
Augusto Melo, atual presidente do Corinthians, deu uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (16), para apresentar quatro novos diretores do clube. Após algumas perguntas sobre a chegada dos gestores, Ricardo Cury, advogado pessoal do mandatário, se pronunciou sobre a investigação da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro, que apontou uma ligação entre dirigentes do time e o crime organizado durante o contrato com a "Vai de Bet".
"O inquérito policial tramita em segredo de Justiça. Óbvio que a gente acompanha alguns vazamentos seletivos. Isso foi motivo de diálogo entre a defesa e o delegado. Fizemos a petição. Há também a estratégia de defesa do presidente. Existem coisas que estão judicializadas. Existem recursos que foram oferecidos e não foram analisados", iniciou Ricardo Cury, advogado de Augusto Melo.
"Depois do depoimento do presidente, tomamos algumas condutas. O presidente abriu mão de todo o sigilo dele, bancário e todos os demais sigilos. O delegado, em um primeiro momento, disse que apenas o sigilo bancário era suficiente", completou o profissional.
Após abrir sua participação, Ricardo comentou o vazamento de um relatório que liga o Corinthians com a UJ Football, empresa responsável por agenciar jogadores e conectada com o crime organizado.
"(O dinheiro) saiu do Corinthians, passou por algumas empresas e chegou na tal empresa, a UJ, que segundo o relatório da Polícia, é onde o dinheiro está aplicado. O dinheiro está em uma conta poupança. Eles seguiram o dinheiro e acharam. Uma coisa que achamos positivo é que apareceram novas pessoas, que ainda não foram ouvidas. A Polícia tem a tarefa de ouvir. Temos a dúvida se a investigação vai seguir ou se o delegado encerrará o inquérito. A ideia é de que isso seja uma oportunidade para que a gente investigue o Corinthians e todo o futebol brasileiro", revelou o advogado.
Posteriormente, Cury falou sobre o envolvimento de pessoas que representam o clube paulista com pessoas citadas nas investigações das autoridades oficiais.
"São vários nomes, alguns de pessoas físicas outros de empresas. O que não posso dizer é que não tenha ali ninguém do Corinthians. São pessoas de fora, a Polícia talvez queira conhecer o fluxo. O que aparece no relatório é de que o dinheiro está lá. Aparentemente, está investido. É um trabalho muito bem feito", comentou o advogado.
Durante a entrevista, Ricardo afirmou que Augusto não será indiciado nas investigações.
"A defesa tem muita segurança e tranqulidade que o presidente Augusto não será indiciado. Não há elementos para que ele seja indiciado... Nesse caso da Vai de Bet, não há nenhuma ação ilegal do presidente Augusto. Juntamos uma série de ações do presidente Augusto. O início do caso "Vai de Bet" é a matéria do Juca Kfouri. A defesa juntou toda a documentação do inquérito. Várias coisas acontecem até a abertura do inquérito", falou o profissional.
Augusto Melo afirmou estar surpreso com o início da apuração policial sobre possíveis irregularidades no contrato com a casa de apostas.
"Para mim, foi uma surpresa enorme. Segui meu trâmite. Sou o primeiro a fazer uma proposta e o último a assinar. Minha área é administrativa e comercial. Quando a assinatura chega em mim, é porque o contrato foi aceito por todos os departamentos competentes. Fui o primeiro a falar: vai explodir? Que exploda! Se tem algo errado, procurem a Justiça", pontuou o presidente.
Veja abaixo outros temas tratados durante a entrevista coletiva:
Possibilidade de um impeachment
"Desde o primeiro dia, (os opositores) falam que vou cair. Eles são corintianos? O Corinthians estava em uma situação pior, o corintiano está sorrindo, o clube é protagonista, o clube terá conquistas não só em campo, mas também financeiramente", disse Augusto.
Além do atual presidente, Ricardo Jorge, novo diretor administrativo do Alvinegro, afirmou que a tentativa de afastar o mandatário do cargo é política.
"O processo de impeachment é político. A nossa constituição é clara: "ninguém será culpado sem trânsito em julgado". Ainda que o presidente fosse indiciado, seria uma aberração jurídica tirá-lo do cargo. A nossa lei maior, a constituição federal, preserva a presunção de inocência... Augusto foi eleito democraticamente e não consegue trabalhar por conta do grupo A, B ou C", afirmou Ricardo Jorge.
Dívida de mais de R$ 2 bilhões
"Não é minha, não vou assumir. O meu trabalho foi trazer receitas, equilibrar as finanças. Arrecadamos R$ 1 bilhões. Vamos nos igualar ao outro clube, chegar a R$ 1,3 bilhões. Estamos trabalhando para colocar o Corinthians no maior patamar do futebol brasileiro... Não vou aceitar essa dívida, jogaram na imprensa uma dívida monstruosa. Contratei Messi e Cristiano Ronaldo, e não estou sabendo? Hoje, os nossos credores sorriem e agradecem porque sabem que vão receber", pontuou Augusto Melo.
"Sempre deixei isso claro, não errei. Está provado. Se eu precisar abrir uma sindicância policial, eu o farei. O torcedor tem a oportunidade de entender como foram feitos esses R$ 2 bilhões de dívida", completou o presidente.
Novos reforços?
"Temos um time competitivo, e eu não vou medir esforços pra melhorá-lo nesta janela. O que minha comissão pedir, eu vou trabalhar pra buscar. Ano passado prometi quatro peças, acabei trazendo nove. Graças a um grande projeto de reformulação no CIFUT, a gente quase não erra hoje. Buscamos o jogador pontual. A tendência é acertar cada vez mais", revelou o mandatário.
Responsabilidade no contrato com a Vai de Bet
"Toda negociação tem um jurídico do meu lado. Todas as minhas negociações são feitas com os presidentes das empresas. Entrego ao jurídico, marketing, financeiro e junto com o administrativo... Os intermediários que receberam dinheiro do Corinthians e gastaram em situações complicadas, eu que sou o responsável? Nunca falo com ninguém sozinho", comentou Augusto.
Entenda o caso Vai de Bet
As investigações da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro promoveram diversas quebras de sigilos bancários, por meio das quais foi possível identificar as contas por onde passou o valor de R$ 1,4 milhão, que foi pago de maneira ilegal, como uma forma de comissão, na época.
O valor, que saiu de uma conta do Corinthians, trilhou diversos destinos bancários, até chegar a uma conta delatada pelo empresário Vinícius Gritzbach ao Ministério Público. Vale lembrar que Vinicius foi executado no aeroporto internacional de Guarulhos, em plena luz do dia, a mando do crime organizado, em novembro de 2024.
Um Relatório Técnico de Análise de Dados Financeiros e Bancários revelou que tal desvio (R$ 1,4 milhão) foi feito em duas parcelas de R$ 700 mil cada, em março do ano passado.
O valor foi recebido em contas bancárias da empresa Rede Social Media Design, de Alex Cassundé, um dos apoiadores de Augusto Melo na época das eleições do Clube do Parque São Jorge.
Em seguida, parte da quantia foi transferida pela empresa de Cassundé até a Neoway Soluções Integradas, em dois repasses de R$ 580 mil e R$ 462 mil.
A Neoway é uma organização apontada como fictícia. Ela estava registrada como posse de uma jovem de 23 anos, moradora de Peruíbe, litoral de São Paulo, que teve o nome usado como "laranja" nas operações.
A empresa fantasma chegou a fazer também transferências de altas cifras: R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas, que por sua vez, repassou novamente os valores, em três transferências que somaram R$ 874.150 para a UJ Football Talent Intermediação.
Esta última companhia chegou a ser citada por Vinícius Gritzbach, como parte do acordo de delação, junto à Promotoria.
Gritzbach declarou à Justiça que a UJ pertencia a Danilo Lima, o "Tripa", que foi investigado pelo sequestro de Vinícius Gritzbach, ocorrido em 2022.
Cabe destacar que para os investigadores, os crimes de furto qualificado e lavagem de dinheiro ficaram evidenciados após a quebra dos sigilos bancários.
Entre em nossa página e veja as principais notícias do esporte no Brasil e no mundo.