), foi nos stories. Se fosse feed, talvez atrapalhasse um pouco, porque já tenho muitas obrigações de patrocinadores.

Você se enxerga como uma influenciadora?
Muita gente que não é do skate vem falar comigo, diz que segue meus treinos físicos, meu lifestyle, que adora os lugares que vou. Acabo sendo uma influência para uma vida ativa e saudável.

Você pensa antes de publicar algo ou vai no instinto?
Tudo que faço é muito orgânico. São coisas que estão acontecendo de fato no meu dia a dia. Tento ser o mais próxima possível dos fãs. Tudo que sai no meu Instagram fui eu mesma que postei, com minhas palavras e meus olhos. Nunca gostaria de seguir uma pessoa que sei não é ela quem está postando.
Você se importa com julgamentos que surgem por causa das postagens?
Depende. A vida inteira sofri hate. Desde que comecei a andar de skate, com 10 anos. Estou acostumada.

Você acha que as pessoas se espantam com declarações com teor de liberdade sexual quando são mulheres que as fazem? É pior no caso das esportistas?
Tem sempre gente que tenta puxar algo para julgar. Mas quem acompanha minha carreira sabe quem eu sou. Acho que acontece com todo mundo. As redes sociais viraram um lugar em que as pessoas vão para julgar.

Você se sente um pouco Anitta, no sentido de ser uma mulher bem resolvida, que ganha bem e não tem pudor no que fala?
Quem me dera ser que nem a Anitta. Acho ela uma mulher incrível, levou seu nome onde ninguém conseguiu e o jeito que ela faz todas as coisas dela... Queria ser que nem ela. Forte, falar as coisas que ela fala. Algumas coisas eu não tenho coragem de falar...

Você é pegadora mesmo quanto deixa transparecer? Ou não pega ninguém?
Boa pergunta (risos). Na internet a gente sempre faz brincadeiras, mas não necessariamente é porque estou pegando todo mundo. Sou uma pessoa muito brincalhona. E, às vezes, para não ficar tão séria, só postando coisa de patrocínio e trabalho, descontraio. Quem me dera, também, pegar todo mundo.

Pega homem e mulher?
Por enquanto, só homem.

E Paris-2024 é meta?
Quero muito viver a experiência full da Olimpíada que a gente não viveu em Tóquio. Vamos ver o que acontecerá nos próximos dois anos.

Você e Kelvin fizeram as pazes?
A gente não tem nada um contra o outro. Apenas moramos longe e não temos muito contato. Nunca brigamos, foi só “fofocaiada” da Olimpíada.

Com tanta menina nova no skate, você se sente deslocada?
Me dou muito bem com elas. Sou muito próxima da Rayssa e da Sky (a inglesa Sky Brown). Quando estou com elas me sinto a amiguinha, parece que sou mais nova. E acho muito legal que os fãs me coloquem como a mãe delas, além de mentora. Jamais me sinto deslocada. Me sinto até melhor. Me sinto mais jovem e é incrível ver o skate com meninas tão jovens e indo tão bem.

Você acha que deveria ter limite de idade para o skate na Olimpíada?
O skate nunca teve isso, sempre foi aberto, então por que mudar agora? Por causa da Olimpíada? Acho que não.

O fato de você ter sido pioneira na modalidade, ter aberto espaço para os brasileiros e para as meninas, além dos títulos conquistados, já podem ser considerados seu legados definitivos ou ainda quer mais?
Eu ainda estou nova e tem muitas coisas que posso fazer no skate. É sempre bom tentar mais e eu vou continuar tentando até onde conseguir. Medalha olímpica seria incrível, mas muito mais do que uma medalha, acho que quero mais um video part (vídeo com manobras), de dedicar todo o meu tempo. Quero um video part de rua porque acho que para o skate em si, isso é muito mais importante do que uma medalha.

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