Para ser skatista é necessário equilíbrio e coordenação. É difícil se manter em pé no shape e remar, além de saber o momento certo de parar. Por esses motivos, não é qualquer pessoa que está pronta para praticar este esporte – a não ser aquelas que nascem para isso. Agora, você já imaginou andar de skate sem as pernas? Pois isso é o que Vinicios Sardi, paulistano de 21 anos, faz.
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"Meu sonho é me tornar skatista profissional", diz o jovem, em entrevista ao iG Esporte. Vinicios Sardi nasceu sem as pernas por conta de má-formação congênita e utiliza as próteses somente para se locomover, quando pega o skate, as deixa de lado e surpreende a todos com suas manobras, inclusive o norte-americano Tony Hawk , 12 vezes campeão mundial na modalidade vertical, além de três vezes campeão mundial no street e dez do "X Games".
"Ele (Tony Hawk) postou dois vídeos meus no próprio Instagram dele, eu cheguei a conversar com ele pelas redes sociais também, mas não cheguei a conhecê-lo. Eu estou programando uma viagem pra Califórnia (onde mora o multicampeão) talvez ano que vem, e se tudo der certo eu quero conhecer ele", afirma Sardi. "Inclusive, eu já tinha mandado uma mensagem pra ele falando que eu queria andar de skate com ele um dia. E ele respondeu que 'sim, isso vai acontecer'", continua, claramente feliz ao relembrar a mensagem de Hawk.
Vinicios começou a competir no circuito este ano e ainda não ganhou nenhum título. Entretanto, ele acredita que sua breve história de superação já pode ajudar outras pessoas que têm alguma deficiência e se sentem incapazes até mesmo de sair de casa.
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"Eu quero continuar passando uma imagem para as pessoas de que tudo é possível, continuar de alguma forma motivando pessoas e mudando vidas, porque eu acho que as vezes a pessoa está desmotivada e olha pra mim assim e de alguma forma eu posso dar uma inspiração pra ela. Então é isso que eu quero, sempre estar inspirando mais pessoas", acrescenta Sardi.
Confira a entrevista completa com Vinicios
iG Esporte:
Quando você começou a andar de skate enfrentou muitas barreiras?
Vinicios Sardi:
Na verdade, quando eu comecei a andar de skate, eu sofria mais com a barreira psicológica, eu ainda tinha um pouco de receio de sair em público sem as próteses em cima do skate, mas eu sempre recebi bastante apoio dos meus amigos pra andar e isso me ajudou bastante, então acho que enfrentei muitas barreiras psicológicas.
Você sofreu preconceito?
Sempre tem aquela pessoa que te olha diferente, que sente pena ou algo do tipo, mas eu nunca sofri preconceito não, não que eu me lembre. Foi sempre uma coisa 'de boa'. Às vezes as pessoas me olham assim e gostam também... mas preconceito eu nunca sofri.
Você recebeu o apoio de alguém para começar a andar de skate? Recebe algum apoio hoje?
Pra começar a andar de skate eu não recebi apoio, foi uma coisa minha mesmo. Eu vi um menino na televisão, que hoje ele é profissional de skate, o Ítalo Romano. E eu vi ele andando sem as pernas e falei 'poxa, vou tentar também', porque até então eu nunca tinha visto alguém andando de skate assim. E aí foi por mim mesmo, eu comecei a tentar andar de skate e com isso consegui apoio da minha família e de amigos.
Você mora com eles (família), então? E o que acham de você praticar um esporte radical?
Moro com meus pais e minha vó, sim, e todo mundo curte que eu ande de skate, por mais que no começo não curtiam muito, ficavam com um pouco de medo... mas hoje em dia todo mundo apoia.
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Você disputa campeonatos especiais ou não existe?
Até existem alguns campeonatos para-skate (especiais), que são skatistas na mesma condição que eu, porém é raro. É um campeonato por ano, no máximo dois. Eu compito de igual pra igual na categoria amador. Eu corro circuito brasileiro e paulista de Bowl e Banks, que é de pista, mas quando tem algum campeonato de para-skate eu participo também, porém eles são raros.
Quais títulos você já conquistou?
Eu já ganhei alguns campeonatos de bairro, mas eu comecei a competir no circuito este ano, então não cheguei a ganhar um título grande. Eu tenho um título de campeão brasileiro para-skate amador, que foi ano passado, no Rio de Janeiro.
Qual o seu sonho? Onde deseja chegar?
Meu sonho é me tornar skatista profissional e estou nesse caminho. Quero chegar até onde der. Eu quero continuar passando uma imagem para as pessoas de que tudo é possível, continuar de alguma forma motivando pessoas e mudando vidas, porque eu acho que às vezes a pessoa está desmotivada e olha pra mim assim e de alguma forma eu posso dar uma inspiração pra ela. É isso que eu quero... sempre estar inspirando mais pessoas, porque antes de eu andar de skate, eu não pensava em praticar esportes, eu me achava muito limitado, mas depois que eu dei um pontapé inicial na minha vida e falei 'vou andar de skate' eu passei por cima disso e vi que a gente pode se superar cada vez mais a cada dia e é muito mais uma questão de adaptação e barreira psicológica, que nós podemos fazer o que queremos, está tudo na nossa cabeça.
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