Após três anos de incertezas e trabalhos decepcionantes, a seleção brasileira volta a encerrar uma temporada com um treinador fixo e incontestável: Carlo Ancelotti.
Após deixar o Real Madrid, o italiano substituiu Dorival Júnior no comando técnico do time canarinho, se tornando o primeiro estrangeiro a ocupar o cargo em 50 anos.
A saga da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em busca da contratação de Carlo Ancelotti envolveu polêmicas, acordos não cumpridos e reviravoltas. Relembre abaixo:
Primeiros contatos
Os primeiros rumores envolvendo a contratação de Carlo Ancelotti pela CBF foram divulgados ainda em 2022, depois que Tite deixou o comando técnico da seleção brasileira após o término da Copa do Mundo, conforme já estava estipulado.
Sem a definição, Ednaldo Rodrigues, então presidente da entidade máxima do futebol nacional, definiu Ramon Menezes, ex-jogador que fez história por Vasco e Vitória, como o treinador interino.
Os boatos sobre a possível vinda do italiano aqueceram de vez em março de 2023, quando o dirigente comentou sobre o caso, e os brasileiros que atuam no Real Madrid, então comandado por Ancelotti, brincaram com a possibilidade.
Frustração e reviravolta
Em maio do mesmo ano, veio a primeira frustração brasileira em relação à negociação: a confirmação de sua permanência no Real Madrid.
Mesmo após a derrota acachapante para o Manchester City na semifinal da Liga dos Campeões da Europa, Florentino Pérez, presidente merengue, confirmou sua manutenção para a temporada seguinte.
No entanto, tudo mudou em junho, quando, durante o amistoso da Seleção contra Guiné, Luis Roberto, narrador da TV Globo, divulgou durante a transmissão da partida que a CBF já dava a contratação de Ancelotti como certa.
No mês seguinte, tudo se tornou "oficial". Por meio de um vídeo, Ednaldo Rodrigues confirmou a contratação de Fernando Diniz como interino, até a chegada em definitivo de Carlo Ancelotti, que aconteceria em junho de 2024, antes da disputa da Copa América.
Irritação
Sem nada formalmente acordado com a CBF, Ancelotti ficou irritado com o anúncio feito pelo presidente Ednaldo Rodrigues. Durante a pré-temporada do Real Madrid realizada nos Estados Unidos, o treinador respondeu uma pergunta sobre a Seleção.
"Eu nunca vou falar sobre o Brasil. Sou técnico do Real Madrid e vou ficar. Não vou mais falar sobre esse assunto", disse o italiano em entrevista coletiva dada em julho de 2023.
Meses depois, o assuntou voltou à tona quando Ancelotti foi vítima de uma gafe: a "revelação" de seu acordo com a CBF durante um evento que homenageou o treinador.
Paolo Andrei, reitor da Universidade de Parma, na Itália, acabou revelando que profissional assumiria o Brasil durante uma premiação nesta semana. O técnico recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Ciências e Técnicas de Atividades Motoras Preventivas e Adaptadas.
Quando retornou ao Real Madrid, Ancelotti despistou sobre o assunto, falando que eram apenas rumores e que tudo seria esclarecido em breve.
"É tudo uma questão de rumores, especulações (acordo com a CBF)… Me sinto muito bem no Real Madrid do jeito que as coisas estão. Começamos a nossa temporada de forma excelente e esperamos continuar no mesmo nível", revelou.
"Fico com a emoção e o entusiasmo do evento, regressando à Parma, onde tudo começou. Há muitos rumores, mas penso que tudo será esclarecido em breve", afirmou.
Fim do sonho?
Em dezembro de 2023, Ancelotti frustrou Ednaldo Rodrigues, que havia sido destituído do cargo, e o Brasil ao assinar sua renovação com o Real Madrid. O novo contrato do treinador era válido até 2026.
Em entrevista dada após a extensão de seu vínculo, o italiano revelou que havia conversado com o presidente da CBF, mas, que sua vontade de permanecer no clube espanhol era maior.
"A realidade é a que todo mundo sabe, o Real Madrid também, que eu tive contato com o presidente naquele período, que era o Ednaldo Rodrigues. Quero agradecê-lo porque me demonstrou carinho e interesse para que eu treinasse a seleção brasileira. Me deixou muito honrado, mas dependia da minha situação no Real Madrid. Que isso fique claro para todos. Nos últimos meses, aconteceu que o Ednaldo não é mais presidente da confederação. No fim das contas, as coisas foram como queria, que era continuar aqui", disse Ancelotti, em coletiva de imprensa.
"Ser técnico da Seleção é um grande sonho, mas não sei se em 2026 o Brasil vai me querer. Não sei se estão contentes com a minha decisão", completou Carletto.
Mesmo sofrendo com um elenco repleto de lesões, Ancelotti conseguiu liderar o Real Madrid para a sua 15ª conquista da Liga dos Campeões da Europa em junho, quando a equipe derrotou o Borussia Dortmund na grande final.
Ressurgimento do sonho
Além manter o elenco que venceu a Champions League, o time merengue adicionou um dos melhores jogadores do planeta na janela de transferências: Kylian Mbappé.
Apesar da chegada do astro francês, que havia feito história no PSG, a temporada de 2024/25 do Real Madrid não foi nada boa. Vini Jr. viu seu desempenho despencar após não conquistar a Bola de Ouro, Jude Bellingham sofreu com lesões e não conseguiu repetir o nível exibido anteriormente. Treinador da equipe, Ancelotti passou a ser muito criticado pelas performances ruins.
No mesmo período, Dorival Júnior, que havia sido contratado para o lugar de Fernando Diniz na seleção brasileira, era muito pressionado. Sob o comando do experiente técnico, o time canarinho caiu nas quartas de final da Copa América e não tinha um bom desempenho nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.
Após uma vexatória derrota para a Argentina no Monumental de Núñez por 4 a 1, Dorival não resistiu a pressão e foi demitido. Assim, a CBF voltava a buscar um treinador para levar o país ao Mundial, e, novamente, tinha Ancelotti no topo de sua lista.
Saída do Real Madrid e acerto com a Seleção
Pouco depois da demissão de Dorival, Ancelotti viu sua situação ficar muito complicada no Real Madrid após a eliminação nas quartas de final da Champions League para o Arsenal, em abril deste ano.
O treinador, que sempre falou em cumprir o contrato e em confiança extrema dos diretores, passou citar o final da temporada, um ano antes do término de seu vínculo, como um momento para a discussão sobre o seu futuro no time. No Brasil, o italiano seguia sendo apontado como o favorito para assumir a Seleção.
Em maio, Ednaldo Rodrigues, novamente na presidência da CBF, voltou a anunciar a contratação de Ancelotti. Poucos dias depois, antes da última rodada do Campeonato Espanhol, Carlo Ancelotti revelou, em entrevista coletiva, que estava deixando o Real Madrid com o término da temporada.
Apresentação e primeira convocação
Poucos dias após se despedir do Real Madrid, Ancelotti viajou ao Rio de Janeiro, onde foi oficialmente apresentado como treinador da seleção brasileira, divulgou sua primeira convocação no cargo e falou com a imprensa.
Durante o evento, o italiano afirmou que comandar o time canarinho era motivo de um enorme orgulho, e citou sua relação com o futebol do país durante sua extensa carreira.
"Minhas primeiras impressões são muito bonitas. É uma honra, um grande orgulho comandar a Seleção, que é a melhor do mundo. Eu tenho um grande trabalho para fazer com que Brasil volte a ser campeão, vamos juntos. Precisamos de todos vocês. Eu fui recebido com muito carinho. Estou muito contente, animado e acho que vamos fazer um grande trabalho. Agradeço à CBF por me trazer aqui e ao Real Madrid por me dar essa oportunidade. O desafio é muito grande", revelou Carlo.
"Minha conexão com o Brasil começou muito cedo, nos anos 1980, com Cerezo, Falcão (companheiros de Roma)... Depois, com os anos, eu treinei 34 jogadores brasileiros. Mencionar todos eles, eu posso fazer, porque eu tenho boa memória, mas eu acho que é uma falta de respeito com um possível esquecimento. Mas os melhores: Ronaldo, Rivaldo, Kaká, Marcelo, Douglas Costa, Cafu, Dida, Emerson. Não posso esquecer Endrick, Rodrygo, Militão. Pela primeira vez, venho ao Rio. É algo difícil, porque eu estive em todas as cidades do mundo, faltava o Rio. Eu quero aproveitar desta cidade", afirmou Ancelotti.
A maior polêmica da primeira convocação de Carletto na Seleção foi a ausência de Neymar. Na coletiva, o treinador explicou o motivo de não ter chamado o jogador santista.
"Nesta convocação, tentei selecionar jogadores que estão bem. Neymar teve uma lesão há pouco tempo. Todos sabem que ele é um jogador muito importante, sempre foi e sempre será. Infelizmente, atualmente temos muitos jogadores que sofrem lesões e que não podem estar na Seleção. O que eu quero dizer é que o Brasil tem muitos jogadores talentosos e logicamente, no caso específico de Neymar, contamos com ele. Ele voltou ao Brasil para jogar para se preparar bem para a Copa do Mundo. Eu falei com ele nesta manhã e ele está totalmente de acordo (com a decisão)", revelou o técnico.
Estreia e presente de aniversário
No dia 5 de junho, Ancelotti fez sua estreia na seleção brasileira no Estádio Atahualpa, na atitude de 2.850 m de Quito, diante do Equador. Com poucos treinos, o time não conseguiu criar muitas chances, mas foi sólido defensivamente, resultando em um empate sem gols.
Em entrevista coletiva dada após o duelo, Carletto elogiou o sistema defensivo de sua equipe, mas assumiu a falta de brilho no ataque.
"Foi uma partida muito boa a nível defensivo, vi a equipe melhor com a bola, com um jogo um pouco mais fluído. No final, foi um bom empate e saímos satisfeitos, com confiança para o próximo jogo", disse o treinador.
"Faltou um pouco de ataque. O Equador defendeu bem, não foi tão simples achar espaço entrelinhas, dificuldade na saída, nem sempre tivemos a bola limpa no último terço. Não quero colocar desculpas, mas não foi tão simples de se jogar nestas condições", pontuou o comandante.
No jogo seguinte, diante do Paraguai, Carlo Ancelotti, que comemorava 66 anos de idade, recebeu um grande presente na Neo Química Arena, em São Paulo: a classificação à Copa do Mundo.
Na capital paulista, o time canarinho teve uma atuação sólida, e, com um gol marcado por Vinicius Júnior, derrotou a Albirroja por 1 a 0, confirmando a vaga ao Mundial.
Preparação para a Copa
Após a vitória sobre o Paraguai, Carlo Ancelotti iniciou oficialmente a preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2026, que será disputada na América do Norte.
Os dois últimos compromissos pelas Eliminatórias foram contra Chile e Bolívia. No Maracanã, Estêvão liderou a Seleção para uma tranquila vitória por 3 a 0. Já na altitude de El Alto, uma equipe alternativa foi derrotada por 1 a 0.
No mês seguinte, o Brasil fez seus primeiros amistosos sob o comando de Ancelotti, contra Coreia do Sul e Japão.
No primeiro jogo, em Seul, veio a melhor atuação da Seleção com o italiano no banco de reservas: um convincente 5 a 0.
Em seguida, a pior performance da "era Ancelotti". Em Tóquio, o Brasil abriu 2 a 0 sobre os mandantes com um grande primeiro tempo. No entanto, na segunda etapa, uma junção de falhas individuais geraram a virada e a vitória inédita dos nipônicos.
O time canarinho fechou o ano contra duas seleções africanas: Senegal e Tunísia. Contra os Leões da Teranga, um triunfo confortável, por 2 a 0. Já contra os tunisianos, a questão física pesou, fazendo com que o duelo terminasse em 1 a 1.
Até a Copa do Mundo, o Brasil fará mais quatro amistosos. Dois deles acontecerão em março e já possuem os rivais definidos: França e Croácia. Os jogos serão realizados nos Estados Unidos.
Já os dois últimos serão disputados com a convocação do Mundial, pouco antes do início do torneio. Os adversários ainda não foram oficialmente divulgados.