O ex-jogador francês Patrice Evra, que atuou pelo Mônaco, Juventus e fez sucesso no Manchester United, ao lado do amigo Cristiano Ronaldo, deu um depoimento forte e tocou em um assunto que escondeu desde criança, inclusive da família.
Em entrevista ao jornal britânico The Times, uma prévia da autobiografia ('Amo este jogo') que será publicada em 28 de outubro, ele se disse arrependido de não ter contado que foi assediado quando era criança.
“Não tenho vergonha de admitir que me senti um covarde por muitos anos porque nunca falei. Era algo que estava apertando meu peito. Mas não faço por mim, faço pelas outras crianças. Não quero que os que estão na minha situação se sintam envergonhados ”, revelou ele.
Sobre os episódios de abusos, Patrice Evra relata que aconteceram na casa de um professor onde, devido às circunstâncias, ele ficava para dormir.
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“Me dava um nó no estômago quando o dia letivo se aproximava e eu tinha que dormir lá. Não pude continuar com isso e, depois de alguns meses, disse à minha mãe que não queria mais ficar com ele. Eu não dei nenhuma razão. A essa altura, o professor que queria abusar de mim já estava cansado da situação. Eu era um lutador, mas ele não iria ceder. Ele nem me perguntou por que eu estava indo embora. Ele sabia disso. Porém, na última noite na casa daquele homem, quando soube que eu voltaria para minha família, ele finalmente alcançou seu objetivo. Ele colocou meu pênis na boca”, conta.
Quando Evra jogou pelo Mônaco, a polícia chegou a questionar o jogador sobre uma investigação existente contra esse professor, porém, ele não escondeu sobre o tema. “O ódio nunca estará em meu coração. Não odeio o professor que abusou de mim. Essa é a parte maluca de tudo isso. E não quero que as pessoas sintam pena”, afirma ele.
Evra também falou de como espera que seja a sua vida daqui para frente. “Sei que o livro significará que as pessoas mudarão sua visão de mim, mas estou mais que feliz em falar. Eu sou uma versão melhor de mim mesmo. Meus amigos dizem: 'ah, o mundo vai reagir, pense sobre a pressão', mas a maior pressão foi contar para minha mãe. Ela disse que sentia muito e que se ele ainda estivesse vivo, ela iria matá-lo. Existe muita raiva. Eu sei que minha mãe e pessoas da minha família investigarão para ver se podem processar. Mas enterrei isso tão profundamente que não pensei em nenhum julgamento", apontou.
Por fim, o ex-jogador da seleção francesa mandou uma mensagem para todas as crianças. “Se você é uma criança, você leu isto e está sendo abusado, você deve falar. Não carregue sua vergonha porque não há vergonha. Lide com seu pesadelo falando sobre ele. Eu olho para o meu próprio filho e penso: 'Se algo acontecer, espero que ele me diga'. Muita merda aconteceu na minha infância. As pessoas que conheço e amo vão ler isso e não quero causar mais dor a elas, mas é importante que eu lhes conte minha história com honestidade. Tenho 40 anos e estou falando a verdade", concluiu.