Ketlen Wiggers é a maior artilheira do Santos feminino
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Ketlen Wiggers é a maior artilheira do Santos feminino

Maior artilheira da história do Santos feminino, Ketlen Wiggers, de 30 anos, quebrou muitas barreiras ao longo da carreira para hoje poder ser considerada uma referência no alvinegro praiano.


Os muros do Centro de Treinamento Rei Pelé costumam estampar rostos de alguns dos principais craques da história do clube. E em 2020, a atacante foi a primeira mulher a ser homenageada ao lado de alguns dos heróis do Peixe, após atingir a marca de 100 gols pelo clube.

A artilheira chegou ao Santos em 2007, saiu em 2010 e retornou cinco anos depois para continuar empilhando títulos na carreira e pelo clube. O carinho da torcida se tornou algo comum em seus dias, algo que ela conta em entrevista exclusiva ao iG Esporte.

“Desde novinha eu fui muito abraçada pela torcida, eles sempre me acompanhavam desde quando eu cheguei no Santos e principalmente por eu ter praticamente nascido aqui no centro. Desde os meus quinze anos, quando passei na peneira do Santos e construí toda a minha carreira aqui, foram muitos títulos, muitos gols, então eu tenho um carinho muito grande. As pessoas quando me vêem na rua elas sempre me abraçam, falam coisas boas. A torcida está sempre torcendo por mim e eu sou muito feliz. É um clube muito grande, tem um peso gigantesco. Claro que a gente sente esse peso, porque a camisa do Santos é pesada, então a gente tem uma responsabilidade muito grande, por poder representar essa camisa. Mas eu tento deixar a leveza dentro de campo para poder dar o meu melhor”.

Diferente de contemporâneas da sua geração, Ketlen conta que seu início no futebol feminino em Rio Fortuna, Santa Catarina, foi cercado por muito apoio de amigos e família, algo que não é visto sempre em uma modalidade em que o preconceito ainda é algo marcante. 

“Eu falo que eu tive uma vida totalmente oposta do que muitas meninas falam, sobre preconceito. Eu vim de uma cidade que era muito comum o futebol feminino, tanto que minha mãe jogava e era comum as mulheres mais jogando do que os homens. Então eu sempre recebi muito carinho da minha família, muito apoio, meus irmãos jogavam também, sempre apoiada pelos meus pais para eu poder seguir carreira. A cidade me abraçava aonde eu ia eles me apoiavam sempre. Quando jogava com os amigos dos meus irmãos e eles não gostavam que eu driblava ou passava por eles, meus irmãos sempre me defendiam. Tive o apoio total da minha família, meus pais que conseguiram esse teste para que eu pudesse vim para o Santos, então eu sou grata pela família e pelos amigos que eu sempre tive”. 

Além das adversárias dentro de campo, Ketlen teve que lidar com algo fora: a epilepsia. A jogadora conta que foi alvo de piadas e sofreu muito após o diagnóstico, mas celebra o controle da doençanos últimos anos.

“Eu realmente sofri muito lá no começo, com 18, 19 anos, quando eu descobri a epilepsia porque eu tinha crises, mas eu não sabia o que era, somente saia fora do ar. Então não sabia o que estava acontecendo comigo na época e eu era muito zoada pelas pessoas, até também pelo fato de não saberem o que eu tinha. Estou há seis anos com ela controlada, graças a Deus eu não tive nenhuma crise nesse tempo, mas até controlar a minha crise eu sofri muito. Até na faculdade quando eu apresentava trabalho eu tinha medo né de ir lá na frente e ter uma crise, e em uma dessas vezes eu acabei tendo e fui muito zoada pelos meus colegas de sala. Também ninguém sabia, né? O que estava acontecendo. Mas foi um momento que eu saí da sala e comecei a chorar, não conseguia mais nem voltar. Passei por períodos difíceis, foi uma barreira muito grande que eu superei, mas que graças a Deus eu estou com a epilepsia controlada”. 

Formada em educação física, a atacante abriu o jogo sobre a possibilidade de um dia se tornar uma futura técnica, mas conta que tem outra preferência para o dia que pensar em pendurar as chuteiras. 

"Graças a Deus consegui me formar, porque conciliar a faculdade e o futebol sempre foi muito difícil, mas era o meu principal objetivo conseguir a formação em educação física. Eu realmente não sei no que eu quero trabalhar ainda, mas eu não gostaria de ser técnica, eu acho que é um papel muito difícil. É uma das das principais pessoas, né? Sempre tem que estar fazendo um bom trabalho, tem que estudar muito para estar lá. E não que eu não faça isso, mas eu acho que eu não nasci para isso, para ser técnica. Eu gostaria mais de trabalhar nos bastidores, quem sabe um dia trabalhar aqui dentro do Santos, é um dos objetivos e poder ajudar a equipe feminina a crescer cada vez mais aqui dentro do clube".

Apesar de ser considerada uma das maiores jogadoras do Santos e conquistar títulos pela seleção brasileira de base, Ketlen não teve tantas oportunidades com a amarelinha no time principal. Ela revela que trabalha para estar no radar da técnica Pia Sundhage, e confia em uma chance no futuro.

"É claro que a gente luta para poder estar lá. Trabalho muito para poder voltar a vestir a camisa da seleção. Eu passei por toda a base, sendo preparada para ter a oportunidade na principal. Passei uma vez por lá, mas depois disso eu acabei não retornando. Teve mudanças de técnicos e tudo mais, mas eu acredito que não era o momento certo, não era a minha vez de ir. Quem sabe um dia eu ainda consiga retornar trabalhando firme. É continuar fazendo gols e principalmente ajudando o Santos, um dia todo esse trabalho vai ser recompensado, se Deus quiser. Tenho certeza". 

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