Demitido do Minas Tênis Clube após um comentário homofóbico nas redes sociais, o jogador de vôlei Maurício de Souza faz parte dos planos políticos do bolsonarismo para 2022. Nos últimos dias, o atleta fez um périplo pelo círculo de influência bolsonarista e foi cortejado por políticos e militantes.
Além de ter sido levado pelo presidente Jair Bolsonaro a uma conversa de apoiadores no Alvorada na segunda-feira, Maurício participou de um congresso conservador em Belo Horizonte no domingo e de uma entrevista com os ex-ministros Ricardo Salles e Abraham Weintraub para o programa ConservaTalk, apresentado por Paulo Figueiredo, neto de João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar.
Segundo o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), amigo de Maurício e que esteve com o atleta na conferência do fim de semana, o plano é convencê-lo a se lançar à Câmara dos Deputados em 2022.
— É importante ele pensar em ingressar na política, porque precisamos de pessoas com coragem de falar o que pensam. O que o Maurício pensa representa o que a maioria dos brasileiros pensam — afirma Jordy.
A ideia tem apoio de outros parlamentares. O deputado estadual de Minas Gerais Léo Portela, do PL, mesmo partido a que Bolsonaro deve se filiar nos próximos dias, fez um convite ao jogador numa rede social: "Estou com sua ficha de filiação ao PL pronta. Bora assinar no mesmo dia que o PR @jairmessiasbolsonaro?".
Um eventual batismo na carreira política tem como pano de fundo a dificuldade do jogador, de 33 anos, em encontrar um novo clube para treinar, depois que patrocinadores do Minas, a montadora Fiat e a produtora de aço Gerdau, pressionaram por sua demissão. O rompimento foi feito em 27 de outubro.
— No futuro vai ser difícil um time querer me contratar, por tudo o que aconteceu, pela repercussão que deu. Manchou minha carreira profundamente com isso. Talvez tenha até acabado, talvez eu não jogue mais voleibol — declarou Maurício no ConservaTalk.
Apesar de admitir as dificuldades em sua carreira, Maurício tem encampado a bandeira da "liberdade", e mantém o endosso ao seu incômodo com o fato de o personagem Super-Homem surgir bissexual na nova edição da revista da DC Comics.
Ele afirmou ao programa que "passou dos limites querer impor na sociedade uma coisa dessa" e que "se for para pagar o preço de perder o emprego, que seja, infelizmente".
O atleta pode virar um puxador de votos para políticos bolsonaristas, já que a expectativa é que nem todos os parlamentares bem votados em 2018 repitam o resultado. O cientista político Guilherme Casarões, professor da FGV de São Paulo, afirma que o bolsonarismo está em busca de uma certa "redenção eleitoral" para o ano que vem, entendendo que Bolsonaro não terá o mesmo poder de cabo eleitoral que teve em 2018.
— Por mais que ele tenha perdido apoio, patrocínio, emprego, ele se transformou num dos bastiões da liberdade que pode colocar o bolsonarismo de volta no radar em 2022. É importante trazer gente de fora desse grupo já consolidado. Essas figuras puxadoras de voto, os "Tiriricas" do bolsonarismo, vão fazer toda a diferença — diz Casarões.
Maurício se tornou uma opção eleitoral não apenas pela mobilização bolsonarista que se formou em seu entorno após a demissão, mas pelos números que conquistou nas redes sociais. O "cancelamento" por homofobia teve um efeito reverso, já que ele teve um aumento de 1.009,71% em seu número de seguidores no Instagram após o episódio, segundo levantamento da Bites.
Nos sete dias consequentes à sua demissão, Maurício passou de 200 mil seguidores para 2,7 milhões. Quase 1 milhão de pessoas começou a segui-lo na rede social em apenas um único dia, em 29 de outubro.
Nascido na cidade mineira de Iturama e com carreira em Minas Gerais, Maurício tem agora uma base de seguidores muito além do seu estado. Mais de 20% estão na cidade do Rio, 15,41% estão em São Paulo, e 5,25%, em Belo Horizonte — taxa bem acima do público geral do Twitter, do qual 2,07% está da capital mineira. A concentração dos fãs em estados que não o seu, no entanto, podem ser um obstáculo caso ele dispute a eleição por Minas.
Sua base de fãs se tornou predominantemente masculina, também de acordo com a Bites. Quase três em cada quatro seguidores (71,96%) são homens, e apenas 28,04% são mulheres. A proporção é bem divergente da identificada nos usuários brasileiros do Twitter, mais equânime: 50,32% são homens, e 49,68%, mulheres.
Ainda que Maurício "não descarte se candidatar" em 2022, segundo Jordy, o atleta já construiu uma base de fãs maior até do que os principais parlamentares da tropa de choque de Bolsonaro na Câmara, à frente de Carla Zambelli (2,3 milhões), Bia Kicis (1,3 milhão), Hélio Lopes (1,2 milhão) e o próprio Jordy (633 mil) no Instagram.