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Cabeça de porco em dérbi põe revistas nos estádios em xeque

Clubes e autoridades detalham medidas de fiscalização nos eventos esportivos

Incidente na Neo Química Arena atraiu a atenção das autoridades para a segurança nos estádios
Foto: Foto: Jose Manoel Idalgo / Corinthians
Incidente na Neo Química Arena atraiu a atenção das autoridades para a segurança nos estádios

Os clássicos entre Palmeiras e Corinthians são marcados por intensa rivalidade dentro e fora de campo. Recentemente, às vésperas do dérbi, uma cabeça de porco foi encontrada em frente ao Allianz Parque, estádio do Palmeiras e palco da partida, conforme flagrado pelo jornalista Alex Muller. Esse, no entanto, não foi o primeiro caso.

No clássico de 4 de novembro do ano passado, pelo Campeonato Brasileiro, Corinthians e Palmeiras se enfrentavam na Neo Química Arena quando, ainda no primeiro tempo, o meia Raphael Veiga foi cobrar um escanteio pelo lado esquerdo do ataque e uma cabeça de porco foi arremessada no campo.

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O episódio levantou questionamentos sobre a segurança nos estádios, já que todo torcedor passa por revista policial antes de acessar as arquibancadas. Essa fiscalização em muitos casos é de responsabilidade da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Em resposta ao iG Esporte, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que as revistas são realizadas conforme os Procedimentos Operacionais Padrão (POP) da Polícia Militar para evitar a entrada de objetos proibidos.

“As revistas são realizadas com base nos Procedimentos Operacionais Padrão - POP, da Polícia Militar e visam reduzir ao máximo a possibilidade da entrada de objetos proibidos. Baseado na resolução SSP-122/85, é proibido a entrada de bebidas alcoólicas, substâncias proibidas, fogos de artifícios, armas de fogo ou armas brancas, materiais que possam causar ferimentos e copos ou vasilhames de vidro que possam ser convertidos em armas e causar ferimentos. Sendo constatado um objeto proibido, é requisitado que o mesmo seja descartado pelo portador. Já em caso de ilícito, o portador e o objeto são conduzidos ao plantão de polícia judiciária no estádio para registro e medidas decorrentes”, disse.

A SSP também explicou que a Polícia Militar realiza reuniões antes de cada jogo com órgãos públicos, torcidas e moradores para definir o policiamento nos estádios e arredores, incluindo terminais e estações.

“A Polícia Militar realiza reuniões preparatórias antes de cada jogo com representantes de órgãos públicos, torcidas e moradores. Esse encontro proporciona a criação de um plano de ação visando traçar não só o policiamento nos estádios, mas também no entorno, terminais de ônibus, estações de metrô e demais áreas. Esse planejamento também leva em conta operações já realizadas, visando aprimorar o serviço prestado. O policiamento é reforçado, por meio do Comando de Policiamento de Choque e Comando de Policiamento da Capital”, completou a SSP.

Torcedor arremessou cabeça de porco antes do clássico na Neo Química Arena
Foto: Foto: Reprodução
Torcedor arremessou cabeça de porco antes do clássico na Neo Química Arena


Posicionamento dos clubes de São Paulo

O iG Esporte procurou o clube para entender o nível de preocupação das principais equipes de São Paulo.

Corinthians:

De acordo com informações obtidas com o clube, nos jogos do Corinthians como mandante, a revista dos torcedores nos setores destinados às organizadas e à torcida visitante fica sob responsabilidade da Polícia Militar. Nos demais setores, o procedimento é realizado por uma empresa de segurança privada com a PM acompanhando.

Já na Fazendinha, onde são disputadas partidas das categorias de base e do time feminino, o próprio clube assume a revista, enquanto a PM atua apenas com apoio operacional, intervindo em casos de conflito ou questões relacionadas a bandeiras e instrumentos.

São Paulo

O São Paulo não enviou uma nota oficial, mas informou que todas as revistas no Morumbis são realizadas pela Polícia Militar, enquanto, nas categorias de base, os procedimentos no CT de Cotia ficam a cargo de seguranças particulares.

Palmeiras:

“Nos jogos do Palmeiras como mandante, a Polícia Militar faz as revistas dos torcedores no setor reservado às organizadas e no setor visitante. Nos demais setores, a revista é feita por uma empresa de segurança”.

Santos:

“Desde 2019, a revista nos jogos da equipe profissional masculina, com mando do Santos FC, é feita por uma empresa terceirizada, com exceção dos portões por onde entram as torcidas organizadas e da torcida visitante, que é feita pela Polícia Militar.

Nos jogos do profissional feminino, categoria de base feminina e masculina, com mando do Santos FC, é feita 100% por empresa terceirizada, com apoio da PM”.

A Portuguesa também foi procurada para detalhar o sistema dos acessos dos torcedores ao estádio, mas até o fechamento desta matéria, o iG Esporte não obteve resposta.

Planejamento a longo prazo

Ailton Alfredo de Souza, juiz aposentado do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) e fundador do Juizado do Torcedor, destacou a importância de um planejamento de segurança a longo prazo, mais amplo do que apenas ações pontuais da polícia no dia do jogo. Segundo ele, os procedimentos relacionados à segurança nos estádios devem ser parte de um projeto de segurança mais abrangente, que envolva diversas secretarias e medidas preventivas.

“Veja bem, esses procedimentos pontuais da polícia com relação a esse acesso aos estádios, à revista e etc., isso deve ter sido fruto de um longo trabalho que a polícia vem fazendo ou deve estar dentro de um contexto geral, um projeto de segurança, porque se for assim um ato isolado, ou seja, está se tratando apenas da atividade policial e da atividade dos terceirizados, ou seja, da empresa privada. Isso é muito comum lá fora, né, na parte interna do estádio, os torcedores serem revistados por empresas privadas e só quando aquilo tem realmente um potencial de conflito maior, como no caso das chamadas organizadas ou dos hooligans, é que requer a força policial. Mas o que a gente defende mesmo é um plano, o plano de segurança e contingência, que não é só uma questão policial. A questão policial é pontual, talvez mais relevante, mas a prática é maior, porque a gente vê mais ostensivamente a presença da polícia, mas o que eu digo é que a gente tem cuidado desse tema. Não é só no dia do jogo, como se a segurança tivesse que ser feita no dia do jogo e não antes, com diversas medidas, diversas secretarias atuando, inclusive para o aspecto preventivo”, disse.

Ailton Alfredo também enfatizou que o foco não deve estar apenas na presença policial ou na atuação de empresas privadas, mas sim na eficácia das ações e nos resultados alcançados.

“Então, a gente é muito reativo, o que eu tenho dito direto, estou dando uma palestra essa semana aqui exatamente sobre isso. Para além da indignação e da reatividade, é muito reativo o estado, por isso que é só no dia do jogo querer fazer segurança. Mais ou menos isso. Então, em resumo, se é pela polícia, se é pela empresa privada, o que é importante é o resultado, se está sendo bom, se está sendo ruim, se está atingindo o objetivo. Na Inglaterra, em outros países, essa parte interna sempre é da empresa privada, mas lá eles conseguiram desenvolver um plano de segurança de longo tempo, não é coisa de uma operação isolada. Então, vai depender muito do plano de segurança aí de São Paulo, se está dando certo ou não”, completou.

Torcedor identificado na Neo Química Arena

O torcedor Osni Fernando Luiz, conhecido como “Cicatriz”, foi identificado e prestou depoimento. Após a conclusão do inquérito, o caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim), responsável pela conciliação, julgamento e execução de infrações de menor potencial ofensivo.

“Em relação ao caso ocorrido no ano passado, um torcedor, envolvido na ação, foi identificado e prestou depoimento na unidade policial. A autoridade solicitou à Justiça a medida cautelar de afastamento dos estádios para o suspeito. O inquérito foi concluído e encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim) em 6 de novembro de 2024”, disse a SSP.

Em contato com o iG Esporte, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo informou que o Ministério Público ofereceu denúncia e que o processo está em andamento. A audiência de instrução, conhecida como “prova oral”, foi marcada para o dia 3 de abril, às 15h.


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