Jacky Hunt-Broersma
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Jacky Hunt-Broersma

Após vencer um câncer tipo raro de câncer ósseo (conhecido como sarcoma de Ewing), uma americana quebrou o recorde mundial de maratonas consecutivas. No último domingo, Jacky Hunt-Broersma, de 46 anos, correu os tradicionais 42 quilômetros pela 104ª vez, em apenas 104 dias, e aumentou ainda mais o próprio feito, após já ter superado a antiga marca, que era de 95 provas.

Desde meados de janeiro, normalmente levando cerca de cinco horas, ela completa todos os dias o percurso de uma maratona, participando, inclusive, de provas oficiais. Agora, ela espera que a conquista seja certificada pelo Livro dos Recordes. Um porta-voz da entidade disse que a certificação leva cerca de três meses.

— Parte de mim estava muito feliz por ter terminado e a outra parte continuou pensando que eu preciso correr. Sinto-me mais apertada do que em todas as 104 maratonas — disse ela à BBC.

No momento, o foco de Jacky é recuperar o corpo após os vários dias de esforço extremo. Nascida e criada na África do Sul, ela também morou na Inglaterra e na Holanda, onde médicos a diagnosticaram com sarcoma de Ewing, um tipo raro de câncer ósseo, em 2002. 

Apenas duas semanas após o primeiro diagnóstico, os médicos tiveram de amputar a perna esquerda de Jacky, quando ela tinha apenas 26 anos.

— Foi uma montanha-russa. Tudo aconteceu tão rápido — relembra.

Nos primeiros dois anos após o procedimento, Jacky conta ter lutado contra a mudança em sua vida, chegando a ter raiva por ter tido câncer e se sentir envergonhada pela deficiência. Ela chegou a usar calças compridas em público para que as pessoas não notassem a prótese.

A ideia de praticar corrido só viria em 2016, após um longo período acompanhando o marido em maratonas. Mesmo sem nunca ter pensado em correr até então, ela decidiu comprar uma prótese especial para corredores de longa distância e se inscreveu para sua primeira corrida, de 10 km.

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Na véspera da prova, ela mudou sua inscrição para a categoria meia maratona — 21 km. Desde então, ela conta que decidiu explorar distâncias maiores e terrenos diferentes.

— Sou uma pessoa de tudo ou nada, então me joguei. Adoro ultrapassar limites e ver até onde posso ir — conta.

No início deste ano, Jacky estipulou uma nova meta: o recorde de mais maratonas consecutivas. A marca entre mulheres no Guinness era de 95, estabelecida há dois anos, por Alyssa Amos Clark, uma corredora não amputada, que decidiu buscar as marcas como uma estratégia de enfrentamento à pandemia de covid.

Do Oiapoque ao Chuí

O recorde masculino no Guinness é do italiano Enzo Caporaso, de 59 anos, que completou 51 provas em dias consecutivos — embora haja registro de que o ultramaratonista espanhol Ricardo Abad tenha corrido 607 maratonas consecutivas, terminando em 2012.

Mãe de dois filhos e treinadora de resistência, Jacky começou a correr já com o recorde em mente, certificando-se de que ela sempre corresse pelo menos a duração de uma maratona. Ela fez as tradicionais maratonas de Boston e Lost Dutchman. Mas, como maratonas não são programadas todos os dias, ela também correu em ruas locais, trilhas do bairro e até mesmo em sua própria esteira em casa.

Ao todo, ela correu cerca de 4.400 quilômetros — mais que a distância entre o Oiapoque e o Chuí, extremos norte e sul do Brasil. Com os registros das corridas em suas redes sociais, Jacky arrecadou mais de 88 mil dólares (mais de 436 mil reais) para a Amputee Blade Runners, uma organização sem fins lucrativos que fornece próteses de corrida, como a dela, para amputados.

— Correr fez uma grande diferença no meu estado mental e me mostrou o quão forte meu corpo pode ser. Isso me deu uma nova aceitação total de quem eu sou e que posso fazer coisas difíceis — comemora.

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