
O sorteio da Copa do Mundo de 2026, realizado nesta sexta-feira (05) em Washington, nos Estados Unidos, colocou Brasil, Marrocos, Escócia e Haiti no Grupo C, mas com um elemento incomum: torcedores haitianos não poderão entrar em território estadunidense por causa de restrições migratórias, regra que também atinge adeptos do Irã.
A seleção haitiana recebeu autorização especial para disputar o torneio, assim como parte das delegações de Haiti e Irã, mas o decreto do presidente Donald Trump não prevê isenção para espectadores. A decisão cria um cenário de estádios esvaziados para dois países e levanta dúvidas sobre o ambiente da Copa em solo norte-americano.
Grupo do Brasil
O Brasil foi sorteado como cabeça de chave do Grupo C e vai enfrentar Marrocos, Haiti e Escócia na primeira fase do Mundial. A estreia da equipe de Carlo Ancelotti será contra os marroquinos, no dia 13 de junho, com os outros jogos marcados para 19 e 24 de junho, em cidades do Leste dos Estados Unidos.

Com a ampliação para 48 seleções, a Copa de 2026 terá 12 grupos de quatro equipes e 104 partidas ao todo. Avançam ao mata-mata os dois primeiros de cada chave e os oito melhores terceiros colocados, o que torna o grupo considerado acessível para o Brasil em termos esportivos, mas com um contexto político inédito nas arquibancadas.
O Haiti, que volta a uma Copa masculina após mais de 50 anos, será o 50º adversário diferente da Seleção Brasileira na história dos Mundiais. Dentro de campo, a presença haitiana marca um feito esportivo raro; fora dele, a impossibilidade de levar torcida transforma a campanha em uma experiência quase silenciosa para o país caribenho.
No mesmo sorteio, o Irã caiu no Grupo G, ao lado de Bélgica, Egito e Nova Zelândia. A seleção asiática também está liberada para disputar o torneio, mas seus torcedores enfrentam as mesmas barreiras impostas aos haitianos, já que o país integra a lista de nações com proibição de entrada nos Estados Unidos.
Decreto de Trump barra torcedores, mas libera delegações esportivas
Em junho, o governo Trump assinou uma ordem executiva que veta a entrada de cidadãos de 12 países, entre eles Haiti e Irã, sob o argumento de proteger a segurança nacional contra “terroristas estrangeiros”. A proibição vale tanto para imigrantes quanto para não imigrantes e atinge vistos de turismo, estudo, negócios e residência.

O texto da medida prevê exceção para atletas, treinadores e membros de staff em competições globais, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Foi com base nessa brecha que “alguns integrantes” das delegações de Haiti e Irã receberam isenções específicas para entrar nos Estados Unidos durante o torneio, segundo Andrew Giuliani, responsável pelo grupo de trabalho da Casa Branca para a organização da Copa.
A mesma flexibilidade, porém, não se aplica a torcedores. Não há previsão automática de isenção para quem viaja apenas para assistir às partidas. Na prática, haitianos e iranianos que tentarem o visto continuarão submetidos às regras mais duras da política migratória, com alta chance de recusa.
Giuliani afirmou que “cada decisão sobre um visto é uma decisão de segurança nacional”, sinalizando que as análises consulares serão mais rígidas ao longo dos próximos meses. O governo também admitiu a possibilidade de ações mais duras contra imigrantes irregulares durante o período da Copa, incluindo detenções.
Haiti e Irã jogam praticamente “fora de casa” em território neutro
A combinação entre classificação histórica e arquibancadas vazias cria um contraste particular para o Haiti. O país vive uma grave crise interna, com violência de gangues e instabilidade política, e já vinha mandando jogos das Eliminatórias fora de casa. Agora, mesmo em uma Copa disputada em território neutro, a seleção não terá a presença massiva de seus torcedores nas partidas.
O Irã, acostumado a contar com comunidades espalhadas pelo mundo em torneios internacionais, também deve sentir o impacto. Na teoria, imigrantes iranianos já residentes legalmente nos Estados Unidos podem se deslocar entre as sedes da Copa, mas familiares e amigos que vivem no exterior encontram barreiras para conseguir visto durante a vigência do decreto.
Para o Brasil, o efeito imediato é atuar em ambientes menos divididos quando enfrentar o Haiti na segunda rodada do grupo. Em vez de um jogo com forte presença caribenha nas arquibancadas, a tendência é que a maioria dos ingressos acabe nas mãos de torcedores locais ou de brasileiros que conseguirem viajar. Isso pode alterar a dinâmica de apoio nas partidas do grupo.
Ambiente político reforça desafio da Fifa com Mundial em três sedes
A Copa de 2026 será disputada em Estados Unidos, Canadá e México e marcará a estreia do novo formato com 48 seleções. A Fifa costuma defender o torneio como evento “global e inclusivo”, mas a coexistência com políticas migratórias restritivas no principal país-sede coloca pressão extra sobre a entidade às vésperas do início da competição.
Além de lidar com logística ampliada, maior número de jogos e deslocamentos entre três países, organizadores terão de administrar eventuais protestos de entidades de direitos humanos e manifestações de torcedores afetados pelas proibições. Organizações como a Anistia Internacional já classificaram medidas do tipo como discriminatórias e baseadas em critérios de nacionalidade.
Por enquanto, o discurso oficial da Casa Branca mantém o foco na segurança. O governo sustenta que as decisões sobre vistos seguirão critérios de proteção do território e que exceções para atletas são suficientes para garantir a realização do torneio. Não há, até o momento, indicação de revisão da lista de países barrados antes do início da Copa.
Com o grupo definido e o calendário pronto para ser detalhado, a Seleção Brasileira se prepara para encarar um cenário inédito: enfrentar um adversário que celebra retorno histórico ao Mundial, mas sem a presença maciça do próprio povo nas arquibancadas.