A movimentação na Vila Belmiro , principal palco da vida de Pelé como jogador, ainda era tímida nesta sexta-feira, dia seguinte à morte do Rei do Futebol . Torcedores, curiosos, admiradores e jornalistas, inclusive estrangeiros, faziam uma espécie de vigília em torno do templo sagrado do futebol em Santos .
O clima levemente frio e, principalmente, chuvoso não ajudou. Mesmo assim, o barbeiro do rei, Didi, atendia seus clientes e posava para fotos dos jornalistas. As mãos, já não tão hábeis como antigamente, manipulavam a tesoura de forma devagar. A verdade é que Didi parecia distante, nem poderia ser diferente, foram anos cortando o cabelo da pessoa mais importante do Brasil. Um corte com Didi custa R$ 40, na tesoura e navalha, sem máquina.
Ao seu lado, o bar mais santista do mundo está repleto de torcedores que vieram se despedir do Rei, mesmo que ausente. Enquanto alguns tomam uma cerveja, outros passam apenas em busca de algum conforto. Quem eles gostariam de ver, ainda não está lá.
Repórteres da Al Jazeera, da estatal chinesa CCTV, da França e do Brasil dividem espaço ao redor de uma Vila um tanto triste.
“Pelé inventou o Santos”, diz dono de bar símbolo da Vila
Líder de uma das principais organizadas do Santos, Alberto Francisco de Oliveira Júnior, o Alemão, é um torcedor bastante conhecido na cidade. O amor ao clube está marcado na pele, impossível de não notar. Tatuagens nos braços não são tão incomuns, mas Alemão fez diferente e tem seu amor gravado na testa.
“Muito triste, não queria fazer parte deste dia tão triste para o Santos. Para mim, o Pelé que inventou o Santos, um dos maiores times do Brasil", diz.
Alemão diz que gosta de lembrar de quando o Rei vinha para bater papo no bar e encantava os clientes não apenas pela presença, mas também por sua humildade.
“Vi poucos jogos do Pelé, estou há 50 anos no Santos, ele vinha no meu bar várias vezes. Eu vou sentir saudade da simplicidade dele, vinha disfarçado, com gorro velho, chapeuzinho, cumprimentava todo mundo, dava risada com todos, parava aqui e no Didi, ficava lá contando história para todos, acho que mais de 50 mil pessoas devem vir”, afirma Alemão.
Turistas prestam homenagem final
De um cruzeiro que está a caminho do Rio de Janeiro para o Réveillon, o pernambucano Francisco de Paula aproveitou a parada em Santos para visitar a Vila e se sentir mais próximo do Rei.
Ao lado da esposa, ele visitou o estádio do Santos. “Estou viajando pelo litoral brasileiro, chegamos ontem e hoje viemos fazer uma visita, prestar última homenagem ao nosso eterno rei. Bem nessa data tão significativa. Amanhã vamos pra Ilhabela e depois para o Réveillon no Rio de Janeiro”.
Loja oficial tem aumento no movimento
A movimentação em frente à loja oficial do clube segue intensa. O clube não informa oficialmente os números, mas é possível confirmar com vendedores que as camisas do Rei estão em alta.
Inclusive, uma fonte garantiu que um novo lote da camisa comemorativa deve chegar na segunda-feira. O museu do clube, no entanto, fechou após a morte de Pelé e seguirá fechado nos próximos dias.
Cemitério Vertical e vista para a Vila
Não muito longe do estádio do Santos, a menos de cinco minutos de caminhada, o Memorial Necrópole Ecumênica foi o lugar escolhido por Pelé para o seu descanso.
Cercado pela serra, o lugar foi considerado o cemitério mais alto do mundo pelo Guinness Book em 1991. Por preservar um pedaço da mata Atlântica, tucanos, araras e um pavão podem ser vistos do lado de fora do complexo.
Ainda não há movimentação de repórteres e, segundo os funcionários, a família ainda não procurou a administração para falar sobre o local escolhido por Pelé. Em matérias antigas, Pelé dizia ter escolhido um espaço no nono andar em razão da camisa 9 de seu pai. Ainda segundo ele, de lá era possível ver a Vila Belmiro.
O corpo de Pelé deve chegar ao estádio para o velório na segunda-feira . O público poderá passar pelo local das 10h de segunda até as 10h de terça-feira. De lá, um cortejo deverá passar pela casa da mãe de Pelé e terminar no cemitério vertical.
Museu Pelé tem 10x mais visitantes
Inaugurado em junho de 2014, pouco antes da Copa do Mundo do Brasil, o Museu Pelé ocupa mais de 4 mil metros quadrados dos Casarões do Valongo, que foram construídos no século 19.
Segundo os funcionários do Museu, o movimento aumentou desde a notícia da morte do rei. De 200 visitas diárias, o local passou a receber mais de 2 mil pessoas. Nesta sexta-feira, a abertura foi mais cedo e não deve fechar nos próximos dias, embora seu funcionamento seja de terça a sexta.
Dentro do museu, duas estátuas de Pelé eram as mais procuradas pelos turistas para fotos. Uma delas, em tamanho real, tinha até fila.
Neto de antigo parceiro do Rei fala do carinho pelo ídolo
O empresário Daniel Augusto é neto de Tite, ex-jogador do Santos e que teria dado passe para o primeiro gol de Pelé no clube. Tite é o décimo maior goleador da história do Santos e chegou ao clube antes do Rei.
“Pelé queria concentrar com ele porque queria aprender a tocar violão, meu avô tocava, foi muito amigo do Pelé”, diz Daniel. “Ele foi o primeiro jogador da história do Santos a ser velado aqui, viveu a vida inteira aqui, era conhecido como ‘Craque Cantor’, montou um bar e viveu disso”, conta.