Samuel Lino chegou ao Flamengo com o peso de ser a maior transferência da história do clube: 22 milhões de euros, o equivalente a 143 milhões de reais na cotação da época. Esse fato por si só criou uma expectativa na torcida que, naquele momento, chegava um reforço que destruiria todos os jogos.
Foi até o que aconteceu nas primeiras aparições. O atacante teve um bom início, gerando volume de jogo, criando lances perigosos e incendiando a torcida, apesar de não balançar as redes ou dar assistências nas primeiras partidas.
O nível das atuações agradou, Lino ganhou a vaga de titular rapidamente e parecia cair nos braços da exigente Nação Rubro-Negra. O pênalti perdido na eliminação da Copa do Brasil não abalou essa relação. No jogo seguinte, assistência contra o Mirassol. Na 8° partida pelo Flamengo, 3 assistências e 2 gols na goleada contra o Vitória.
Ali, Samu Liso, como a torcida passou a chamar o jogador, parecia ter efetivamente falado “cheguei”. Mas, desde então, as atuações caíram de nível, ele parece ter perdido a confiança e não teve mais nenhuma participação direta em gols, seja marcando ou servindo algum companheiro.
Claro, foi o suficiente para a torcida carimbar o atacante como bagre, termo bastante utilizado atualmente para simplesmente dizer que um jogador é ruim.
A carreira de Lino
Óbvio que Lino não é bagre, bem longe disso. Mas o carimbo de contratação mais cara da história do clube é quase um atestado que o obriga a ser decisivo em todos os jogos, algo que ele nunca foi em nenhum período da carreira, é importante dizer.
A temporada mais goleadora foi em 21/22, pelo Gil Vicente, de Portugal. Na ocasião, marcou 14 vezes em 38 jogos.
Nas 3 temporadas na Espanha, uma pelo Valência e duas pelo Atlético de Madrid, os números são os seguintes: 41 jogos, 8 gols e 3 assistências (22/23), 46J, 8G e 8A (23/24) e 47J, 4G e 8A (24/25).
Percebem como é um jogador que não tem por característica impactar nas partidas com gols e assistências a todo momento? Mas, pelo valor e desconhecimento, cobra-se isso do atacante.
Cobrança semelhante com Everton Ribeiro
Algo semelhante aconteceu com Everton Ribeiro. Ele foi contratado em 2017 e no imaginário do torcedor era o mesmo jogador que fazia chover no Cruzeiro em 2013 e 2014.
Mas o ex-camisa 7 só engrenou praticamente dois anos depois, em 2019, quando passou a ser um dos principais jogadores do time e atendeu às expectativas iniciais do torcedor — ainda que não fosse pelos pés dele que saíam a maioria dos gols e assistências, afinal, os lances decisivos cabiam ao trio Gabigol, Bruno Henrique e Arrascaeta.
Outro ponto que precisa ser relembrado: o jogador veio da Europa, no início da temporada, em outro ritmo e rotação. Além disso, emendou uma sequência de jogos (com convocação para a seleção brasileira) quase sem descanso.
Para mim está nítido o quanto ele é dependente do estado físico e isso tem refletido no que ele consegue entregar dentro de campo.
Por fim, algo que serve para quase todo jogador contratado, Lino também precisa de tempo para se adaptar, um tempo que, a essa altura da temporada, é difícil encontrar.
Como falei, pode ser criticado pelo desempenho que caiu bastante e pelo gol perdido contra o Bahia, por exemplo.
Mas é fundamental entender que tipo de jogador ele é, a fase em que se encontra e até uma possível perda de confiança que, na minha análise, também parece ser uma questão nas últimas partidas.
A avaliação não pode ser baseada somente no quanto ele custou. O preço do atacante, nesse caso, não se justifica pela sua capacidade de decisão. Mas, sim, por ser de um grande time europeu, com mercado internacional e ainda considerado novo no mundo do futebol (25 anos).
As críticas são merecidas, embora muitas delas sejam mais exageradas do que justas. O torcedor precisa refletir e dosar não somente o tom das delas, mas também suas expectativas em relação ao jogador.