Já se passaram duas semanas desde que o tenista ucraniano Sergiy Stakhovsky (confira galeria de fotos abaixo) decidiu voltar ao seu país para lutar na guerra contra a Rússia. Ele deixou de lado a raquete que o fez vencer o recordista Roger Federer em 2013 para segurar um fuzil AK-47, portar uma pistola na cintura e passar o dia vestido em uma roupa camuflada.
O ex-atleta diz que não está confortável na posição, mas que sentiu que precisava prestar esse serviço ao seu povo. Os filhos não sabem que ele se juntou às tropas em Kiev.
— Não posso dizer que me sinto confortável com um fuzil. Não sei como vou reagir quando atirar em alguém. Eu gostaria de nunca ter que precisar me preocupar com essas coisas, mas eu sabia que precisava vir para cá — disse em entrevista à AFP.
Stakhovsky realiza duas patrulhas por dia, com duração de duas horas cada, para proteger o centro de Kiev de possíveis invasões, principalmente em torno do palácio do presidente Volodymyr Zelensky. À medida que os russos se aproximam da capital, ele teme que a cidade enfrente o mesmo destino de outros locais destruídos, como Kharkiv e Mariupol.
— Isso é perturbador. Eles não se importam se vão matar uma criança ou um militar, eles simplesmente não se importam — lamentou.
'Não me orgulho de ter deixado as crianças'
No dia 24 de fevereiro, quando teve início a invasão militar, Stakhovsky estava de férias em Dubai com a mulher e os três filhos de quatro, seis e oito anos. Ele se aposentou do tênis profissional em janeiro, após o Australian Open.
O ucraniano viu pela televisão as imagens dos primeiros bombardeios russos e disse ter sentido um misto de desespero e angústia. Como a maioria da família ainda vive na Ucrânia, ele passou o dia tentando conseguir informações e abrigo para os parentes.
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— Eu estava cheio de adrenalina, dormi três ou quatro horas (no geral) e não comia — lembrou.
Pouco tempo depois, decidiu que se tornaria voluntário no serviço militar.
— Minha esposa estava muito chateada. Quero dizer, ela sabia, ela entendia, mas estava muito chateada. Agora ela entende que eu realmente não poderia ter feito de outra maneira — contou.
O ex-tenista destacou que não se orgulha de ter deixado os filhos para trás e revelou que as crianças não sabem que ele é voluntário na guerra.
— Não me orgulho de ter deixado as crianças. Meus filhos não sabem que estou aqui. Bem, sabem que não estou em casa, mas não sabem o que é guerra e estou tentando não os envolver. Eu disse que voltaria logo, já se passaram 15 dias... E só Deus sabe quantos mais serão — lamentou.
Apoio de tenistas
Estrelas do tênis ofereceram apoio ao colega. Roger Federer lhe enviou uma mensagem "dizendo que deseja que haja paz em breve". Federer e a mulher dele disseram também que estão tentando ajudar crianças ucranianas através de sua fundação.
Outra mensagem que tocou Stakhovsky foi a do sérvio Novak Djokovic.
— Ele viveu isso quando era jovem, então ele sabe exatamente o que nossos filhos estão passando. Então, receber dele essa mensagem é, eu diria, muito significativa.