O Newcastle (confira galeria abaixo) teve a sua compra pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIS) aprovada nesta quinta-feira . Seu novo presidente, Yasir Al-Rumayyan, foi indicado por Mohammad bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, que é alvo de diversas acusações por violações aos direitos humanos.
A compra do Newcastle pelo Fundo de Investimento da Arábia Saudita gera muita polêmica por conta de seus novos donos. Além das cifras milionárias, críticas por parte da CIA, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, feitas diretamente ao governo do país entram em destaque.
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Mohammad bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, é filho do rei Salman Abdulaziz Al Saud, mas também ocupa os cargos de vice-primeiro ministro e ministro da defesa do país. Por seus atos, MBS, como é conhecido, é acusado de crimes de guerra.
A interferência militar da Arábia Saudita na Guerra Civil do Iêmen é tratada como um crime de guerra por parte dos sauditas. MBS, face do governo saudita no conflito, é acusado pela morte de civis, ataque aos campos de refugiados e interceptação de navios com comida para a população.
Além da interferência no Iêmen, Mohammad bin Salman é acusado de ordenar a morte do jornalista Jamal Khashoggi, ex-colunista do New York Times, crítico de seu governo na Arábia Saudita. Khashoggi foi esquartejado em 2018 na cidade de Istambul, na Turquia. Segundo a inteligência estadunidense, a emboscada para a morte do jornalista foi armada pelo príncipe herdeiro.
Com tantas polêmicas acerca de sua imagem, MBS e o governo buscam limpá-la através do futebol. Edições da Supercopa de países como Itália e Espanha foram disputadas no país, gerando críticas e boicotes de emissoras de TV locais por conta dos crimes contra os direitos humanos cometidos no governo do país.
A compra do Newcastle é a grande cartada de Mohammed bin Salman para limpar a sua imagem. Ser dono de um clube em uma das maiores ligas de futebol no mundo é a ideia de MBS para entrar no esporte e praticar o 'Sportswashing'.
O 'Sportswashing' trata-se do uso do esporte em geral por parte de um governo para esconder ações que eles não desejam que não sejam reconhecidas pelo mundo. Gigantes como o PSG, que pertence ao Qatar, e o Manchester City, que pertence a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, são exemplos de sucesso no futebol.
A disputa entre Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar também passa a crescer no futebol com a entrada do governo saudita em um clube da Premier League. Anteriormente, os governos já brigavam pelos direitos de transmissão das ligas.
Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos foram líderes de uma coalisão que cortou todos os laços com o governo qatari. Com bloqueio no comércio e viagens para o Qatar, o país sede da próxima Copa do Mundo foi abalado financeiramente, algo que afetou nas obras para a competição.
A relação do governo qatari com o Irã é o motivo do conflito com emiradenses e sauditas. O Qatar é acusado pela Arábia Saudita de financiar grupos terroristas no Oriente Médio, algo que os sauditas também já foram acusados anteriormente.
Um dos bloqueios dos sauditas ao Qatar ocorreu exatamente nas transmissões das grandes ligas de futebol. O governo qatari é dono da Al-Jazeera, emissora crítica dos governos de Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, e responsável pela beIN Sports, que tem os diretos para a transmissão de partidas de campeonatos europeus de futebol.
A Arábia Saudita, para combater os qataris, criaram a beoutQ, uma emissora de TV que agiu como uma forma de contrabando da transmissão original. A questão foi tão grande que a Premier League impediu a compra do Newcastle há 18 meses.
Além dos direitos de transmissão, das Supercopas e da compra do Newcastle, a Arábia Saudita busca sediar a Copa do Mundo. A aproximação de Mohammed bin Salman com Gianni Infantino, presidente da Fifa, seria um indicador de tal objetivo.