A declaração de Neymar sobre ter vontade de jogar na liga profissional de futebol dos Estados Unidos depois que sair do PSG, daqui a três ou quatro anos, citando que a Major League Soccer (MLS) tem um campeonato curto, “com três ou quatro meses de férias”, caiu como uma luva para Don Garber. Ao ser perguntado sobre o interesse do brasileiro e de Messi, o comissário da MLS parecia ter a resposta ensaiada. Na semana de início da temporada 2022, ele se deu ao luxo de “recusá-los”, alegando que o campeonato não é um retiro para veteranos. É bem provável que tenha blefado em relação aos dois. Mas, neste momento, passar esta mensagem é mais importante.
Veja abaixo galeria de fotos de Neymar e Messi:
A MLS vive uma terceira tentativa de tornar o futebol popular nos EUA. A primeira teve início com o próprio surgimento da liga, em 1996. O objetivo era aproveitar o resquício do interesse com a Copa disputada por lá dois anos antes. A segunda, já neste século, fez do torneio uma espécie de campeonato das estrelas (a maioria veteranas). A chegada de David Beckham ao Los Angeles Galaxy, em 2007, foi o momento mais simbólico.
Ainda há medalhões lá. Como o mexicano Chicharito, o argentino Higuaín e o brasileiro Alexandre Pato. No meio do ano, o italiano Insigne se juntará a eles. Mas os executivos perceberam que, ao contrário das outras quatro grandes ligas locais (de basquete, de futebol americano, de beisebol e de hóquei), a MLS não é a mais forte de seu esporte no mundo. Para gerar interesse é preciso elevar o nível técnico, o que os levou a investir em jovens promissores.
Os principais mecanismos de incentivo envolvem a famosa regra do teto salarial. Cada clube pode ter até três jogadores designados (podem extrapolar o limite, ainda que também entrem na contabilidade). Mas se eles tiverem no máximo 23 anos pesarão menos no orçamento do que os mais velhos.
A liga ainda oferece a cada clube contratar até três jogadores dentro da chamada Iniciativa sub-22. Se atenderem a alguns critérios, também impactarão menos na contabilidade do teto salarial.
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Estas regras influenciaram nas recentes contratações de brasileiros. Aos 19 anos, o ex-Vasco Talles Magno ocupa o posto de jovem jogador designado no New York City FC. Já seu companheiro de equipe, o ex-Bahia Thiago Andrade (21 anos) ocupa uma das vagas de Iniciativa sub-22. Mesma situação do ex-Inter Vinicius Mello (19), recém-transferido para o Charlotte FC.
A grosso modo, há três formas de captação na MLS: a formação nas academias, o draft da liga universitária e a contratação. Mas uma série de limitações nas duas primeiras fazem a terceira ser vista como de melhor retorno.
Primeiro porque os clubes possuem territórios delimitados para captar. A área é traçada de acordo com onde eles estão estabelecidos. E, como só é permitido ingressar na MLS com contrato, não é simples convencer os jovens a assinar. Uma vez no futebol profissional, deixam de ser aptos a receber bolsa esportiva na universidade.
— Se esse atleta não der certo no futebol, para entrar no mercado de trabalho é muito mais complicado do que aquele que é formado em universidade — explica André Zanotta, diretor de futebol do FC Dallas.
A liga universitária, por sua vez, não fornece talentos com a mesma frequência que nos demais esportes. Por isso, os clubes têm se lançado com cada vez mais ímpeto no mercado, principalmente o sul-americano. Segundo a Fifa, em 2021 os EUA foram o único país não europeu entre os dez que mais gastaram com transferências internacionais. Ficaram em sétimo, com gasto total de 159,9 milhões de dólares (R$ 821,7 milhões).
Das dez contratações mais caras da história da MLS, nove ocorreram nos últimos quatro anos. A maior foi a do argentino Thiago Almada, meia de 20 anos do Vélez Sarsfield chamado de “novo Messi” em seu país. Foi adquirido pelo Atlanta United no início do mês por 16 milhões de dólares (cerca de R$ 82 milhões). Entre os brasileiros, no ano passado Brenner (21) deixou o São Paulo para o FC Cincinnati por 13 milhões de dólares (R$ 67 milhões na cotação da atual).