Depois de 776 dias preso na Rússia, o pesadelo chegou ao fim. Após ter seu indulto concedido pelo governo russo, o brasileiro Robson Oliveira chegou em solo nacional na noite desta quarta. O ex-motorista do jogador Fernando, que atuava no Spartak Moscou na época da prisão, desembarcou no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para recomeçar a vida ao lado da família.
Oliveira foi recebido pela mãe, Dona Vanda, pelo filho, Douglas Santos e pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que ofereceu a Robson um cargo de motorista, para trabalhar junto ao deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), que também esteve na comitiva que o recebeu, além do secretário de Cultura, Mário Frias.
— Sensação de alívio, de estar no meio de quem eu conheço, que fala a mesma língua que eu. É muito bom. Lá dentro eu não sabia quem tava fazendo o quê. Então não tinha noção do andamento. Se demorou ou não, não importa. Importa que estou aqui. Nunca perdi a esperança, até porque era inocente. Mas era muito difícil lá. É difícil estar preso sendo inocente. Vi presos que estavam acostumados já com a prisão. Eu não conseguia me acostumar — desabafou Robson.
Sem mais nenhuma dívida com a Justiça (sua condenação foi perdoada), ele agora tem uma série de comemorações pela frente. Já nesta noite, irá conhecer o neto, nascido quando ele já estava preso. Um churrasco foi preparado pela família, em Nova Iguaçu.
— A sensação [pela prisão] foi de decepção, surpresa. Vários sentimentos ao mesmo tempo. Não falava a língua, não tive como me defender. A última vez que me pesei tinha perdido 20kg — relata. — Eu não sabia que tinha medicamento na mala. Então não poderia saber se era proibido ou não.
O clima no aeroporto era de felicidade e de expectativa em relação ao futuro. Mas isso não significa que o pesadelo russo tenha sido esquecido. No discurso do filho Douglas Santos, a liberdade concedida ao pai não repara os mais de dois anos de prisão.
— Na verdade, não foi feita justiça. Nada vai reparar os dois anos que ele ficou lá. Só ele e nossa família sabemos o que passamos. Gastamos, tivemos custo com advogados em cima de uma promessa que seria boa, de trabalhar em outro país com um jogador — desabafou Douglas Santos. — Isso mexeu com a vida de todo mundo. Ele não viu o nascimento do neto. Muitas coisas ele perdeu. Aniversários, Natal, Dia das mães. E nada vai reparar estes dois anos. Então não houve justiça.
O objetivo agora é buscar esta reparação. Olímpio Soares, advogado de defesa de Oliveira, explicou que a família irá entrar com uma ação na Justiça contra Fernando buscando reparação moral e material. A acusação é de que o jogador omitiu sua responsabilidade.
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— Ele sempre soube que o medicamento era proibido na Rússia. Temos o depoimento de uma babá que trabalhou antes do Robson e que confirma que ele já tentava levar o produto para lá. Ele já tentou autorização com os médicos do clube e nunca conseguiu. E decidiu correr o risco mesmo assim expondo o Robson - disse o advogado.
Oliveira chegou a Moscou em 10 março de 2019 com a pretensão de trabalhar para o casal William Pereira de Faria e Sibele Vieira Rivoredo, sogros do volante Fernando, que à época jogava no Spartak Moscou. O remédio que estava na bagagem (duas caixas, com 40 comprimidos no total, de Mytedom — cloridrato de metadona — 10mg) é prescrito no Brasil para pacientes que convivem com dor ou tratamento de desintoxicação de narcóticos.
A substância é proibida na Rússia e foi apreendida pelas autoridades. William alegou ter pedido a medicação por sofrer de dores nas costas. Mas, oito dias depois, Oliveira foi preso após prestar depoimento.
Em outubro, o presidente Jair Bolsonaro interferiu pessoalmente no caso de Oliveira. Uma carta foi enviada ao presidente russo, Vladimir Putin, pedindo a soltura do motorista, sob o argumento de que ele entrou nessa situação por total desconhecimento da regra local.
— Momento não é de mágoas. Ele foi pra trabalhar como motorista de um jogador de futebol, que é o Fernando. Eu fiz contato com ele. Alguns achavam que ele podia ir além. O Fernando foi no limite. Podia ir mais? Talvez pudesse. Mas não justifica algumas críticas de que ele abandonou o Robson. Estava em outro país. Não é fácil. Ele está acostumado com a legislação do Brasil, que é bastante complacente. Lá é diferente. Tem países que a mesma substância uma vez encarada como droga a pena é de morte — defendeu o presidente.
Em dezembro, A Justiça local condenou o brasileiro a três anos por contrabando e tentativa de tráfico de drogas. Desde então, o processo de transferência ao Brasil era tratado entre o Itamaraty e o governo russo. No último domingo, o indulto enfim foi concedido.
— O Robson agora se desloca de mim. Eu vou ter o telefone dele. Vou ajudá-lo. Nós sabemos a dificuldade de emprego no Brasil. Digo mais. Ele já está empregado. Vai trabalhar com meu irmão Hélio. Ser motorista dele quando estiver no Rio. É o que posso fazer por ele, e acho que qualquer um faria no meu lugar. Para ele poder se reintegrar à nossa sociedade — afirmou.