Caio
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Caio

Recém-chegado ao FK Delvina, da segunda divisão da Albânia, o ponta-esquerda Caio não vê a hora de estrear pelo time e mostrar seu futebol para tentar se projetar no futebol europeu. Lutador desde a adolescência, o atacante de 24 anos, natural de Porto Velho (RO), saiu de sua cidade para jogar futebol, feito para poucos de sua região, e foi logo para o cobiçado velho continente. Caio nunca teve nada fácil na vida, treinou durante anos com a ajuda de sua mulher, dava a vida na várzea para se sustentar e ao chegar à Europa sofreu com preconceito, mas sempre enfrentou as adversidades com alegria.

Caio começou a jogar bola muito cedo, com apenas três anos de idade, por influência do pai e do irmão mais velho, os dois do mundo do futebol. O jovem jogador fez sua formação inteira no Genus, maior time de Porto Velho. Chegou aos 14 anos no clube, no elenco Sub-15, e era comum o colocá-lo para jogar em categorias mais altas que a dele. Caio subiu ao profissional do time aos 21 anos, em 2019, e disputava campeonatos regionais, o estadual e a 1ª divisão da cidade.

Para auxiliar na sua sustentação, ele conseguia uma pequena renda disputando campeonatos de várzea. Além disso, fazia alguns “bicos” em diversas funções: já cortou grama em condomínio, cuidou de balsa de garimpo e até trabalhou como lavador de tapetes.

Entre um campeonato de várzea e outro, Caio tinha o sonho de jogar na Europa, atuar em grandes times e nos estádios de futebol mais consagrados tal qual Neymar, sua inspiração no futebol. E sempre se manteve firme nesse objetivo mesmo ouvindo conselhos de que seria melhor desistir, que nunca iria sair de Rondônia para jogar futebol e que o máximo que jogaria na carreira seria o campeonato estadual.

Desde os 19 anos, Caio já mantinha uma rotina intensa de treinamentos que cumpria rigorosamente na convicção de que o dia da glória chegaria e com a contribuição fundamental de Rafaela, sua mulher. Acordava sempre às 5h30 da manhã e ia para o campo de terra perto de casa com ela, que o ajudava a treinar. Voltava para casa e descansava até sair para o treino no Genus andando por cinco quilômetros.

“Eu não sabia quando a oportunidade apareceria, então eu apenas tinha na cabeça que precisava estar preparado. Mesmo assim, manter essa rotina durante quatro anos era pesado, por isso, em momentos de fragilidade e desânimo, a Rafaela foi a minha pedra de sustentação. Falava para eu não parar, que uma hora daria certo. Hoje eu tenho certeza que sem ela eu não teria ido a lugar nenhum e ainda estaria em Porto Velho batendo peladas e jogando na várzea”, conta.

O ano de 2021 foi um divisor de águas para Caio. Após postar um vídeo de lances seus no Instagram, Caio recebeu o contato de um empresário por direct, que ofereceu a oportunidade de ir ao Liria, do Kosovo.

O rondoniense juntou dinheiro para a passagem e foi sozinho para Kosovo, em maio. Quando chegou, parecia que todas as dificuldades que passou tinham valido a pena. “Quando eu pisei em Kosovo, nem eu acreditei que tinha saído da minha cidade pra jogar em outro canto, porque quase ninguém sai. Arrisquei tudo o que eu tinha para ir”.

Após passar uns dias treinando com a equipe profissional do Liria, Caio causou uma boa impressão logo de cara e assinou contrato de um ano com a equipe para a temporada de 2021/22. O curioso é que ele não havia sido informado que estava realizando apenas testes na equipe. “Foi uma surpresa. Achei que já estava tudo certo. Pelo menos como não sabia que era teste, joguei tranquilo e despreocupado, por isso acho que consegui me soltar mais e graças a Deus gostaram de mim”, diz.

Pelo Liria, Caio disputou o campeonato nacional e a Copa de Kosovo e deu seis assistências. O jovem atacante era titular no início da temporada, mas acabou lesionando o tornozelo e ficou três meses fora, voltando apenas no final da temporada.

Ele também passou por algumas dificuldades como se adaptar ao jogo muito intenso e a barreira linguística com o treinador. Caio também sente muita saudade da família que sempre o apoiou em seu sonho e faz chamadas de vídeo muitas vezes por dia para encurtar a distância.

A maior dificuldade, no entanto, foi o preconceito que Caio sofreu. Por ser brasileiro em um time composto majoritariamente de kosovares e gregos, alguns companheiros de time eram xenofóbicos com ele.

“Tinha uns que não aceitavam que eu fosse um cara que pudesse fazer a diferença no time e nutriam preconceito contra mim. Eu achava que era só vir aqui e jogar bola, mas não é. Você tem que lidar com os caras querendo te derrubar, você passa e sabe que eles estão falando mal de você, tinha dia que eu já ia para o treino estressado, foi muito difícil. Eles deram graças a Deus quando me machuquei”, relata.

Em julho de 2022, Caio foi vendido para o FK Delvina, que disputa a segunda divisão do Campeonato Albanês, e está ansioso para continuar sua trajetória no velho continente. “Quero começar logo a construir minha história no Delvina, sei que tenho muito a contribuir para a equipe e para que eu continue crescendo como jogador”, diz.

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