Felipe mantém escolinha de futebol em Mogi das Cruzes, São Paulo
Reprodução/Christopher Henrique
Felipe mantém escolinha de futebol em Mogi das Cruzes, São Paulo

De férias no Brasil após o fim da temporada europeia, o zagueiro Felipe, do Atlético de Madrid, veio acompanhar de perto os trabalhos em sua escolinha de futebol em Mogi das Cruzes, cidade da grande São Paulo, e relembrou seus primeiros passos no futebol.

Em entrevista exclusiva ao iG Esporte, Felipe conta que apesar dos 7.845 km que separam Brasil de Madrid, se mantém atualizado sobre as novidades com o pessoal da escolinha “Galo de Ouro de Futebol 7”, que foca na formação de jovens atletas, de 5 a 15 anos.

“Quando eu cheguei disse ao Xandy (coordenador da escolinha) que não ia ter uma ligação tão forte assim, por conta dos meus compromissos, então pedi para que ele me mandasse o que tivesse. Então a gente se liga umas duas vezes por semana para falar sobre a escolinha, aqueles meninos que estão se destacando e tudo mais. A gente tem sempre a pretensão de ajudar. Ele sempre me passa o que vai acontecer, agora as coisas mais fortes assim, aquelas gorduras, é ele que tem que absorver (risos). Estou ali só para tentar ajudar de alguma forma”, conta Felipe.

O zagueiro vê o projeto como uma porta para que atletas possam se destacar e, quem sabe, virem a ser jogadores de futebol profissional. Ele também deixa um conselho que recebeu do seu pai na infância para aqueles que ainda sonham com a 'chance de ouro' na carreira.

“É isso que eu pretendo. Não é ganhar, não pretendo ver parte financeira nisso. Tem a escolinha, que tem um pagamento mensal, os custos com materiais e professores, e como eu já estou perto também de parar, a gente sabe que o custo vem elevando. Também tem os meninos que não tem custo nenhum e a gente procura ajudar. Então a gente tenta fazer da melhor forma. Vemos se o menino tem condições de chegar a um clube profissional e indicamos ele, como tem sido a nossa ideia. A minha intenção mesmo é ajudar a chegar nas pessoas corretas e dignas, porque a gente sabe que neste mundo de futebol é muito complicado. Muitos prometem coisas absurdas e acabam largando a criança ali aonde quer que esteja. Então a minha intenção é ajudar”.

"O maior conselho assim, que sempre foi a minha ideia e procuro passar isso, é que se você está focado no futebol, você tem o sonho, você quer, as pessoas dizem que você têm possibilidade de ser profissional, quer dizer que você tem qualidade. Então é focar mesmo, trabalhar, porque acho que em qualquer área se você quer crescer você precisa trabalhar, precisa crescer em muita coisa que estão te orientando. Quero encaminhar o atleta para que na hora que ele tiver a oportunidade ele conseguir aproveitar. Eu não tive essa oportunidade. E quando eu tive a minha, eu aproveitei e estava preparado. A gente não sabe a hora certa. Uma coisa que eu falo, acho que nunca disse para ninguém, mas meu pai falou isso para mim e eu guardo e tenho até hoje isso como motivação: independente do jogo que seja, contra o time do bairro, ou seja lá quem for, dê o seu máximo, porque sempre vai ter uma pessoa lá, e você não sabe quem ela está olhando. Pode não ter ninguém no estádio, mas dê o seu máximo sempre porque podem gostar do seu esforço e do que você faz".


A trajetória dele no futebol, no entanto, também é marcada por dificuldades. Felipe revela que pensou em desistir de tentar se tornar um atleta profissional, mas ainda mantinha esperanças.

"A gente não sabia o caminho para ser contratado por um clube, DVD, eu não sabia nada disso. Então eu cheguei a ir para a Portuguesa fazer teste, depois Corinthians, depois São Paulo, diversos lugares e repetidas vezes, sempre negando. Então vi que aquilo não era tão fácil como parecia. E aí chegou meus dezoito anos que eu pensei: ‘poxa, cheguei aos dezoito, vou precisar trabalhar, né?’ E foi aonde que parece que as coisas começaram a funcionar. A minha sogra me chamou para trabalhar com ela, mas o pensamento ainda estava no futebol. Até disse para ela nem me registrar porque eu queria algo no futebol”.

O zagueiro então deu seus primeiros passos no União Futebol Clube, time de sua cidade natal, onde teve a oportunidade de disputar a segunda divisão do Campeonato Paulista, equivalente ao quarto nível estadual. Felipe agarrou a oportunidade e foi destaque da equipe, chamando curiosamente a atenção de um de seus colegas de equipe, que resolveu lhe ajudar.

“O Bruno Rios me disse: “cara, você merece ajuda, fez um campeonato legal”, a pessoa estava jogando do meu lado, entende? Me ajudou. Ele pediu alguns lances meus para ver o que ele poderia fazer. E eu pensei que isso era bom, estamos aí, né? Fui atrás, não sabia nem fazer isso. Até fiz tudo errado o DVD lá. Entreguei para ele. Depois, esse vídeo chegou no empresário dele, que foi entregar nos clubes que ele tinha conhecimento. E aí foi quando ele me ligou e disse que eu ia me apresentar no Bragantino. Meu, eu fiquei dois dias sem dormir. Eu disse para mim mesmo que tinha que aproveitar essa oportunidade. Aí isso eu já comecei a focar, era essa oportunidade. Aí quando eu cheguei lá, comi a bola, não estava nem aí”.

Atuando na Série B, Felipe se destacou e chamou a atenção do Corinthians, sendo contratado em 2012 e negociado em 2016 junto ao Porto. Após três temporadas no clube português, acertou com o Atlético de Madrid.

Seleção brasileira e Copa do Mundo

Faltando cinco meses para o início da Copa do Mundo do Catar, Felipe se mantém na briga por uma vaga entre os selecionados de Tite. Com pelo menos cinco ‘concorrentes’, o zagueiro diz estar trabalhando para que, caso a oportunidade venha, possa aproveitar da melhor maneira, mas sabe que a disputa é acirrada.

“Eu tenho que estar sempre positivo e entendendo que se vir a oportunidade, é aproveitar como sempre. Ter aquela experiência (de ser convocado) é boa, mas eu também me coloco um pouco do lado do treinador e sei o quanto é difícil selecionar os atletas, porque você precisa ter um radar de jogadores, e você precisa ver o nível de cada um na sua temporada. Então eu procuro me colocar dos dois lados, é claro que como atleta eu gostaria muitíssimo de estar lá, selecionado, mas eu também me coloco do lado deles e sei o quanto é difícil. Então é ter uma expectativa boa, trabalhando muito, se tiver jogando ou não, cinco minutos, o que seja, continuar mostrando que mereço e se for, aproveitar da melhor maneira".

Ambições no Atlético de Madrid

Felipe afirma que a evolução sob uma perspectiva maior fez o Atlético de Madrid almejar conquistas, e espera que a equipe triunfe na próxima temporada. 

"O objetivo desde que cheguei no Atlético, eu não vou falar pelos outros anos porque a minha visão era outra, era de torcedor-espectador, mas desde que cheguei é sempre saber que temos que brigar por tudo. O Atlético está em um nível para estar entre os primeiros, para ser grande de uma expressão absurda, como já é hoje, mas querem chegar em um nível muito maior. O objetivo é bem claro e são todas as competições, e no dia a dia a cobrança é absurda na dinâmica do clube, porque isso influencia muito, estão se reestruturando, como um CT próprio, e desde que cheguei eles vem falando isso, crescimento em diversas coisas, conhecimento também, algo do marketing. É maravilhoso estar participando disso e enxergando de perto".

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